Cidades e Soluções acompanha obras no Rio para as Olimpíadas de 2016
A menos de três anos da competição, ritmo do bate-estaca não deixa ninguém esquecer a corrida contra o tempo. Qual será o legado olímpico para a cidade?
A menos de três anos dos Jogos Olímpicos de 2016, várias intervenções urbanas ocorrem no Rio de Janeiro por causa do evento esportivo. Será que vai dar tempo? Qual vai ser o legado olímpico? Nas ruas da cidade, uma outra Olimpíada já começou. O ritmo do bate-estaca não deixa ninguém esquecer a corrida contra o tempo.
O Rio já percebeu que as Olimpíadas vão dar muito mais trabalho do que a Copa. Em vez de sete jogos de futebol num só estádio, serão dezenas de campeonatos mundiais disputados simultaneamente, espalhados por toda a cidade.
Das 35 instalações esportivas que vão receber competições no Rio, 18 já existem, oito serão temporárias e nove vão ser construídas especialmente para a primeira edição das Olimpíadas na América do Sul.
Transportes
A Linha 4 do metrô vai ter sete estações, ligando Ipanema à Barra da Tijuca. A obra do metrô está com prazo bem apertado e deve ser a última a ser inaugurada, pouco antes da abertura dos Jogos. O Tatuzão, uma furadeira com 11 metros de diâmetro e 120 metros de comprimento, está pronto para essa corrida contra o relógio.
A Linha 4 do metrô vai ter sete estações, ligando Ipanema à Barra da Tijuca. A obra do metrô está com prazo bem apertado e deve ser a última a ser inaugurada, pouco antes da abertura dos Jogos. O Tatuzão, uma furadeira com 11 metros de diâmetro e 120 metros de comprimento, está pronto para essa corrida contra o relógio.
“Sem dúvida nenhuma, ela é uma obra que tem um prazo apertado. A gente não pode brincar com o prazo dela, mas ela está totalmente dentro do previsto. Então, ela vai ser entregue no primeiro trimestre de 2016, mas o cronograma está completamente dentro do que foi previsto e nós vamos entregá-la”, promete o secretário de estado da Casa Civil, Regis Fichtner.
O metrô acaba onde começa a rede do BRT. O projeto completo prevê 150 quilômetros de corredores expressos e quatro linhas cortando a cidade em várias direções.
O primeiro trecho da Transcarioca deveria estar pronta até dezembro, mas a entrega da obra ainda está distante. O corredor expresso vai ser o cartão de visitas do sistema de transportes, ligando o Aeroporto do Galeão ao Terminal Alvorada, na Barra, perto dos locais de competição e alojamento dos Jogos. Vai ser a linha principal para os 200 mil visitantes que devem chegar para os Jogos. Tem que estar pronta em 2014, antes da Copa.
A Transolímpica vai ser uma nova avenida para carros e BRT. O traçado corta a Zona Oeste, de Deodoro até o Recreio. A Transbrasil, que ainda nem saiu do papel, só será concluída depois das Olimpíadas. De acordo com o projeto da Prefeitura, nos seus 32 quilômetros de extensão, a Avenida Brasil vai receber uma série de melhorias viárias, além de um corredor do BRT.
Quando tudo estiver pronto, o Rio finalmente vai ter um sistema que vai permitir atravessar todas as regiões da cidade sem se misturar ao tráfego dos carros, usando metrô, trens e o BRT.
“O carioca que optar pelo transporte público vai ter uma ideia exata do tempo de deslocamento em cada um dos corredores. Um efeito importante dessa reformulação também será a redução significativa da quantidade de ônibus convencionais que hoje circulam no Rio de Janeiro. Na nossa previsão, a quantidade de ônibus no Rio de Janeiro vai diminuir de 8 mil para alguma coisa em torno de 5.500 ônibus”, afirma o secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osório.
O transporte ferroviário também vai passar por transformações. A previsão é de que, em 2016, a frota da Supervia tenha 221 trens, todos com ar condicionado.
Novidades também no mar. A partir do segundo semestre de 2014, começam a chegar as nove embarcações com ar condicionado, compradas pelo governo do estado. As estações das barcas também estão sendo reformadas.
Em toda Olimpíada, o transporte é o desafio principal. E no Rio, ainda mais.
