segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mr. Spock: Cientista afirma ter teletransportado moléculas de DNA. Transporte sustentável do futuro?

Cientista afirma ter teletransportado moléculas de DNA




Com informações da New Scientist - 17/01/2011



http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=teletransporte-dna&id=010165110117&ebol=sim#Imprimir




SITE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Cientista afirma ter teletransportado moléculas de DNA. 17/01/2011. Online. Disponível em www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=teletransporte-dna. Capturado em 23/01/2011.




Teletransporte de DNA




Seu nome é Luc Montagnier e sua biografia pode ser resumida a um feito único: ele ganhou o Prêmio Nobel de Medicina em 2008, por ajudar a demonstrar a conexão entre o HIV e a AIDS.



Montagnier agora está sacudindo as bases do mundo acadêmico com uma alegação absolutamente inesperada: ele afirma ter "teletransportado" as informações de moléculas de DNA.



"Se os resultados estiverem corretos," comentou Jeff Reimers, químico da Universidade de Sidnei, na Austrália, "isso será um dos experimentos mais significativos feitos nos últimos 90 anos, e exigirá uma reavaliação de todo o quadro conceitual da química moderna."



Nesta altura dos acontecimentos, a expressão "se os resultados estiverem corretos" está tendo mais ênfase entre os outros cientistas do que o alegado teletransporte de DNA, que poderá ter um impacto, na verdade, muito além da química.



O problema é que o artigo ainda não foi aceito para publicação por uma revista revisada pelos pares de Montagnier.



E, a julgar pela recente controvérsia de uma bactéria com jeitão alienígena, anunciada com estardalhaço pela NASA e depois largamente contestada por outros cientistas, o processo de avaliação desse artigo deverá levar mais tempo do que o normal.



Teletransporte quântico



Montagnier e seus colegas alegam ter feito um experimento que mostra que uma molécula de DNA pode transmitir as informações que contém, por meio de campos eletromagnéticos, para células distantes e até mesmo para a água.



Mais do que isso, o Prêmio Nobel afirma que enzimas podem tomar esse "carimbo" remoto de DNA por um DNA real, copiando-o para produzir a coisa real - o que faria do experimento uma espécie de teletransporte quântico da molécula de DNA.



O experimento consiste em dois tubos de ensaio, próximos mas separados fisicamente, colocados dentro de uma bobina de cobre, sujeitos a um campo eletromagnético fraco de frequência extremamente baixa, de apenas 7 hertz.



O conjunto é isolado do campo magnético natural da Terra, para evitar interferências.



O primeiro tubo contém um fragmento de DNA com cerca de 100 pares de base. O segundo tubo contém água pura.



Depois de um período que variou de 16 a 18 horas, o conteúdo dos dois tubos de ensaio foram submetidos à reação em cadeia da polimerase (PCR), o método rotineiramente usado para amplificar quantidades traço de DNA, usando enzimas para fazer inúmeras cópias do material original.



Foi aí que o mais surpreendente aconteceu: o fragmento de DNA foi aparentemente recuperado dos dois tubos de ensaio, incluindo aquele que só deveria conter água.



A maldição da diluição



Para incomodar ainda mais os cientistas mais conservadores, aqueles que se incomodam com resultados controversos, e que geralmente se colocam prontamente contra qualquer nova descoberta que possa abalar o "edifício da ciência", o DNA somente é teletransportado com sucesso depois que a solução original de DNA passa por diversos ciclos de diluição.



Diluição lembra homeopatia, e "cientistas céticos" - o termo é absolutamente sem sentido, mas há vários acadêmicos que se autodenominam assim -, cientistas céticos odeiam a homeopatia, argumentando que ela não possui bases científicas, e trabalham duro para desacreditá-la.



No experimento de teletransporte, em cada ciclo, a amostra original, do tubo número 1, foi diluída 10 vezes, e o DNA fantasma, do tubo número 2, só pode ser recuperado quando a amostra original é diluída entre sete e 12 vezes.



O teletransporte não funcionou nas super diluições usadas na homeopatia.



Vários cientistas ouvidos pela revista britânica New Scientist mostraram-se céticos quanto aos resultados.



Mas é difícil imaginar que a equipe de um pesquisador agraciado com o Prêmio Nobel seja ingênua a ponto de divulgar uma pesquisa tão controversa sem tomar todos os cuidados metodológicos necessários.



O fragmento de DNA foi aparentemente recuperado dos dois tubos de ensaio, incluindo aquele que só deveria conter água. [Imagem: Montagnier et al.]Ondas eletromagnéticas do DNA



Segundo o rascunho do artigo, os físicos da equipe sugerem que o DNA emite ondas eletromagnéticas de baixa frequência, que transmitem a estrutura da molécula para a água.



Essa estrutura, alegam eles, é preservada e amplificada por meio de efeitos de coerência quântica. Como a estrutura imita o formato do DNA original, as enzimas do processo PCR tomam-na pelo próprio DNA e, de alguma forma, usam-na como modelo para construir moléculas que coincidem com o DNA transmitido.



Mas se Montagnier e seus colegas não conseguiram de fato fazer o teletransporte do DNA, então o que eles descobriram?



"Os experimentos biológicos parecem intrigantes, e eu não posso desacreditá-los," disse Greg Scholes, da Universidade de Toronto, no Canadá, que demonstrou no ano passado que os efeitos quânticos ocorrem em plantas.



Klaus Gerwert, da Universidade Ruhr, na Alemanha, que estuda as interações entre a água e as moléculas biológicas, mostra preocupação quanto à persistência do fenômeno: "É difícil entender como a informação pode ser armazenada na água em uma escala de tempo maior do que picossegundos."



Memória da água



Em 1988, o cientista francês Jacques Benveniste publicou um artigo na revista Nature, onde ele e seus colegas afirmavam demonstrar que a água tinha memória.



Em seu experimento, a atividade de anticorpos humanos era retida em soluções tão diluídas que não poderiam conter quaisquer moléculas de anticorpos - o que estatisticamente também ocorre na homeopatia.



Frente a um enorme ceticismo, a revista convocou um "caçador de mitos" para averiguar a questão, que concluiu que os resultados eram "uma ilusão", gerada por um experimento mal projetado.



Em 1991, Benveniste repetiu seu experimento sob condições duplo cego e obteve novamente os resultados que demonstraram inicialmente a alegada "memória da água".



Contudo, nem a Nature e nem a Science aceitaram o novo artigo para publicação.



Desacreditado, o pesquisador foi expulso de seu instituto sob a alegação de haver manchado a reputação da instituição.



Benveniste morreu em 2004.



Única saída



O que se espera agora é que o experimento de Montagnier e seus colegas seja avaliado pelos seus pares com a isenção necessária - sem ser condenado previamente, sobretudo por conter a palavra maldita - "diluição".



Para isso, um único caminho pode ser trilhado: laboratórios independentes devem repetir os experimentos e checar os resultados.








