24/06/2011 05h44 - Atualizado em 24/06/2011 08h57
Cinzas de vulcão serão transformadas em tijolos na Patagônia argentina
Cidade turística quer aproveitar material expelido por vulcão Puyehue, a 50 km de distância.
As cinzas do vulcão chileno Puyehue poderão ser transformadas em tijolos na cidade turística de Villa La Angostura, na Patagônia argentina, disse à BBC Brasil o secretário de Obras Públicas e Serviços Públicos da localidade, Gabriel Fachado.
Tijolo feito a partir de cinzas de vulcão (Foto: Jornal Página 12)
'Temos material de sobra para fazer tijolos, tubulações, poços de água e asfalto. Acrescentamos às cinzas um pouco de cimento e o resultado é um bloco perfeito para a construção', afirmou o arquiteto.
Segundo ele, os tijolos serão usados inicialmente para a construção de casas populares, mas também serão úteis para outros modelos de casas e de hotéis.
'Vila La Angostura está construída sobre solo vulcânico, mas jamais tivemos tamanha quantidade deste material e por todos os lados da nossa cidade', disse.
Para ele, é preciso 'aproveitar' o material expelido pelo vulcão que está a quarenta quilômetros da cidade e é frequentada principalmente por turistas de classes altas no verão e no inverno.
De acordo com estimativas da Defesa Civil local, Villa La Angostura acumula cerca de cinco milhões de metros cúbicos de cinzas, o suficiente, disseram, para encher as caçambas de 'um milhão de caminhões'.
Nesta quinta-feira, as cinzas voltaram a cair na cidade onde tetos, piscinas, lagos, ruas e bosques estão cobertos com os resíduos vulcânicos.
'No início foi uma areia e depois cinza. Nos lagos também flutuam grandes pedras vulcânicas, espécie de blocos inteiros', afirmaram na Defesa Civil.
Utilidade
O governo local, com apoio do governo da província de Neuquén e da Argentina, contou Fachado, entenderam que este material 'deve ser transformado em algo útil para a comunidade'.
Ele afirmou que a ideia é exportar o tijolo de cinzas para outras localidades de Neuquén e depois, 'quem sabe', para outras províncias argentinas.
Fachado disse que trinta e duas famílias já se inscreveram para formar uma cooperativa especializada na fabricação deste material de construção.
'Com estas cinzas, vamos gerar mão de obra para os que estão desempregados', disse.
O diretor de Meio Ambiente de Villa La Angostura, Daniel Meier, disse que outra proposta que está sendo discutida no local é usar a areia para fazer 'praias' em torno dos principais lagos da cidade.
'Não seremos o Rio de Janeiro, mas vamos acrescentar mais uma atração ao nosso turismo, que é realmente a nossa principal fonte de renda', disse à BBC Brasil.
Ele disse que várias toneladas das cinzas já foram levadas para diferentes galpões na cidade, mas que ainda há 'outras milhares de toneladas' acumuladas nas ruas e nos quintais dos moradores.
'Estamos realizando análises permanentes e comprovamos que as cinzas não são tóxicas. Mas temos que usar óculos e máscaras porque é como se estivéssemos respirando pó ou areia da praia o tempo inteiro', disse.
Transtornos
Villa La Angostura possui quinze mil habitantes e desde que o vulcão entrou em erupção, no dia quatro de junho, muitos ficaram sem luz e água porque o peso das cinzas afetou os fios de alta tensão.
Nesta quinta-feira, segundo a Defesa Civil local, 75% da população já tinham luz, mas as cinzas voltaram a cair e a única certeza, disseram Fachado e Meier, é que a temporada de inverno será afetada.
'Pedras de vulcão também caíram nas estações de esqui e temos medo de uma avalanche. Mas com tijolos e outros projetos com estas cinzas vamos superar esta etapa e ficar prontos para a temporada de verão', disse Meier.
Antes, disse, é preciso 'sair do atual estado de emergência' na qual a localidade oficialmente se encontra.