sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Tabagismo é doença

Enviado em 18/02/2014 às 21h53, última atualização: 19/02/2014 às 10h22.

Tabagismo é doença

Pesquisa mostra que número de fumantes caiu, mas ainda é alta a incidência de usuários do tabaco
DIÁRIO DA MANHÃ
APARECIDA ANDRADE
O último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a epidemia do tabagismo mostra que no mundo existem aproximadamente 1,2 bilhões de fumantes. Só no Brasil, eles são mais de 38 milhões. O vício, apesar de não ter restrições legais, é doença e está por trás de muitos casos de infarto, derrame, enfisema de pulmão e tumores. Em agosto de 2012, uma pesquisa feita pelo Ministério da Saúde revelou a queda de 20% no índice de fumantes em seis anos. Isso se deve a campanhas oficiais ou não de combate ao tabagismo. O MS, por exemplo, possui o telefone 0800611997, para orientar e encaminhar viciados ao tratamento. Fumante há 52, o administrador Carlos Luiz de Oliveira, 63 anos, é um desses pacientes que pretende conseguir apoio do SUS, mas reclama da burocracia para conseguir o atendimento.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Carlos Luiz começou a fumar quando tinha 11 anos e desde então nunca mais parou. Recentemente, após ter que passar por uma cirurgia para a colocação de um Stent, uma endoprótese expansível inserida em um conduto do corpo para impedir o estreitamento do fluxo no local por entupimento das artérias, ele resolveu procurar ajuda para parar de fumar. “Eu nunca me preocupei de deixar de fumar, até que eu tive esse problema de saúde”, reconhece.
Na tentativa de deixar o vício, Carlos buscou ajuda no Sistema Único de Saúde (SUS) ligando no Disque Saúde, 0800611997, número divulgado na própria carteira do cigarro. Mas para sua surpresa, houve demora no atendimento e quando foi atendido, pouco foi feito. “A coisa só funciona é bonito no papel”, diz, se referindo as campanhas de combate ao tabagismo, feitas com o objetivo de alertar as pessoas para os riscos que o cigarro traz à vida e o apoio que se prestam dar a sociedade. Que de acordo com ele, só existem no papel que de fato, não são visíveis.
Segundo ele, o processo é muito burocrático. Carlos explica que, ao ligar, o SUS o encaminhou para a Secretaria Municipal de Saúde, em Goiânia, que passou para ele vários números de telefones, de postos de saúde próximo a casa dele, para que fosse verificado qual deles estavam cadastrados no programa de combate ao tabagismo. “Eles te passam vários números e você vai ligando e não encontra ninguém para te dar apoio”, lamenta.
Luiz resolveu recorrer ao Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (Craspi), na tentativa de dar início ao tratamento do vício que o acompanha há 52 anos. Mas, mais uma vez foi surpreendido com a falta de organização da instituição. “Gentilmente me disseram que não havia vaga no momento, e está previsto abrir uma turma para o segundo semestre de 2014. Por que o Disque Saúde não funciona? Por que não existe uma coisa mais concreta?”, protesta.
Segundo informações fornecidas pelos SUS, quando a pessoa liga para o Disque Saúde em busca de ajuda para combater o vício, aguarda no máximo um minuto para ser atendida e em seguida são passadas orientações do que a pessoa deve fazer para adquirir o tratamento.
A primeira orientação é que a pessoa deve ligar para a Secretaria de Saúde do município para saber quais são os postos de saúde que fazem o tratamento ou oferecem palestras, psicólogos, reuniões, material com informações. Além de consultas com clínicos para verificar se o paciente deve ou não aderir ao tratamento com medicamentos, seja ele via oral, goma de mascar ou base de nicotina e o adesivo.
Como Luiz não obteve sucesso nesse procedimento depois de recorrer ao sistema de saúde pública, ele chega a uma conclusão: “Para mim existe um problema na administração, uma espécie de desinteresse pela causa, eu preciso de ajuda onde ela está”, acredita. Conta que faz um mês que procura ajuda sem obter resultados positivos. “Vou partir para o campo do particular”, acredita ser a única opção.
De acordo com o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), em 2012, 15,6% da população brasileira declarou ser fumante, enquanto o índice do primeiro levantamento, feito em 2006, era de 19,3%.  Embora o número de fumantes tenha diminuído a pesquisa também mostra que entre os que continuam consumindo tabaco, o hábito se intensificou. A média de consumo diário de cigarros em 2006 era de 12,9 para 14,1 em 2012. Para o oncologista José Carlos de Oliveira, as doenças relacionadas ao cigarro podem demorar mais de 20 anos para se manifestar, explicando, em parte, por que muitos fumantes simplesmente não querem parar.