Bibliografia:



DNA waves and water

L. Montagnier, J. Aissa, E. Del Giudice, C. Lavallee, A. Tedeschi, G. Vitiello

Nature

23 Dec 2010

Vol.: 333, 816 - 818

DOI: 10.1038/333816a0

http://arxiv.org/abs/1012.5166



Human basophil degranulation triggered by very dilute antiserum against IgE

E. Davenas, F. Beauvais, J. Amara, M. Oberbaum, B. Robinzon, A. Miadonnai, A. Tedeschi, B. Pomeranz, P. Fortner, P. Belon, J. Sainte-Laudy, B. Poitevin, J. Benveniste

Nature

30 June 1988




NÃO É IMPOSSÍVEL:

 


A Ficção Científica e sua Aplicação na Educação

06/09/08

Fonte: http://jornadanasestrelas.com/noticias/imprimirnoticia.php?id_noticia=83&id_menu=174

A Ficção Científica e sua aplicação na Educação

Um instrumento auxiliador para o professor

Carlos Alberto Machado

Doutorando em educação pela PUCRio

cipexbr@yahoo.com



Em 1926, um luxemburguês radicado nos EUA, Hugo Gernsback, criou o termo ficção científica (sempre que nos referirmos a ficção científica usaremos a sigla FC) para classificar o tipo de histórias que ele se dispunha a publicar, exclusivamente, numa revista que estava lançando “Amazing Stories” (Histórias Assombrosas). A iniciativa de Gernsback estimulou autores jovens e popularizou o gênero junto ao público.

Em termos de narrativas populares envolventes e apelo de massa como o emblemático filme Blade Runner e Mad Max, verdadeiros divisor0es de águas no cinema, a FC também oferece épicos como ‘Ilíada’ e ‘Odisséia’ cujo conteúdo temático espelha-se nas space operas – termo utilizado pelos autores do gênero para designar livros ou filmes contendo sagas históricas, Impérios galácticos, etc. –, cujas mitologias religiosas e narrativas heróicas em geral têm catalisado gerações entre o grande público, seguindo uma fórmula aqui bem definida pelo escritor Bráulio Tavares:

(...) uma narrativa popular tem que envolver o leitor – ou telespectador (sic), através de descrições vívidas, ação intensa e estruturas com as quais ele se identifique facilmente.

Outro exemplo emblemático do apelo popular da FC, encontramos na literatura, na qual temos a cultuada trilogia ‘Fundação’ de Isaac Asimov. Também no cinema, encontramos a mitológica saga de ‘Guerra nas Estrelas’ – ‘Star Wars’, mobilizando massas de aficcionados. Este tipo de literatura ou filme, apesar de, muitas vezes, estar longe da ciência formal ou de seus preceitos, atrai em demasia a curiosidade dos jovens em geral.

Quanto a legitimidade educacional de sua busca científica, Tavares (1986) lembra-nos que a FC se utiliza muito da matéria-prima da ciência, mas manipula seus instrumentos, resultando em um compromisso com a imaginação e a fantasia. Sabe-se, atualmente, que a verdade científica não é definitiva, e a própria ciência cartesiana já a modificou com o passar do tempo, inúmeras vezes. A verdade de um século não é, necessariamente, a mesma de outro, e a mesma ciência de hoje já não é mais sinônimo de verdade absoluta. Dentro de sua visão de causa e efeito, não explica mais a complexidade do universo moderno percebido e sempre irá esbarrar nos limites impostos pelo pensamento racional. Portanto, o discurso ficcional da FC, caracterizado pela extrapolação da imaginação científica, vem para manipular a matéria-prima do pensamento lógico-formal e estimular a busca de novos parâmetros para o pensamento científico.

Por outro lado a “(...) ficção científica tem recursos inesgotáveis, demonstrando uma infinita confiança nos recursos da imaginação humana.”

Heróis, ação e aventura não faltam nas space-operas para aqueles que se identificam com suas personalidades. Como estímulo à busca de novas respostas, um de seus recursos temáticos é o confronto diante do conhecido e do desconhecido, o qual cria uma tensão dinâmica e permanente para o herói e para o leitor. Algumas dessas circunstâncias de desafio forçam o leitor e os personagens “(...) a se depararem com situações ‘além da imaginação’, nas quais ele é obrigado a identificar, prever e controlar fenômenos inexplicáveis – mais ou menos a situação do cientista diante de um problema de laboratório.”

O filme sempre foi um instrumento poderoso para ser utilizado em sala de aula. Mas sua utilização acaba sendo abandonada muitas vezes por falta de tempo: como a duração dos filmes feitos para o cinema é longa, privilegiam-se, primordialmente, os conteúdos escolares que devem ser trabalhados. Exibir um filme com duração de aproximadamente duas horas, realmente, toma muito tempo do professor. Entretanto, propomos que a escola continue utilizando esse recurso tão necessário em nossos dias.

O vídeo (DVD) e a televisão não devem ficar abandonados em um armário da escola. Também é discutível utilizá-los apenas para exibir documentários educativos que, para os estudantes, acabam sendo monótonos e cansativos. Eles apreciam, em demasia, filmes e desenhos de ficção científica. Então, por que não lançarmos mão desse gênero cinematográfico que atravessa a história cultural de várias gerações, que já está integrado à vida de nossos alunos?

Muito se tem falado, também, da distância prática entre a proposta educacional da escola e o mundo real vivido pelo educando. Essa distância fica mais evidente ainda, quando determinado currículo aborda, por exemplo, disciplinas que exigem conhecimentos técnicos, como a Física, mas cuja vivência e observação de certos fenômenos é uma realidade remota, somente possível de ser experienciada pelos educandos através de livros, filmes de televisão ou cinema, quando são abordados assuntos tais como: Sistemas Solares, Laser; Computadores; Distâncias Interplanetárias, Teorias sobre a Velocidade da Luz, Viagens no Tempo, Antigravidade; Robôs e Andróides, Cérebro Positrônico, Scanners Portáteis (tricorders); especulações sobre Antimatéria, Velocidade de Dobra, Buracos Negros ou Buracos de Vermes; Miniaturizações, Dimensões Paralelas, Transmissores de Matéria; Invisibilidade, Imortalidade, Telepatia e muitos outros. Temas esses, geralmente utilizados na FC ou na ciência imaginária: “A ciência imaginária não só é justificada por sua importância para o enredo de uma história de FC, como pelo seu aspecto profético ou de antecipação.(...) Alguns destes elementos são inviáveis e obviamente fantásticos, outros são possíveis e mesmo previsíveis.” No que tange a essa viabilidade profética da FC, Fausto Cunha também nos chama a atenção para este importante aspecto da legitimidade de sua busca científica:



Alguns temas que antigamente eram de domínio da pura fantasia, como os foguetes teleguiados, os transplantes de órgãos, os satélites artificiais, as técnicas de conservação pelo frio (o velho sonho da animação suspensa) e especialmente, para nossa infelicidade, as bombas nucleares, são hoje realidades com as quais temos que conviver. A elas se juntam outras antecipações convertidas em ameaças, como a poluição atmosférica, e envenenamento dos rios e dos mares, o fim do verde, a superpopulação, a fome, as novas doenças. Em suma a morte da Terra.





Na sala de aula, o docente geralmente prende-se a esquemas, fórmulas e problemas teóricos que fogem à realidade animada, disponível em literatura ou filmes do gênero. A esse respeito, David Allen, em sua obra ‘No Mundo da Ficção Científica’ observa: “Desse modo, o campo da FC inclui várias obras que utilizam os dispositivos da FC para examinar questões, idéias, e temas de uma perspectiva diferente da que está comumente disponível para nós, a partir de outros tipos de ficção e em nossa vida diária.”

