segunda-feira, 1 de julho de 2013

Aqui, barulho não entra

Aqui, barulho não entra

Se a sua escola tem ruído em excesso, é preciso tomar uma providência – mesmo que isso exija uma reforma


Escola ideal
O que observar ao construir um prédio para evitar que o barulho atrapalhe as aulas
O que observar ao construir um prédio para evitar que o barulho atrapalhe as aulas . Infografia: Bruno Algarve
Consultoria Marco Aurélio Losso, arquiteto e mestre em engenharia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O  ronco do motor dos carros, a música do estabelecimento vizinho, as conversas em voz alta no corredor, os gritos de gol vindos da quadra de esporte. Barulhos como esses se tornaram tão corriqueiros em algumas escolas que você nem percebe que tem de falar mais alto nas reuniões de equipe para ser entendido. Ou então que as portas das salas vivem fechadas - única maneira de diminuir os ruídos externos e deixar os ambientes mais tranquilos. O prejuízo maior, contudo, acontece na sala de aula: os professores precisam gritar para serem compreendidos e os alunos têm dificuldade para se concentrar nos estudos.

Se a sua escola convive com situações como essas, é provável que ela esteja fora dos padrões mínimos de conforto acústico. Logo, é preciso - urgentemente - tomar providências. É possível começar preenchendo o relatório Levantamento da Situação Escolar (LSE), que faz parte do Programa de Ações Articuladas (PAR), do Ministério da Educação (MEC), e elaborar um plano de adequação do prédio aos padrões de qualidade (leia o infográfico). O projeto, uma vez enviado ao MEC, é analisado por técnicos e, se aprovado, pode receber assistência técnica e financeira do governo federal. Muitas Secretarias da Educação, estaduais e municipais, também oferecem programas específicos para fazer as adaptações necessárias.

"O barulho intenso e constante traz consequências diretas à saúde do professor e dos alunos e perturba a atenção durante o processo de aprendizagem", afirma Ana Claudia Fiorini, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) (leia o quadro na próxima página).

Uma pesquisa do Centro de Estudos do Distúrbio da Audição, de São Paulo, feita com alunos do 5º ano, observou que, quando expostos a ruídos, eles leem mais rápido, dão menos ênfase à entonação e desrespeitam as regras de pontuação. Pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, chegaram a conclusões semelhantes ao avaliar os efeitos do som do trânsito diurno em alunos do 7º ano: os que estudam em escolas localizadas em áreas de tráfego intenso tiveram pior resultado nos testes de leitura - uma defasagem de sete meses - em relação às turmas de instituições situadas em áreas mais silenciosas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o som ambiente não pode ultrapassar os 50 decibéis (unidade de medida da intensidade do som) para não afetar a saúde. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no entanto, acredita que esse valor deve ser ainda menor: entre 40 e 50 decibéis em locais de estudo e laboratórios e entre 35 e 45 em bibliotecas (faça o teste sugerido na próxima página para saber o nível de inteligibilidade das salas da sua escola).

A solução pode se limitar a uma simples intervenção na infraestrutura ou no uso dos espaços. Na EM Paulo Mendes Campos, de Belo Horizonte - que fica em área de aclive, próxima a um semáforo de uma avenida movimentada -, os alunos e professores sofriam com o ronco dos motores de carros e ônibus acelerando a todo momento. A direção solicitou então laudos técnicos para comprovar o excesso de ruído. Com base neles, preparou um projeto de reforma, aprovado pelas Secretarias de Educação e de Obras do município, em 2007. A principal mudança foi a troca das janelas por tijolos espessos de vidro.

Já o CMEI Bairro Feliz, em Goiânia, tinha uma rotina tranquila, exceto às sextas-feiras, quando acontece o baile da associação de idosos do bairro - cujas paredes são coladas às da creche. A diretora, Rosemeire Brito da Silva, conversou com a entidade e pediu para o evento começar às 16 horas (em vez de às 13 horas). Assim, as crianças voltaram a dormir após o almoço e, depois do soninho, vão brincar na quadra, que fica distante da casa dos vizinhos.

Às vezes, é necessário uma reforma mais consistente. Na EMEB Maria Eunice Duarte Barros, em Cuiabá, a equipe gestora tentou uma solução simples, revestindo de cimento as paredes de tijolos vazados. Não deu certo. "As atividades realizadas em um espaço podiam ser ouvidas em todos os outros", conta a coordenadora pedagógica, Maria Benedita Martelli. Em 2009, com o suporte da rede de ensino, o prédio - originalmente não projetado para ser escola - foi todo reconstruído.