Em toda Olimpíada, o transporte é o desafio principal. E no Rio, ainda mais.
Engenhão
Uma obra feita para os Jogos Pan-americanos, em 2007, hoje deveria ser um modelo. A frágil cobertura do Engenhão ainda ameaça desabar. Os trabalhos de reforço já começaram.
Uma obra feita para os Jogos Pan-americanos, em 2007, hoje deveria ser um modelo. A frágil cobertura do Engenhão ainda ameaça desabar. Os trabalhos de reforço já começaram.
Operários especialistas em grandes alturas removem todo o excesso de peso. Canaletas, fios, quadros de luz fazem a longa jornada de quase 80 metros rumo ao chão. O projeto prevê a instalação de quatro mastros gigantescos sustentando cabos.
O destino grandioso do estádio já foi traçado: em 2016, o Engenhão vai ser o estádio do atletismo, um evento que é considerado o mais importante das Olimpíadas. As obras vão durar um ano. A previsão é que o estádio seja entregue para o futebol em novembro de 2014.
Segundo a prefeitura, nem um centavo de dinheiro público está sendo gasto na obra. “Em termos de custo, é como se você comprasse um carro hoje com garantia de cinco anos, que é a garantia contratual pelas leis brasileiras, e o motor do seu carro tivesse dado um problema e você tivesse que trocar o motor inteiro. Você cobraria a concessionária e a fábrica para trocar esse motor”, diz o secretário municipal de Obras do Rio, Alexandre Pinto.
As obras para as Olimpíadas vão ser feitas com o estádio em funcionamento. A nova pista de atletismo e as arquibancadas provisórias vão elevar a capacidade do Engenhão para 60 mil pessoas.
Mas as maiores mudanças estarão do lado de fora, para que o Engenhão não pareça mais um gigante fora de lugar, espremido entre as pequenas ruas do bairro. No projeto, caem muros e surgem espaços de lazer. Toda a área dos antigos galpões ferroviários da Central do Brasil vai ser reformada e aberta ao público, numa obra de R$ 120 milhões.
O trem é o meio de transporte público mais indicado para o torcedor que vai ao Engenhão. Mas a estação Engenho de Dentro, que fica bem em frente ao estádio, costuma superlotar em dias de jogos. A saída dos torcedores sempre é complicada, mas até o momento, segundo a Supervia, não há planos de ampliação nem reforma da estação.
Parque Olímpico
O Centro Aquático só vai ficar pronto no começo de 2016. O Centro de Tênis já começou a ser erguido. Três arenas da iniciativa privada, basquete, judô, esgrima e mais três modalidades, ficam prontas em 2015. A Arena de Handebol vai ser removida e vai se transformar em quatro escolas depois dos Jogos.
O Centro Aquático só vai ficar pronto no começo de 2016. O Centro de Tênis já começou a ser erguido. Três arenas da iniciativa privada, basquete, judô, esgrima e mais três modalidades, ficam prontas em 2015. A Arena de Handebol vai ser removida e vai se transformar em quatro escolas depois dos Jogos.
Na entrada do parque, o cartão de visitas, o Velódromo, considerado o projeto mais bonito. Atletas de 204 países vão dar vida ao espaço de mais de um milhão de metros quadrados. As obras são acompanhadas por quem está do outro lado do mundo e do outro lado do muro.
O projeto do Parque Olímpico prevê a remoção de cerca de 220 famílias da Vila Autódromo. Cerca de 180 já aceitaram ser transferidas para casas no parque carioca, a um quilômetro de distância. Mas, segundo a Associação de Moradores, outras 40 lutam para permanecer.
“Eu não sou contra os Jogos, porque esporte é saudável. Eu entendo assim, mas não pode servir de manobra para massacrar o povo”, afirma o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Antunes Guimarães.
“A Vila Autódromo é uma situação resolvida. Aqueles que a gente quer que saiam, para fazer os acessos ao parque, já assinaram com a gente. O que a gente tem são pessoas que a gente deixou ficar e que agora estão protestando porque querem sair, mas não é preciso sair. Então, quem está lá vai ficar. Não tem problema nenhum”, declara o prefeito Eduardo Paes.
Já um outro grupo que frequentava a região não tem mais como ficar. As curvas do Autódromo de Jacarepaguá deram lugar a um outro traçado.