Similarmente, os recursos tecnológicos utilizados pela FC na literatura, no cinema ou nas histórias em quadrinhos (HQs) - que os jovens também apreciam em demasia -, podem facilitar ao docente o ensino ilustrativo de uma matéria específica. Mas, para isso, faz-se necessário que este também tenha algum interesse pelo tema em questão, e que esteja atualizado, constantemente, com as últimas descobertas científicas pertinentes à sua área de conhecimento; bem como, com filmes, livros e revistas em quadrinhos sobre ficção científica, seja através de bibliotecas, bancas de revistas, cinema, televisão ou locadoras de filmes de sua cidade. Alguns professores podem preferir (e isso também vale para os educandos) comparecer com sua turma de alunos ao próprio cinema para, juntos, poderem assistir a um determinado filme pré-selecionado, com a finalidade de, em seguida, discutirem em sala de aula os conteúdos apresentados em forma de relatórios, mesas redondas ou outro recurso didático disponível. Aspectos sociais, filosóficos, tecnológicos, éticos, biológicos, antropológicos, matemáticos, lingüísticos, físicos, astronômicos, químicos, estéticos, etc., são apenas alguns aspectos que podem ser extraídos, analisados ou dissecados pelo educando. Conteúdos esses, devida e respectivamente, orientados pelo docente, relacionando-os à sua disciplina, facilitando assim a aprendizagem. Como afirma Clarke: “Uma pessoa que conheça tudo sobre as comédias de Aristófanes e nada sobre a Segunda Lei da Termodinâmica é tão inculta como aquela que dominou a teoria quântica, mas pensa que Van Gogh pintou a Capela Sistina.”

Outros professores podem sugerir que o próprio aluno selecione o filme de FC desejado, desde que, obviamente, o mesmo já seja antecipadamente conhecido pelo referido professor, para que este elabore os devidos paralelos com conteúdos programáticos.



As escolas podem perfeitamente se tornar locais singulares, como mundos próprios nos quais cyborgs geracionalmente diferentes se encontram e trocam narrativas sobre suas viagens na tecno-realidade – desde que nós nos permitamos reimaginá-los e reconstruí-los de uma forma inteiramente nova, em negociação com aqueles que um dia tomarão nosso lugar.



A primazia e a riqueza de conteúdo chegou a tal ponto que, até os cursos universitários vêm utilizando a ficção científica em suas disciplinas, como evidenciado em minha dissertação de mestrado. Menosprezar um gênero que já trabalhou uma versão espacial Shakespeareana como ‘O Planeta Proibido’, é menosprezar o conhecimento.

A estética da arte e os cursos de comunicação já analisam os filmes cinematográficos e televisivos desde sua criação em meados de 1920. Entre muitos exemplos podemos citar ‘Metrópolis’ de Fritz Lang, ‘Skanner: sua mente pode destruir’ e ‘Vídeo Drome’, ambos de David Cronemberger. Discussões políticas podem ser realizadas com ‘Dr. Fantástico’, ‘O Dia em que a Terra Parou’ e ‘Star Trek’ - Jornada nas Estrelas’, neste último analisando a Federação dos Planetas Unidos, órgão federativo que tenta promover a paz na Galáxia. Cabe às diferentes áreas do conhecimento também descobrirem a importância desses filmes como recurso pedagógico.

Professores de História sempre utilizaram filmes de época ou filmes de guerra, para discutir seus conteúdos (com primazia e didatismo). O mesmo vale para os professores de Geografia que têm no cinema um rico instrumento didático. Conhecer o mundo através da tela em nossos dias é mais fácil do que viajar e conhecê-lo pessoalmente.

Professores de inglês aproveitam a língua inglesa encontrada nos filmes atuais, simplesmente desligando o recurso de legenda, no caso dos DVDs, ou ocultando a parte inferior da televisão, no caso das fitas de vídeo, para trabalhar a pronúncia correta.

Albert Einstein costumava dizer que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Ela estimula a criatividade e, por conseguinte, auxilia na solução de problemas. Ora, a imaginação que utilizamos na criação de invenções, nas novas descobertas, na pesquisa científica e na solução de problemas é a mesma que nos permite escrever contos, criar roteiros, imaginar futuros que estão por vir. Alguns autores de ficção científica chegam a imaginar nossa história de forma diferente e para isso é necessário um exercício soberbo. Mundos alternativos onde verificamos como o mundo poderia ter sido se…Hitler não tivesse perdido a guerra; se o primeiro Presidente dos Estados Unidos da América fosse uma mulher; se os cientistas fossem venerados como as estrelas do Rock e por ai vai. Esses exemplos podem ser verificados literalmente nos episódios da série de FC ‘Sliders’ de Tracy Torme e Robert K. Weiss.

Sempre que falamos em trabalhar ficção científica em sala de aula logo vem a imagem de seu uso na disciplina de física e naturalmente ela teria um número muito maior de alternativas de uso em relação a seus conteúdos. Lamentavelmente alguns professores a utilizam apenas como exemplos negativos e deixam de lado bons exemplos. As séries de ‘Star Trek’ – ‘Jornada nas Estrelas’ são o melhor exemplo de vários conceitos corretos da física, da holografia, da astronomia e da cosmologia. Certamente alguns não procedem, como sons no espaço, teletransporte de matéria, viagens no tempo, mas que, ainda assim, podem ser discutidos pelo professor.

Um bom livro para professores de física que se interessem em utilizar a ficção científica em suas salas de aula é: ‘A Física de Jornada nas Estrelas’ . Ele discute todos os conceitos encontrados nos filmes e nas séries televisivas de ‘Star Trek’.

Ainda dentro dos exemplos de física, podemos citar alguns filmes feitos para o cinema: ‘A.I. Inteligência Artificial’, ‘2001: Uma Odisséia no Espaço’ e ‘2010: O Ano em que faremos Contato’, ‘Apollo 13’, ‘Contato’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘Missão Marte’ etc.

Mas não é apenas a física que pode enriquecer-se com esse gênero cinematográfico e televisivo. A filosofia também encontra seus conceitos por aqui. Já existem várias obras especializadas que o demonstram. Os livros: ‘A Metafísica de Jornada nas Estrelas’ , da editora Makron Books, ‘Matrix: bem- vindo ao deserto do real’ , ‘A Pílula Vermelha: Questões de Ciência, Filosofia e Religião em Matrix’ , e o mais recente ‘Scifi=scifilo: a filosofia explicada pelos filmes de ficção científica’ , são alguns belos exemplos do que explanamos. Conceitos que vão além da Caverna de Platão, como a morte, a vida, realidade, ética, identidade, livre-arbítrio, moralidade, metafísica, onisciência, determinismo, entre outros. Mas os professores de filosofia descobriram uma outra ótima saída para despertar a curiosidade dos adolescentes, também seus alunos. O mercado editorial brasileiro, através da editora Madras, recheou as prateleiras com livros versando sobre filosofia e séries de televisão: ‘A filosofia de Bufy’, ‘A filosofia de Harry Potter’, ‘A filosofia de Senfield’ e a ‘filosofia de Sipsons’ são alguns que foram lançados até o momento.

Entre os filmes que trazem questões filosóficas bastante instigantes destacamos a trilogia de ‘Matrix’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘O Exterminador do Futuro 1 e 2’, ‘Minority Report: A Nova Lei’, ‘Independance Day’, ‘Alien’, ‘Blade Runner, o Caçador de Andróides’, ‘Star Wars’, ‘O Sexto Dia’, ‘O Homem sem Sombra’, ‘Frankenstein’, entre muitos outros.

