Sustentabilidade dá o tom
Realização da Feicon Batimat põe em evidência técnicas e materiais menos impactantes na arquitetura, na construção e na decoração
Autoria: Karine Miranda
Especial para A Gazeta
A sustentabilidade se mostra como uma das principais preocupações na construção civil, arquitetura e decoração. A Feira Internacional da Indústria da Construção - Feicon Batimat, maior salão latino-americano do setor de construção civil, ocorrida de 15 a 19, em São Paulo, apresentou lançamentos, tendências e soluções eficientes do ponto de vista da sustentabilidade. Além disso, o evento serve para ampliar as discussões sobre o tema.
De acordo com o arquiteto Éder Bispo, os produtos e tecnologias apresentados na Feicon são bons exemplos de como se pode atuar na questão sustentável sem perder conforto e qualidade estrutural. Ele ressalta que a grande preocupação quando se fala em construção sustentável é com relação ao consumo de água. "Racionalizar o seu uso é primordial". Outra questão é o consumo excessivo de energia e a emissão de gazes poluentes. "Várias técnicas construtivas, soluções e materiais contribuem para minimizar o impacto negativo das construções. Basta ao arquiteto propor e tentar implantar a melhor solução para cada caso específico", explica.
Ele lembra que a sustentabilidade na arquitetura é construir de forma harmônica tendo como resultado construções inteligentes, comprometidas com a qualidade de vida, que respeitem o meio ambiente, propiciando o presente e futuro melhores. Existem no mundo várias certificações que conferem as construções o caráter de obra sustentável. No Brasil, a discussão está se iniciando. "Construir de forma sustentável é aproveitar os recursos naturais de forma responsável". Usado por muitos profissionais, o termo sustentabilidade foi banalizado, segundo o arquiteto Éder. Ele explica que para muitos, esta expressão é apenas uma forma de auto promoção, pois virou moda dizer que se constrói de forma sustentável. Para outros, uma simples divagação, já que um bom projeto de arquitetura resulta de questionamentos e preocupações que vão além das questões estéticas e pessoais. "Sabemos da responsabilidade que é inserir uma construção em um determinado local, seu impacto e suas conseqüências, portanto procuramos pensar arquitetura em sua totalidade", assegura.
Vale lembrar que a preocupação com o futuro das próximas gerações faz parte do trabalho de um profissional da área da construção. Não se pode retroceder, até porque ao longo dos anos incorpora-se novas idéias e soluções para minimizar um possível impacto negativo das obras. Assim, construir de forma sustentável propõe uma nova forma de pensar e agir e representa um avanço importante e é irreversível. Um ganho que não se podem abrir mão.
Mas essa nova atuação da arquitetura, ainda, pode ser melhorada, inclusive em obras já realizadas e tidas como não sustentáveis. Embora não se possa torná-las sustentáveis, pode-se minimizar os problemas através de reformas que visem melhorar as condições de vida. Uma forma possível é reduzir o consumo de energia e água através de uma readequação no sistema, por exemplo. Já quando se trata da criação de projetos, o arquiteto lembra que primeiro é preciso criar um um conceito daquilo que se pretende.
Não se pode esquecer que se a sustentabilidade fizer parte desde o início do projeto é evidente que o resultado será uma obra melhor resolvida desse ponto de vista. "Pensar assim desde o início facilita o desenvolvimento do trabalho, pois permite a definição dos materiais a serem utilizados bem como as formas de aproveitar melhor a ventilação e iluminação naturais, entre outros", garante.
Uma obra arquitetônica é fruto de um conjunto de fatores, os materiais são importantes e podem ser determinantes no resultado final, mas por si só não são soluções para os problemas. Adotar materiais adequados e ecologicamente corretos contribui muito para o desempenho de uma edificação, no entanto, cabe ao projeto contemplar todas as soluções possíveis. Sua qualidade está em responder satisfatoriamente a todas as necessidades que se apresentam, não somente as físicas, mas também as intangíveis. Assim, o projeto é composto por uma série de elementos, muito mais que um desenho técnico. Resulta numa afirmação do pensamento do arquiteto e espelha suas preocupações com meio, o ser e o mundo. Por isso, a sustentabilidade não se mostra nem como tendência, nem como necessidade, principalmente, porque a arquitetura é arte e é feita para durar.
Mesmo que não seja tendência, mas uma ação que vem crescendo dentro da área da construção civil, construir de forma sustentável ainda representa um custo aparentemente mais alto. Por uma questão cultural ainda não se é capaz de pensar em investimento de longo prazo, segundo o arquiteto. No entanto, isso está mudando. Aos poucos, os projetos começaram a conter especificações como novas técnicas construtivas e materiais com melhor desempenho. Mas não se pode esquecer que o mundo da construção é bastante complexo e as transformações são lentas, embora já se possa colher os resultados desse trabalho.
Um exemplo é a obra do arquiteto no condomínio Alphaville Cuiabá, destacada como um dos cem bons exemplos mundiais de arquitetura residencial, pela sua qualidade, beleza plástica e adequação a nova realidade mundial (sustentabilidade) de acordo com uma editora chinesa que lançará um livro com as melhores construções sustentáveis. Para finalizar, ele ressalta que o trabalho dos verdadeiros arquitetos, avessos a modismos, é de buscar a essência da arquitetura, que hoje muitas vezes é esquecida por alguns profissionais.
"O tema é ainda um pouco difícil de ser abordado, tudo está por fazer aqui no Brasil, mas estamos caminhando para um melhor entendimento. Estamos, ainda, vendo o mundo de outra forma. Chegamos num ponto crucial e pensar de forma sustentável me parece ser a alternativa mais racional e sensata. Se o fazemos é por acreditar na vida e em um mundo melhor,", finaliza.