sábado, 2 de abril de 2011

José Alencar: um brasileiro exemplar que praticava a sustentabilidade

José Alencar: um brasileiro exemplar que praticava a sustentabilidade


quinta-feira, 31 de março de 2011



 

Poucas trajetórias de vida emocionaram tanto os brasileiros como a de José Alencar Gomes da Silva. Aparentemente, trata-se de um cidadão comum que, vindo de uma família humilde, lutou e construiu um dos maiores grupos econômicos do país. Este feito, embora impressionante, por si não explica por que todo mundo que o conhecia “se apaixonava” por ele.



Qual o segredo deste mineiro da zona da Mata que teve papel fundamental para a construção do Brasil que temos hoje?



Vamos tentar desvendá-lo ou, ao menos, dar alguns contornos de nitidez, levando em conta as dimensões da sustentabilidade. E antes que digam que esse Ethos “tá forçando a barra”, vou logo explicando: José Alencar viveu de acordo com um ensinamento de seu pai, segundo quem o mais importante, na vida, é poder voltar. E só volta quem põe a ética, a lealdade e o compromisso como guias de sua conduta pela vida.



A estes valores, José Alencar ainda agregou a solidariedade, a determinação e, no fim, a resignação sem revolta para encarar as situações difíceis.



Mineiro que era, José Alencar Gomes da Silva não gostaria de ser tratado como “exemplo”. Mas, é assim, como grande exemplo positivo do Brasil que ele ficará na memória de milhões de concidadãos que hoje estão tristes com seu falecimento.



José Alencar é exemplo de nacionalismo moderno, pois era ferrenho defensor da indústria brasileira. Sempre foi uma voz contra os juros altos e a favor de uma política econômica que valorizasse o setor produtivo e, com isso, o trabalho, por ser este último o verdadeiro motor de um desenvolvimento sustentado e sustentável, com distribuição de renda e riqueza. Lutava pelos interesses nacionais sem esquecer que era preciso que o Brasil se articulasse com uma economia cada vez mais globalizada. Por isso, quando esteve à frente da Fiemg, tratou de conscientizar os empresários a respeito das novas responsabilidades do setor frente às novas demandas sociais, ambientais e de mercado impostas pela conjuntura, lançando as bases do que depois seria o movimento pela responsabilidade social empresarial em Minas. Fez isso deixando de lado possíveis interesses concorrenciais e, assim, ganhando respeito e credibilidade ainda maiores.



Como homem público, não foi transformado pela política. Ao contrário, foi ele quem a transformou. Pôs em primeiro plano a lealdade, o sentido de compromisso, a conduta ética e a transparência de opiniões e ações. Não abandonou o presidente Lula e, nunca, nos 503 dias em que ocupou a presidência da República, fez declarações ou tomou medidas que pudessem questionar a maneira de gerir o país. Alencar sempre deixou claro que era 100% Lula e 100% Brasil. E, mesmo tendo “lado”, esteve acima das disputas partidárias e acima das rixas entre políticos. No Congresso, onde foi senador, os parlamentares poderiam até discordar das opiniões dele, mas nunca duvidaram da honestidade e da coerência de seus princípios.



Na vida pessoal, sua luta obstinada para viver ganhou dimensões épicas. “Não quero viver um dia a mais se não puder me orgulhar desse dia”, falava ele. Mas esta luta não era raivosa. Era, antes de tudo, uma prova de amor que ele dava aos seus entes queridos, aos médicos e a todos nós, brasileiros. Foi o amor que ele sentia pela vida que permitiu desafiar a ciência e ir além do que se considera possível. Foi também o amor que o fez aceitar com resignação sábia – e nos preparar para – o final.



Viveu e morreu com “amorosidade” e, mesmo na mais profunda dor, com delicadeza.



Outro mineiro famoso, o escritor João Guimarães Rosa, uma vez escreveu:



“Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria...

“Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos..

“Essa... a alegria que ele quer”.



Tomara tenhamos aprendido a alegria com este Zé que nunca se cansou de ser brasileiro e feliz.