Professores de Biologia vêm trabalhando com filmes de ficção científica há algum tempo, pois eles trazem conceitos e questões relacionadas a essa área que podem ser analisados e discutidos em classe. Alguns exemplos são: ‘Viajem Fantástica’, ‘Gattaca: A Experiência Genética’, ‘A Corrida Silenciosa’ (o preferido dos professores da área), ‘Waterworld: o Segredo das Águas’, ‘Aquaria’, ‘O dia Depois de Amanhã’, ‘O Dia Seguinte’, ‘Missão Marte’, ‘O Planeta Vermelho’, ‘O Segredo do Abismo’, ‘Jornada nas Estrelas IV - A volta para casa’, ‘Duna’ e a abertura fantástica de ‘X-Man: o filme’, bem como seu conteúdo, para discutir mutação. Vida, genética, bio-ética, demografia, sobrevivência, ecologia, biodiversidade entre outros, são apenas alguns exemplos do que pode ser debatido em sala de aula a partir da visulização desses filmes. Um livro que pode dar suporte a essa relação biologia/cinema é ‘A Ciência de Star Wars’ .

A Psicologia, consciência e inconsciência, o eu, ego e outros tantos conceitos-chave das teorias freudiana, jungiana e lacaniana também podem ser identificados no conteúdo de filmes como ‘Esfera’, ‘Solaris’ (de Andrei Tarkovski), ‘Gattaca: A Experiência Genética’, a trilogia de ‘Matrix’, ‘Enigma do Horizonte’, ‘Q-Pax’, ‘O Vingador do Futuro’, ‘Laranja Mecânica’, ‘O Segredo do Abismo’. Um exemplo mais recente é o filme ‘O Diário do Mochileiro das Galáxias’, onde pode ser encontrado um robô maníaco-depressivo, portas que gemem ao serem abertas ou fechadas, um rei da galáxia que tem um ego gigantesco, uma arma que ao ser apontada para alguém o induz a dizer a verdade (mesmo oculta). A burocracia e o tédio são notavelmente escrachados denotando uma realidade pós-moderna bem ao estilo Monty Python.

De certa forma o exercício da exploração de potenciais futuros é um dos principais objetivos disciplinares da FC na educação. Vivemos em uma sociedade atribulada com mudanças sociais rápidas, as quais nos forçam a olhar para o futuro. Essa busca futurística deve ser uma função básica e contínua no campo da educação. Se levarmos em conta o princípio de que os educandos devem estar preparados para um mundo em que uma iminente diversidade embrionária de novos estilos de vida, valores e sistemas sociais concorrerão para coexistir, então, a educação deve necessariamente expandir seu domínio disciplinar para o campo da projeção futurística também, a fim de poder abarcar o exame do que é possível no potencial do desenvolvimento humano.

Naturalmente, a FC também é um importante instrumento didático para se dar a conhecer aos estudantes futuros alternativos. Essa literatura vem, há pelo menos um século, discorrendo sobre temas pertinentes às transformações incipientes da sociedade humana em seus aspectos sócio-psicológicos, antropológicos e, em particular, às derivadas da ciência e tecnologia. Assim sendo, a FC é uma verdadeira biblioteca de imagens futuristas, depósito de esperanças, receios, projeções e conjecturas de homens e mulheres, cujo espírito de vanguarda acompanha e perscruta a condição evolutiva da humanidade. Conseqüentemente, é um campo inestimável de treinamento para seus leitores, na antecipação e criação de fatos que estão por vir.

Comungando com essa idéia, em entrevista cedida ao jornalista Wilson H. da Silva para a revista ‘Livro Aberto’, o professor de física da PUC-SP Pierluigi Piazzi, que ministra a disciplina de cibernética em cursos de Pós-Graduação, afirma que: “a ficção científica é uma ferramenta pedagógica poderosíssima e minha esperança é que a escola descubra a ficção como esta ferramenta, para preparar, inclusive, as pessoas para um futuro imprevisível, oferecendo todas as opções especulativas que existem.” Outra professora em consonância de opinião ressalta que os filmes cinematográficos em sua natureza eminentemente pedagógica são o maior interesse para o campo educacional e destaca que os filmes de FC tem um lugar especial na educação.

Neste contexto, pode-se afirmar, sem muito exagero, que não se trata da legitimidade da FC como força cultural e social que está em discussão, mas a legitimidade da própria escolarização. Apesar de os autores e estudiosos de FC reagirem com certa frustração por sua preferência literária não constar nas listas indicadas nas escolas, a esta altura, parece que as escolas é que estão precisando mais da FC do que ela precisa de sua validação escolar. Legitimarem o status pedagógico da FC perante a comunidade acadêmica, através de seu emprego na educação, não é meramente desejo pessoal dos escritores e professores admiradores do gênero. Mais do que isso é motivado pelo espírito de renovação educacional, que estes docentes, em crescente número, já contemplam as vantagens de sua possível inclusão em seus conteúdos programáticos, ou já a utilizam, eficazmente, em suas turmas.

Em termos de criatividade escolar, portanto, reitera-se aqui que a imaginação, ferramenta responsável pela criação, é um dos muitos olhares diferenciados da realidade que permitem ao estudante explorar a criatividade em sua vida.

Citando Siclier e Labarthe, finalizamos este artigo com uma advertência digna de nota, como incentivo à busca essencial da FC:



(...) o cinema de ficção científica não sobreviverá, se não tomar consciência de algumas evidências: que, antes de mais nada, é o veículo de novas formas de pensar; e que, como tal, é principalmente um instrumento abstrato comparável às matemáticas tradicionais, e que deverá evitar as ilustrações pseudo-realistas, se pretende valorizar com rigor uma geometria inédita baseada sobre postulados modernos.



A Ficção Científica e sua aplicação na Educação

Um instrumento auxiliador para o professor

Resumo

Este artigo mostra que a Ficção Científica de forma literária e fílmica pode auxiliar a educação como apoio didático pedagógico, estimulando no aluno a imaginação e a criatividade. Abordam-se livros e filmes que apresentam exemplos relacionados aos conteúdos específicos de várias disciplinas. A tentativa de abandono de preconceitos culturais considerando a variedade de padrões sociais pode também ser alcançada pelo uso da FC. O confronto com questões éticas, morais e inimagináveis encontradas no cotidiano podem trazer questionamentos e reflexões relevantes em sala. Procurar imaginar soluções para situações curiosas levantadas por um filme, professor ou pelo próprio aluno auxilia no desenvolvimento intelectual, ampliando horizontes.



Palavras-chave: Ficção científica, filmes, material didático





Science Fiction and its application in Education

A helpful tool for the teacher

Abstract

This article shows that Science fiction both in literature and in cinema may help the educational process as a didactical and pedagogical support, fostering the student’s imagination and creativity. Books and movies which present examples related to specific contents of various subjects are approached. The attempt of abandonment of cultural prejudices taking into consideration the variety of social standards may also be achieved by the use of Science fiction. The confrontation of ethical, moral and unimaginable issues found in everyday life may arise relevant questions and reflections in classroom. The attempt of imagining curious solutions arisen by a movie, teacher or the student himself helps the intellectual development, broadening horizons.



Keywords: Science fiction, movies, pedagogic material.




FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA COMO MEDIADORES DE CONCEITOS RELATIVOS AO MEIO-AMBIENTE  03/09/08  





Carlos Machado


Doutor em Educação PUC-RJ

Visite o Blog do Machado http://futurantiqua.blogspot.com/




OS DEBATES SOBRE MEIO AMBIENTE NO BRASIL



Muito se fala sobre o meio ambiente nos meios de comunicação e nas escolas, mas pouco se sabe sobre toda sua gama e envergadura. Confundem-se princípios ecológicos com o ensino generalizado do meio ambiente que cobre uma gama muito maior de conceitos e uma complexidade de relações urgentes. Na década de 60 o Brasil passava por políticas ditatoriais e não demonstrava preocupações a respeito, ao contrário de outros países, principalmente dos considerados de primeiro mundo, que vivenciavam mais intensamente os efeitos negativos de um desequilíbrio ambiental. Na década de 1970 o Brasil foi convidado a participar de um encontro internacional sobre o Meio Ambiente, mas foi o único a comparecer de forma diversa dos demais. Seus representantes oficiais erguiam em plenário faixas e cartazes com os dizeres: “Bem-vindos à poluição, estamos abertos para ela. O Brasil é um país que não tem restrições. Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento”. O escândalo internacional que provocamos, autorizado pelo então ministro do interior, General Costa Cavalcanti, só evidenciou ainda mais o quanto estávamos longe de ser um país ecológico ou preocupado com o meio ambiente. Nos encontrávamos em plena adolescência política abrindo os braços ao desenvolvimento a qualquer preço, mesmo que isso custasse o ar de nossos filhos ou de nossos descendentes. Como nos lembra Dias (1991), Cubatão, Rio Guaíba, Tietê, Projeto Carajás foram apenas alguns exemplos das mazelas que ainda hoje estamos tentando reparar. Na década de 1970 o Brasil confundia meio ambiente com ecologia, não entendendo que esta última estava contida no primeiro, de maior dimensão e importância.

Essa importância é corroborada nos estudos sobre a Educação Ambiental que aos poucos vêm sendo percebida pelas políticas e seus governos. É necessário entender que a Educação Ambiental visa uma mudança nas relações de conversão, como nos lembra Vasconcellos (1994) em seu artigo Educação Ambiental e Qualidade de Vida, pois devemos cooperar em vez de competir, ter uma visão interdisciplinar e não individual e egoísta, saber aproveitar os recursos em vez de desperdiçá-los, reconhecimento dos direitos e deveres em vez de irresponsabilidade social. “A educação ambiental é um processo contínuo, em que não basta plantar árvores, mas inclui decidir coletivamente, não só aonde isso será feito, mas quem acompanhará o seu crescimento e as manterão saudáveis.” (VASCONCELLOS, 16:1994). A sociedade atual costuma incentivar em quase tudo a competição saudável. Sobre isso Maturana (1998) nos lembra que a competição está longe de ser sadia, porque se constitui na negação de alteridade, na negação do outro. Ele também acrescenta que “A vitória é um fenômeno cultural que se constitui na derrota do outro.” (MATURANA, 21:1998).

Em contrapartida, para Morin (1995) e Dias (2004), surgiram associações e partidos ecológicos, criou-se em 70 países Ministérios do Meio-Ambiente, Organismos Mundiais do Meio-Ambiente que surgiram em detrimento da conferência de Estocolmo em 1972. A ECO-RIO conseguiu reunir 175 países que demonstraram preocupações referentes ao Meio-Ambiente. Mendes e Nóbrega (2004) nos lembram que hoje sabemos que a origem do conhecimento depende da existência do mundo que por sua vez é inseparável de nosso corpo, de nossa linguagem e de nossa história social. Assim sendo o estudo do meio ambiente deve tratar do todo envolvido pelo homem, do todo ao redor. (MATURANA, 1998).

Uma visão consciente a respeito desse tema é evidenciada no filme de FC dirigido por Douglas Trumbull: A Corrida Silenciosa – Silent Running, EUA, (1972). Nele, o botânico Freeman Lowell (Bruce Dern) há três anos preservava, em nove enormes domos geodésicos flutuando em órbita de Júpiter, os únicos espécimes botânicos que restaram da Terra, transformada em concreto puro. Consciente da situação que estava em suas mãos, rebela-se contra seus dois companheiros, após receber a ordem da Terra que deveriam destruir as espécies restantes e voltar para casa. Fugindo em desespero para os anéis de Saturno com uma única nave restante, e tendo a esperança de que um dia a humanidade se arrependeria de seu ato insano, Freeman deixa programados dois robôs para que cuidem da floresta restante, possivelmente o único vestígio verde do sistema solar, quiçá da galáxia.

Já em 1972, Douglas Trumbull sensibilizou-se com o presente investindo em um filme que no mínimo tocou uma platéia desavisada sobre uma catástrofe eminente que ela mesma estaria providenciando aos poucos. Estamos em 2007 e essa visão apocalíptica de Trumbull ainda é uma possibilidade assustadora. Em pesquisa realizada durante o curso de mestrado (MACHADO, 2000), evidencio que esse filme vem sendo utilizado em sala de aula por vários professores de biologia e ciências como um demonstrativo do quão importante é a preservação do meio ambiente. Segundo Murray (2003), a importância da narrativa que está presente na FC, é reforçada como mecanismo cognitivo primário para a compreensão do mundo.

Essa consciência, que vem sendo buscada desde que o homem percebeu seu papel na natureza e o que vinha fazendo dela, é objeto de reflexão por parte de inúmeros pensadores. Pesquisadores que estão refletindo e percebendo que, mesmo com os projetos e gestões atuais, ainda estamos longe de alcançar o ideal. Como afirma Dias (2004), involuimos ética e espiritualmente. A necessidade de novos paradigmas para tentar resolver os problemas que são muitos e multiplicadores, urge. Pensadores como Morin e Prigogine tentam, a sua maneira, sugerir caminhos que podemos seguir. Os modelos insustentáveis vigentes nos obrigam a tentar encontrar modelos auto-sustentáveis, mas que exigem sacrifícios de todos. Sacrifícios esses compreendidos, mas não respeitáveis. Morim (1995) acrescenta que: “Homens de saber alheios à dialógica da complexidade não passam de gafanhotos - simpáticos, quando isolados; predadores, em bando.”A indústria continua a fabricar objetos de consumo em grande escala e muita poluição. Concebem filtros que, quando funcionam, apenas amenizam a situação. Meros paliativos. O futuro sem sustentação não garante mais nada. Não existem previsões seguras. Acrescentando-se a isso, ainda agrava-se a crise ambiental provocando mudanças indesejáveis.