“Havia o anúncio de que a cidade se candidataria a ser sede olímpica de 2016, e nós já estávamos quase que desiludidos, porque o terreno do autódromo é muito valioso e, a todo momento, alguma coisa se queria fazer no autódromo. E a CBA dependia do município para fazer a manutenção do autódromo e manter a pista em condição de competição”, afirma o diretor da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), Felipe Zeraik.
Complexo Esportivo de Deodoro
A promessa de construir um novo autódromo não foi cumprida. Seria em Deodoro, uma outra região que agora vai ser olímpica. O problema é que lá as obras para 2016 ainda nem saíram do papel.
A promessa de construir um novo autódromo não foi cumprida. Seria em Deodoro, uma outra região que agora vai ser olímpica. O problema é que lá as obras para 2016 ainda nem saíram do papel.
“Deodoro é mais simples do que o Parque Olímpico, porque lá já existe. Ela é uma Vila Militar, já tem um complexo esportivo que foi usado nos Jogos Pan-americanos e nos Jogos Militares. Então, nossa missão é adaptar esse complexo esportivo e ampliá-lo para alguns jogos que hoje não existem”, diz a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos.
Não pode haver atrasos porque as instalações precisam receber os eventos-teste, de preferência em 2015. E os jogos começam bem antes da cerimônia de abertura, marcada para 5 de agosto de 2016.
Vila Olímpica
O gigantesco complexo de 3.604 apartamentos e 17.950 camas tem que abrir as portas 20 dias antes das Olimpíadas. A maioria dos hóspedes vai ficar bem perto dos locais de competição e com um cartão postal diante das janelas que ainda vão surgir.
O gigantesco complexo de 3.604 apartamentos e 17.950 camas tem que abrir as portas 20 dias antes das Olimpíadas. A maioria dos hóspedes vai ficar bem perto dos locais de competição e com um cartão postal diante das janelas que ainda vão surgir.
Meio ambiente: Rio é ouro em lançamento de lixo e esgoto
Desde 1995, o Comitê Olímpico Internacional estimula a realização de jogos que promovam a sustentabilidade. Se beleza natural fosse uma prova olímpica, o Rio de Janeiro estaria certamente em um lugar de destaque no pódio.
Mas a cidade que vai sediar os Jogos de 2016 é medalha de ouro em lançamento de lixo e de esgoto no lugar errado. Um risco para o sucesso do maior evento esportivo do planeta.
As lagoas contaminadas estão situadas na região da cidade que concentra a maior parte das instalações olímpicas, onde circularão a maioria dos atletas, dirigentes, jornalistas e do público que vai acompanhar as competições.
“Praticamente toda a bacia hidrográfica, todos os canais, rios que chegam às lagoas da Baixada de Jacarepaguá foram transformados em valões de lixo e esgoto. Qualquer coisa que precise de oxigênio dentro da água não existe mais”, explica o biólogo Mário Moscatelli.
André Trigueiro: Considerando o tempo de que falta para os Jogos Olímpicos, dá tempo de retirar com a dragagem tudo o que precisa sair daqui?
Mário Moscatelli: Teria sido bom que a gente tivesse iniciado esse processo um ano atrás, porque você vai encontrar muito problema aqui dentro. Nós temos 32 meses até os Jogos Olímpicos, e a dragagem está estimada em 30 meses, ou seja, a gente está além do laço. Deveria já ter começado.
Mário Moscatelli: Teria sido bom que a gente tivesse iniciado esse processo um ano atrás, porque você vai encontrar muito problema aqui dentro. Nós temos 32 meses até os Jogos Olímpicos, e a dragagem está estimada em 30 meses, ou seja, a gente está além do laço. Deveria já ter começado.
Também na região da Barra da Tijuca está sendo construído o campo de golfe oficial dos Jogos 2016, na gigantesca área de quase um milhão de metros quadrados na Reserva de Marapendi.
Pelo projeto, após a realização dos jogos, o campo será aberto ao público por dez anos. Depois, serão construídos no local 22 prédios com 22 andares cada um. Tudo isso acontece em uma área que era de proteção ambiental.
