Londres mostra o caminho (not long, nor winding road)
02/06/2011 - 07h04
autor: José Luiz Portella
Estive em Londres para ver de perto políticas de transporte e cobrir a decisão da Copa dos Campeões. No futebol, o Barcelona mostrou o caminho: toque de bola. Isso já foi argentino e já foi brasileiro.
Em 1958, o mundo descobriu o Brasil por conta do futebol. Uma seleção que tinha no toque de bola, comandado por uma geração de craques como Pelé, com 17 anos, Didi, Garrincha, Zito, Nílton Santos e Djalma Santos, bem assessorados por Vavá, Orlando, Bellini, Zagalo, com Gilmar no gol, a grande arma.
O país recuperou-se um tanto do complexo de vira-latas, batizado por Nélson Rodrigues e que nos acompanhou por anos.
Hoje, esse toque de bola já não é o mesmo por aqui. Em Londres 2011, percebeu-se que ele --espero que só por pouco tempo-- atravessou o mar e fez um desembarque triunfante em Barcelona, no maior show da terra.
Mas Londres também mostrou o caminho no transporte. Um caminho britânico nada parecido com "The Long and Winding Road", dos Beatles. Curto e direto. Três experiências que São Paulo e outras capitais do Brasil podem absorver sem grandes dificuldades.
Ruas do centro com tráfego permitido só para transporte coletivo, priorizando, de fato, o transporte público. A única exceção é o táxi.
Uma região da cidade destacada para não ter poluição, uma área central onde os londrinos mais frequentam, chamada de Low Emission Zone, que foi implantada em 2008, e, agora, terá níveis mais rigorosos de controle a partir de janeiro de 2012, ano olímpico. Lá só podem entrar veículos com motores de energia limpa ou de baixa emissão de carbono. Esses motores já saem de fábrica com padrão estabelecido pela Comunidade Européia. Quem estiver acima dos padrões, paga caro.
Stefan Wermuth - 31.mar.2011/Reuters | ||
Prefeito de Londres, Boris Johnson, e Arnold Schwarzenegger andam de bicicleta em ciclovia inaugurada na capital britânica |
A terceira é o meio de transporte sugerido oficialmente para se chegar ao Parque Olímpico. Não é o metrô, apesar das linhas para West Ham. É a bicicleta, em mais uma demonstração de que esse modal cada vez mais se impõe nas grandes metrópoles; não só como meio não poluidor, mas, também, como forma mais prazerosa e humana de se curtir a cidade.
A bicicleta faz ver o que há em volta. Pedalando, o cidadão desfruta o que a cidade tem de bom, em vez de acelerar velozmente, aguçando um ritmo de vida corrosivo e nada saudável.
Em construção, ciclovias para se chegar ao Parque Olímpico. Lá dentro há todo um sistema prioritário, inclusive separado do pedestre, para bicicletas. Para se mover de um ginásio a outro, vai-se de bike.
Londres não tem tudo perfeito. Sofre várias tensões naturais das grandes cidades. E, às vezes, apanha. Embora exceções, há calçadas sujas e em mau estado, além de outros problemas. Mas não se rende. A cidade tem uma filosofia: resistir às agressões.
Como os ingleses fizeram estoicamente contra Hitler, Londres enfrenta, de cabeça erguida, os bombardeios do mundo moderno. A filosofia: é respeito ao cidadão.
Do nosso jeito, deveríamos fazer o mesmo.