Filmes distópicos de FC recentes, como Waterworld - o segredo das águas, USA, (1995) de Kevin Reynolds e O Mensageiro – The Postman, USA, (1997), de Kevin Costner, ambos estrelados por esse último, evidenciam mundos pós-apocalípticos onde é difícil sobreviver. O primeiro passa-se após o degelo, conseqüência do calor extremo provocado pelo aumento do “buraco” ocasionado pela poluição na camada de ozônio, que a humanidade não conseguiu reverter. Apesar da água ‘salgada’ abundante, água ‘potável’ e terra equivaliam aos metais preciosos de nossa era. A conscientização de que o homem precisa tomar providencias fica evidente nessa película, mal recebida pela crítica cinematográfica. O segundo filme, não menos importante, passa-se após a 3ª Guerra Mundial. Poucos grupos de homens sobreviveram e os que restaram não conseguem se comunicar. A mata Atlântica sobrevive e acaba servindo de obstáculo para as poucas aldeias existentes, onde residem grupos de assaltantes. O protagonista vivenciado por Costner acaba tendo um insight em meio a essa correria e reinventa o correio, utilizando para isso ele próprio e um cavalo. Procurava atravessar os campos e matas levando cartas de uma aldeia a outra tentando incentivar o retorno da comunicação entre os seus. Com o tempo a idéia contagia e várias pessoas acabam ingressando na nova missão, pois descobrem que a comunicação é um importante atributo para a sobrevivência da humanidade, mesmo em um mundo aparentemente sem esperanças.

Vivemos de projeções quanto ao devir que provocam angústias em relação ao nosso futuro e ao de nossos descendentes. É preciso “pensar o futuro sem abandonar o presente.” (MORIN, 12:1995). Este artigo pretende mostrar que a FC, com a multiplicidade de visões futuras que a caracteriza, pode auxiliar o educador a desenvolver criticamente, com seus alunos, assuntos de meio ambiente tão necessário em nossos dias, pois gostemos ou não, ainda estamos na idade de ferro planetária (MORIN, 1995).



FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA COMO MEDIADORES DE CONCEITOS RELATIVOS AO MEIO-AMBIENTE



Na contemporaneidade a FC é o gênero de filmes mais procurado pelos adolescentes e pela população em geral. Basta checarmos as pesquisas de mercado. Essa busca é resultado, por um lado, da avançada tecnologia que Hollywood vem empregando cada vez mais em seus produtos cinematográficos e televisivos e, por outro, da intensa fascinação que narrativas sobre o futuro exercem, principalmente, sobre os jovens. São os filmes de FC que costumam ter mais sucesso na bilheteria ou uma audiência maior e são também os mais comentados pela mídia, devido, em grande parte, aos efeitos especiais.

Alguns pensadores acreditam que a vida, em seu contexto mais elevado, possivelmente seja uma característica particular e privilegiada de nosso planeta. Por outro lado, outros, como Morin, pensam que ela pulula pelo cosmos. De qualquer forma, isso não a desmerece em absoluto, pelo contrário, deve ser preservada e respeitada. “Existe a elevadíssima probabilidade de que, num universo de bilhões e bilhões de astros, haja milhões de planetas análogos a Terra, portanto, a probabilidade de existência de seres vivos em outras regiões do cosmos.” (idem, 53:1995). O planeta não é nosso, mas sim nossa moradia. Não somos proprietários, apenas locatários e, como tal, devemos cuidar de nosso “quintal” pois é apenas esse que temos. Não se pode mais separar homem, natureza, vida, cosmos. Terra, um pequeno cesto de lixo cósmico, transformado em nosso jardim e, assim sendo, rara, frágil e preciosa. Viver fora da biosfera é praticamente impossível. Se um dia formos para o espaço, como pareçe ser inevitável devido ao crescimento populacional desenfreado da humanidade , teremos que dar um jeito de levar junto conosco o ar que respiramos, o verde que fabrica o ar e o alimento que nos sustenta. “Nenhum ser vivo, mesmo humano pode libertar-se da biosfera.” (ibidem, 55:1995). Essa afirmação é muito bem trabalhada, mostrando os dois lados da moeda, no filme já citado A Corrida Silenciosa - Silent Running (1972).

Morin também nos adverte que não conhecemos todo tipo de vida que possa existir no universo e que pode inclusive, nesse momento, haver alguma forma de vida desconhecida ao nosso redor: “não se pode descartar uma terceira hipótese; talvez haja no universo, organizações muito complexas, dotadas de propriedades, de autonomia, de inteligência e até de pensamento, mas que não estariam fundadas numa organização núcleo-protéica e que seriam (atualmente? para sempre?) inacessíveis à nossa percepção e a nosso entendimento” (ibidem, 54:1995). Ora, a FC formulou essa hipótese há muito tempo: a idéia de que podem haver seres vivos completamente diferentes do ser humano, baseados em silício, hidrogênio e até em elementos desconhecidos para nossa ciência. As séries Jornada nas Estrelas (1966-2001), Babylon 5 (1994-1998), de J. Michael Straczynski, Stargate - SG1, CAN/USA, (1997) de Mario Azzopardi e Dennis Berry e Stargate - Atlantis, CAN/USA, (2004), de Brad Wrighte Robert C. Cooper, são quatro bons exemplos que ilustram essas hipóteses. Elas falam da possibilidade de virmos a conviver, em um futuro relativamente próximo, com espécies biológica e culturalmente muito distintas de nós.

Segundo Morin (1995), a superação de nossas cegueiras ego-etnocêntricas ou ideológicas só desaparecerá quando alcançarmos o desenvolvimento correlato da compaixão do coração, do humanismo de espírito, do verdadeiro universalismo e principalmente do respeito às diferenças. O preconceito e o racismo ainda prevalecem no ser humano. Homem bicho/bicho homem, a noção de homem se desfez em fragmentos e o estruturalismo pensou poder eliminar esse “fantasma irrisório”.

O episódio Os Filhos de Platão - Plato's Stepchildren, (1968), de David Alexander, da série clássica de Jornada nas Estrelas exibia, há mais de 40 anos, mostra o primeiro beijo inter-racial da história da televisão. A série não só propugnava a convivência entre diferentes, em plena década de 1960, como fazia questão de mostrar que a tripulação da Enterprise era composta de representantes de países terrestres que naquele momento (Guerra Fria) estavam em conflito. Além dos norte-americanos e, naturalmente de alienígenas como o vulcano Sr. Spock, existiam tripulantes de diferentes países e continentes da Terra, como Japão, Rússia, Escócia e África.

Atualmente está em evidência falar e escrever sobre “desenvolvimento sustentável”, mas cria-se um dilema, um contra-ponto, pois “põe em dialógica a idéia de desenvolvimento, que comporta aumento das poluições, e a idéia de meio-ambiente, que requer limitação das poluições”(ibidem, 74:1995). Buscar um desenvolvimento sem poluição seria uma alternativa lógica que já vem sendo pesquisada em vários países, inclusive no Brasil. O engenheiro curitibano Emilio Hoffmann Neto, publicou em 2005, seu livro Hidrogênio: evoluir sem poluir, que aponta várias formas de utilizarmos o hidrogênio como forma alternativa para soluções de problemas ambientais. Na introdução de sua obra ele lança mão de um conto de FC para descrever como seria, em sua imaginação, nosso planeta com o uso desse elemento químico. Seria uma utopia social?