Em uma tacada, a Câmara dos Vereadores derrubou, numa votação-relâmpago, há oito anos, a proteção da reserva. A segunda tacada foi da Prefeitura no início de 2013: por decreto, deu-se a autorização para a construção do campo de golfe olímpico, sem estudos de impacto ambiental. A questão é que os campos de golfe costumam receber vários produtos químicos para ficarem na resolução certa, parecidos como um tapete.
O engenheiro agrônomo Breno Couto, especialista no assunto, não conhece em detalhes o projeto do novo campo de golfe olímpico, mas sabe o que um gramado precisa para crescer do jeito certo.
“Além dos fertilizantes químicos, são utilizados herbicidas, inseticidas, e eventualmente um fungicida. O campo de golfe gera algum impacto ambiental. Cabe às autoridades prever esses impactos, estudar e tentar minimizá-los”, sugere o engenheiro agrônomo Breno Rodrigo Couto.
O secretário municipal de Meio Ambiente disse que o licenciamento do campo de golfe está sendo feito por partes e que, a cada nova etapa do projeto, um novo estudo ambiental precisa ser feito. Mas admitiu que hoje ainda faltam informações importantes.
André Trigueiro: A prefeitura sabe hoje quantos produtos químicos serão usados nesse campo de golfe para que ele tenha o gramado na resolução que se deseja?
Carlos Alberto Muniz (secretário municipal de Ambiente/RJ): Não. A prefeitura não sabe com certeza. Primeiro, nós sabemos que eles vão precisar apresentar e eles vão ter que se integrar a uma solução que seja ao mesmo tempo apresente as medidas mitigadoras, porque a especificidade desse campo é a sua inserção dentro de uma unidade com um ecossistema bastante frágil.
Carlos Alberto Muniz (secretário municipal de Ambiente/RJ): Não. A prefeitura não sabe com certeza. Primeiro, nós sabemos que eles vão precisar apresentar e eles vão ter que se integrar a uma solução que seja ao mesmo tempo apresente as medidas mitigadoras, porque a especificidade desse campo é a sua inserção dentro de uma unidade com um ecossistema bastante frágil.
Se na região da Barra ainda há perguntas sem resposta, na Lagoa Rodrigo de Freitas as autoridades garantem: as provas olímpicas de remo e canoagem poderiam acontecer hoje mesmo, sem nenhum problema. Embora não se recomende o banho nessas águas, elas não ofereceriam nenhum tipo de risco aos competidores.
Situação bem diferente da Baía de Guanabara, onde acontecerão as provas de iatismo. Em um dos principais cartões postais do Brasil, o grande desafio é cumprir o compromisso de reduzir a poluição em 80% até os Jogos. Algumas obras estão atrasadas.
É o caso do saneamento de algumas comunidades recém ocupadas por UPPs. Para o presidente da Cedae, a obra mais importante será a ampliação da capacidade de tratamento de esgoto da Estação da Alegria, no Caju.
“É uma melhoria muito grande de retirada de esgoto no lançamento na boca da Baía de Guanabara, que impacta não só algumas outras praias do lado leste da baia, mas regiões como Ilha do Governador e Paquetá”, diz presidente da Cedae, Wagner Victer.
Como o tempo é curto, e a quantidade de lixo e esgoto lançados na baía é muito grande, as autoridades recorrem a medidas paliativas. É o caso dos dez barcos que deverão retirar o lixo do espelho d’água da baía evitando acidentes com iatistas e velejadores olímpicos.
Ou ainda das unidades de tratamento de rios, as UTR’s, que tratam o esgoto na própria calha do próprio rio. Segundo o secretário estadual do Ambiente, para cumprir a meta de despoluição 80% da baía até 2016, não dá para abrir mão dessas medidas.
“Ponto nevrálgico: o saneamento. Em sete anos, triplicou de 12% para 38%, mas não chegamos nem na metade da meta. Então a gente precisa avançar o saneamento formal e investir nas unidades de tratamento de rio. Não é saneamento, mas tira a poluição do corpo da Baía de Guanabara”, afirma secretário estadual do Ambiente do Rio, Carlos Minc.
Todas as emissões de gases estufa dos Jogos de 2016 serão compensadas com o plantio de árvores. Pelas contas da secretaria do Ambiente, serão emitidas três milhões e meio de toneladas de carbono. Por isso, será necessário plantar no mínimo 18 milhões de novas árvores em todo o estado do Rio.