Projeto planeja transformar o centro de São Paulo com parques verticais
Por , iG São Paulo |
Cerca de 400 prédios do centro expandido podem ser forrados por jardins e mudar a paisagem urbana da cidade
Um movimento planeja forrar com jardins verticais centenas de paredes imensas, sem janelas e maltratadas pelo tempo que ajudam a tornar ainda menos acolhedora a cinzenta paisagem urbana de São Paulo.
Construídas como elemento obrigatório por lei, elas permitiam que os prédios se enfileirassem à medida que a cidade crescia. Acabaram, no entanto, virando placas sem vida no cenário urbano na década de 1950, quando a regra mudou e passou a valer a exigência de espaços de circulação de ar entre os prédios. A propaganda ocupou boa parte destes paredões, que voltaram a ficar desnudos quando a Lei Cidade Limpa entrou em vigor, em 2007.
Veja fotos de jardins verticais e projetos do Movimento 90°:
Incomodados com a falta de espaços verdes e o costume dos moradores de viajar para outras cidades em busca de contato com a natureza, um estudante de paisagismo e um de arquitetura tiveram a ideia de ocupar com jardins os paredões - tecnicamente chamados de “empenas cegas”. Juntos, começaram a formar o Movimento 90°, que hoje reúne dezenas integrantes. O grupo lançou em maio de 2013 um manifesto pela instalação de jardins verticais e, até dezembro, tirou três projetos do papel, ocupando espaços na rua Augusta, na rua Aspicuelta e no Minhocão.
A inspiração veio do trabalho do botânico francês Patrick Blanc. Considerado o pai dos jardins verticais, Blanc começou a implantá-los a partir da década de 1990. A ideia surgiu em viagem ao Brasil, quando percebeu que, por trás das cachoeiras, as plantas da Mata Atlântica se agrupavam verticalmente. Há dezenas de jardins verticais projetados por Blanc ao redor do mundo, como o da fachada do Museu du quai Branly, em Paris, e do jardim botânico de Nova York.
No centro expandido de São Paulo, o Movimento 90° cadastrou 390 edifícios com interesse em receber jardins verticais. O primeiro passo do processo é o mapeamento das áreas. Em seguida, a dura tarefa de convencer os moradores para depois correr atrás de patrocinadores.
Pavor de inseto
Além do frequente pavor urbano de conviver com lagartas, passarinhos e pequenos insetos, é preciso driblar também o medo de ratos e de infiltração. Houve um caso em que, prestes a começar a obra, já com patrocínio acordado, um dos moradores recusou-se veementemente a colaborar com as obras com a certeza de que sua casa seria invadida por roedores.
Os insetos, no entanto, fazem parte do projeto, à medida que a polinização ajuda a espalhar o verde pela cidade. “Em qualquer lugar que tenha flora, o certo é que haja fauna, responsável inclusive pela reprodução das plantas. Acreditamos que a presença da fauna é o que vai garantir o aumento da biodiversidade. Se não tiver passarinho, abelha, mosquito, nenhum tipo de inseto, aquelas plantas vão continuar no jardim e não vão se espalhar pela cidade”, diz o hoje paisagista Guil Blanche, um dos estudantes que idealizou o projeto.
Estrutura
A preocupação com ratos, segundo Blanche, é infundada, pois não há como subirem ou se alimentarem na estrutura. O jardim é construído sobre um suporte instalado a 5 centímetros de distância da parede, o que afasta o risco de infiltração. . Há sistemas de irrigação e fertilização automáticos paralelos que, no caso de incidência de pragas, podem ser usados para pulverização de pesticidas. A implantação leva cerca de 20 dias.
O patrocinador banca o projeto de um a três anos e se compromete a retirar o jardim no fim do prazo, caso o condomínio se recuse a assumir os custos de manutenção. A dificuldade de conseguir patrocinadores, segundo Blanche, está em encontrar diretores de marketing dispostos a "deixar um legado para a cidade". Na implantação do projeto, o desafio é lidar com a estrutura antiga das paredes e a falta de espaço físico no entorno.
A instalação dos jardins diminui em 60% a concentração de fuligem no entorno e em 30% a poluição em geral. O barulho reverberado pelos paredões é abafado pelas plantas e a incidência de sol e calor, amenizada. O maior desejo de Blanche é ver o Minhocão transformado em um corredor verde, com a ocupação das 140 “empenas cegas” mapeadas formando um verdadeiro parque vertical.