Enquanto a utopia de Platão nos leva a imaginar apenas um tipo de sociedade, o pluralismo encontrado na FC, devido à enorme quantidade de livros e filmes do gênero, nos permite pensar em múltiplas possibilidades e nos proporciona visões mais plurais e pormenorizadas de futuros possíveis. Apesar de ser constantemente associada ao futuro, a FC é acima de tudo uma análise do presente. Um bom exemplo disso vem de 1969, quando Solaris foi exibido nas telas de cinema, pela maestria do diretor soviético Andrei Tarkovsky. Bressand e Distler (1989) recordam que o cineasta, desprezando o habitual cenário eletrônico, apresenta em Solaris um futuro pleno de nostalgia que nos conduz à contemporaneidade. O filme sempre expõe o telespectador através do protagonista a situações e problemas do cotidiano, situações que muitas vezes podem gerar conflitos e angústias, como a relação entre pais e filhos, problemas entre casais, imaturidades sexuais e até aberrações contidas. Tudo isso é visto no filme através dos desejos inconscientes materializados pelo planeta Solaris, na verdade uma entidade viva, que ao contrário do que possa parecer para alguns, só queria realizar um tipo de contato, o seu tipo de contato. “O oceano de Solaris é bem, portanto, o símbolo simultaneamente de uma perdição possível e de uma superação imaginável.” (BRESSAND e DISTLER, 35:1989). Devemos, pois, superar as dificuldades e a imaginação contida na FC, é um bom instrumento.

A evolução tecnológica dicotomicamente diferente da do homem acaba por trazer preocupações com o futuro. Esse tema também está presente na FC distópica, como se vê em Passageiro do Futuro - LawnmowerMan (1992), de Brett Leonard, onde a tecnologia representa diversão e, ao mesmo tempo, ditadura. Um deficiente mental é requisitado para uma experiência “não oficial” em um projeto de desenvolvimento mental, proporcionado através de jogos virtuais para computador. O experimento não apenas dá certo como se sobrepuja ao lançar a mente do protagonista para as linhas telefônicas e para a Internet. De dominado para dominador.

Mas não é apenas neste texto fílmico que observamos essa realidade. Em nossos dias, foi lançada pelos japoneses, mais precisamente em outubro de 1981, uma expedição para “a criação do computador que converse em linguagem natural com seu utilizador e que seja capaz de efetuar deduções e de dirigir o seu próprio processo de aprendizagem, coisas que até agora se consideravam apanágio do homem” (idem, 51:1989). Ora, se o homem ainda não se entende, quem dirá com as máquinas que estão surgindo. A premissa de que o Fantasma da Máquina está presente, cada vez está mais próxima. E é exatamente disso que trata o filme Matrix, (1999) dos irmãos Andy e Larry Wachowski, onde o homem se transformou em um tipo de pilha ou bateria para alimentação de máquinas dominadoras que, em troca, proporcionam ao homem uma “liberdade” virtual, uma fantasia de vida real. Em paralelo a nossa realidade, atualmente existem jogos virtuais denominados Second Life, que estão, aos poucos, virando febre ao redor do mundo.

Segundo Morin (1995), após a Segunda Grande Guerra surgiram grandes esperanças progressistas. Um futuro utópico era aguardado pela população. O futuro radioso naufragou na carona da revolução socialista, no sistema totalitário na Rússia e nas guerras da Coréia e do Vietnã.

Nesse período, a FC de George Orwel 1984, escrito em 1948, e Admirável Mundo Novo (1931) , de Aldoux Huxley parecem explicitar o sentimento de que o sonho acabou. O futuro seria negativo e aterrador. A ciência tornaria os governos totalitários e dominadores, uma população engendrada geneticamente seria subserviente e melancólica. Sem dúvida esses contos eram um alerta para a humanidade de que poderia estar por vir se nada fosse feito para mudar o curso da história.

As solidariedades locais, que funcionavam muito bem, estão, gradativamente, desaparecendo entre as sociedades. Os políticos, não conseguem incorporar em seus programas os problemas da civilização que se tornam políticos. O que se vê são paliativos ou remediações na tentativa de resolver as dificuldades sociais locais. Partidos e candidatos prometem, e até cumprem parcialmente, a realização de projetos sociais destinados a solucionar problemas como fome, moradia, desemprego, mas apaziguam a situação apenas momentaneamente. Não atingem a raiz do problema. “A racionalidade fechada produz irracionalidade”, diz Morin (95:1995). O desvio do rio São Francisco, persistido pelo governo atual, é um exemplo do que explanamos aqui. Os seres humanos continuam insistindo em querer dominar a natureza, esquecendo-se de que faz parte dela: “O homem transformou a Terra, domesticou suas superfícies, vegetais, tornou-se senhor de seus animais. Mas não é o senhor do mundo, nem mesmo da Terra.” Seus poderes técnicos, seu pensamento, sua consciência devem doravante ser destinados, não a dominar, mas a arrumar, melhorar, compreender. (Morin, 1998).

Em concomitância com esse pensador encontramos pensamentos semelhantes na obra de Maturana e algumas sugestões alternativas:



“Uma educação que nos leve a atuar na conservação da natureza, a entendê-la, para viver com ela e nela, sem pretender dominá-la, uma educação que nos permita viver na responsabilidade individual e social, que afaste o abuso e traga consigo a colaboração na criação de um projeto nacional em que o abuso e a pobreza sejam erros que se possam e se queiram corrigir”. (MATURANA, 35:1998).



A tecnologia atual poderia resolver verdadeiramente problemas como erradicação da fome e desenvolver uma educação para a complexidade, mas isso ainda não se verificou. Recorro novamente à série Jornada nas Estrelas-Nova Geração (1987) que, no episódio A Zona Neutra - The Neutral Zone, de James L. Conway, evidencia uma sociedade livre de preceitos capitalistas onde não existe mais a posse material e o dinheiro. Todos trabalham solidariamente para melhorar a sociedade, não lhes faltando moradia ou comida. A exploração do conhecimento é a filosofia do homo-futurus seria uma utopia inalcançável?

Morin (1995) acredita que existe uma extrema variedade de possíveis roteiros futuros; não existe apenas um ou alguns poucos caminhos como se acreditava antes. Isso é perfeitamente demonstrado na série Sliders (1995), cujos protagonistas viajam a cada episódio para Terras paralelas onde existem infinitas possibilidades de vida em um mesmo período de tempo. “Histórias multiformes podem ajudar-nos a perceber causas complexas de acontecimentos complexos, assim como imaginar diferentes desfechos para uma mesma situação” (MURRAY, 10:2003).

A série Sliders, em vários episódios, bem como muitas outras séries de FC, nos demonstram como os hábitos são difíceis de se modificar. Alertando-nos para isso, Maturana (1998) nos lembra que quando ingressamos uma criança em um colégio as interações com o ambiente em que ela está é que irão formar seus hábitos. Portanto, de acordo com a escolha dos pais, o professor e o educador têm uma enorme responsabilidade em suas mãos: estão influenciando a educação e o futuro de várias gerações, estão atuando como moldadores do futuro. Nesse contexto, trabalhar com diferentes pontos de vista futuros, pode ampliar reflexões sobre o presente.



EXISTEM SOLUÇÕES?



De acordo com Morin (1995), o tempo alterou-se devido a tecnologia civilizatória e dessa forma necessitamos literalmente desacelerar a marcha para chegarmos a um outro futuro.

O consumo vira histeria para os ricos. Procuram a bibelomania pensando apenas no aqui e agora, o turismo não procura relações pessoais, mas apenas folclores e monumentos. Morin (1995) nos alerta ainda para a seguinte questão: “Nossa civilização marcha para sua autodestruição ou sua metamorfose?” (MORIN, 92:1995).

Ele aposta na metamorfose, pois acredita que a esperança e a solução para os problemas da humanidade residem no verdadeiro amor. Maturana (1998) concorda com Morin a esse respeito. Ambos acreditam que o Amor seja a resposta primordial que mobiliza a solidariedade. Mas Maturana acrescenta: “prega-se o amor, mas ninguém sabe em que ele consiste porque não se vêem as ações que o constituem, e se olha para ele como a expressão de um sentir. Ensina-se a desejar a justiça, mas os adultos vivem na falsidade.” (MATURANA, 36:1998). Contradições à parte, o homem ainda tem muito que aprender, sem dúvida. O problema é que nossa tecnologia está evoluindo muito rápido e nós estamos apenas engatinhando na condição de compreendê-la e poder usá-la de forma inteligente. A desigualdade dessa evolução é tão evidente que tememos por nós mesmos. É como uma criança no berço com uma arma na mão. O perigo espreita constantemente.

Em contrapartida música, cinema, danças, jogos e brinquedos atravessam fronteiras levando a memória de quem os criou além de sua própria morte. (MENDES e NÓBREGA, 2004). É a verdadeira imortalidade através de seus feitos e não através de sua ganância, como nos lembra Hannah Arendt (2004). Além disso, a autora de Condição Humana, também afirma o que a biologia atualmente nos demonstra, que temos “tudo” dentro de nós. Essa afirmação é reforçada pelo filósofo Leandro Konder (42:2005), parafraseando os Ensaios de Montaigne: “cada indivíduo traz com ele, inteira, a condição humana”.

O Homo occidentalis de Morin, até a metade do século passado, era ignorante de que trazia toda a história do cosmo (identidade terrestre e cósmica) dentro de si. O filme Viagens Alucinantes – Altered States, USA (1980), de Ken Russell, demonstra didaticamente muito bem esse conceito quando o protagonista, após ter sido cobaia de sua própria experiência, viaja, literalmente, para dentro de sua mente, para o princípio da história da humanidade e da criação, quase que se obscurecendo totalmente. O cientista do filme, como muitos em nossa realidade, insistia em analisar a origem do homem apenas pela razão e pela práxis. Finalmente percebeu que as emoções, no caso, o amor, era que o salvaria.

Para Maturana “as emoções dominam a razão. Todo sistema racional se constitui no operar com premissas aceitas, a partir de uma certa emoção.(…) Conhecer as emoções do outro permite conhecer suas ações” (MATURANA, 16 e 23:1998). A série Jornada nas Estrelas-Nova Geração, através de seu personagem Data, expressa muito bem essa idéia da emoção por trás da razão. Data é um andróide sofisticado, análogo fisicamente com o ser humano, que é movido integralmente pela razão mas busca, constantemente, compreender os sentimentos humanos a ponto de receber um chip de emoções, pois só assim, no caso dele, isso seria possível. A busca frenética e utópica de Data por emoções humanas nos faz ponderar o quanto os sentimentos são importantes em nossas ações e na tomada de decisões. Antes de receber o chip, muitas vezes Data realiza algumas funções sem compreender o por quê de estar fazendo aquilo, precisamente por lhe faltar emoções. O fato de Data não entender o sentido das emoções e dessa forma não conseguir reproduzi-las como os humanos a compreendem (como as artes por exemplo), nos alerta como recorda Maturana (1998), para o quão eles são importantes em nossas ações e conseqüentemente em nossas vidas.



PLANETA SOB CONTROLE



O homem é guiado pela idéia de controle, o que acarreta a exclusão do outro. Além disso, como adverte Maturana (1998), “estamos imersos na idéia de que temos que controlar a natureza, porque cremos que o conhecimento permite o controle”. Na FC vemos constantemente essa crença sendo contestada. Os filmes que melhor exemplificam essa contestação são Impacto Profundo – Deep Impact, USA, (1998), de Mimi Leder, onde o ‘impacto’ não é apenas na natureza, mas no ego humano, que pensa ser dono e proprietário da natureza. Impotente perante uma ameaça de um asteróide gigantesco, um grupo seleto de pessoas é obrigado a esconder-se nas profundezas da terra, deixando, em sua hipocrisia, a maioria dos seres humanos do lado de fora, sob a alegação de que a humanidade precisava sobreviver. O Dia depois de Amanhã – The Day After Tomorrow, USA, (2004), de Roland Emmerich, é outro filme exemplar em demonstrar a arrogância do homem perante as forças da natureza. Um climatologista tenta alertar os governantes do planeta de que a Terra poderia estar prestes a extinguir-se como a conhecemos, em uma Nova Era Glacial, em conseqüência do derretimento da calota polar, por causa do buraco de ozônio mas, é ignorado. Tornados arrasam Los Angeles; um maremoto submerge Nova York e todo o hemisfério norte começa a congelar. O inimigo, neste caso, é imbatível, a própria natureza! Já o acolhimento dos sobreviventes do hemisfério norte pela população do hemisfério sul, é um interessante exemplo de alteridade e solidariedade que emergem como contrapartida a um futuro trágico.

A aceitação do outro é relevante, pois “se não tenho imaginação para incorporar aqueles japoneses [vítimas de Hiroshima e Nagazaki] no meu mundo, aceitando-os como legítimos outros na convivência, não posso preocupar-me com o que lhes acontece como conseqüência de meus atos”(idem, 73:1998).





USANDO FILMES DE FC NA ESCOLA



Usar trechos específicos dos filmes mencionados nesse texto bem, como de outros, que podem ser pesquisados pelo professor, seria o mais recomendado. Um trecho do início da obra cinematográfica Blade Runner, por exemplo, pode permitir ao educador explanar sobre nuvens, chuva ácida e poluição. Também podem ser explorados o conceito de superpopulação a inexistência de animais domésticos num futuro relativamente próximo. Narrativas fílmicas exercem uma forte atração sobre crianças e adolescentes e a presença delas em contextos de ensino pode contribuir para despertar o interesse por temáticas complexas e de difícil compreensão. Para uma edição “doméstica”, o professor interessado pode realizar sua fita matriz utilizando dois aparelhos de vídeo-cassete, ou, se for o caso, um computador potente que contenha placa de captura de vídeo e um gravador de DVD. Como nem todos têm acesso ao conhecimento da edição de imagens, recomenda-se a procura de profissionais da área e/ou produtoras de vídeo. O custo benefício acaba compensando, visto que as fitas (ou DVDs) editados poderão ser reutilizados em várias aulas. A maneira como serão utilizadas as imagens e a forma como o professor ministrará sua aula, poderá constantemente ser modificada de acordo com seu programa, seus objetivos e o tema em debate.

Os episódios de seriados de tevê não necessitam edição, pois costumam ser mais curtos, em comparação ao filmes feitos para cinema, tendo em geral de 45 a 50 minutos de duração. Eles também seriam uma forma adequada para discutir conceitos relativos a conteúdos específicos sobre o meio-ambiente. Alguns exemplos de episódios de várias séries foram citados nesse artigo e muitos outros podem ser encontrados e pesquisados pelo professor interessado. Muitas dessas séries estão entrando no mercado brasileiro e basta ficarmos alertas para seus lançamentos.

Vale lembrar que filmes não são meros instrumentos didáticos. Eles têm uma história, um contexto de produção e diferenças estéticas e narrativas que precisam ser mencionados quando da exibição deles em contextos de ensino. Filmes de ficção científica têm uma magia e um encanto muito próprios, são calcados na fantasia e estimulam a imaginação e a criatividade. Não devem, portanto, ser tomados exclusivamente como recurso para trabalhar um certo conteúdo curricular. O cinema é uma forma de arte e deve ser visto e apresentado como tal.





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