domingo, 8 de setembro de 2013

Parque Augusta não é prioridade




Em encontro na sexta-feira com vereadores da Frente Parlamentar Pela Sustentabilidade, o prefeito Fernando Haddad (PT) deixou claro que a criação do Parque Augusta, na zona oeste de São Paulo, não é uma prioridade da atual gestão. Ele afirmou que, se tivesse os R$ 100 milhões necessários para desapropriar o terreno, “usaria essa verba para fazer mais creches.”
Procurada, a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente informou que “não há recursos disponíveis” para a desapropriação.
A criação do parque é uma demanda da Sociedade dos Amigos, Moradores e Empreendedores do Bairro de Cerqueira César (Samorc) e de coletivos que atuam na região central, como o Matilha Cultural. No terreno de 25 mil metros quadrados, que agrega um dos últimos fragmentos de Mata Atlântica no centro paulistano, as incorporadoras Setin e Cyrela pretendem construir duas torres (uma residencial e outra comercial), entre as ruas Caio Prado, Marquês de Paranaguá e Augusta.
Nabil Bonduki (PT), parlamentar governista presente no encontro, confirmou ao Estado que o prefeito declarou não ser uma prioridade no momento fazer o parque. O prefeito deu a resposta após ser questionado pelo vereador Aurélio Nomura (PSDB) sobre o assunto. “O prefeito explicou que não temos recursos para suplementar a desapropriação (do parque) e nós colocamos que seria importante tentar recursos de outras formas para viabilizar o projeto”, disse à reportagem Bonduki.
O vereador petista declarou que o parque pode ser viabilizado por outras formas que a frente parlamentar pretende sugerir ao prefeito, como o uso de recursos pagos ao governo por construtoras que ergueram prédios recentemente na Rua Augusta. “Muitos prédios pagaram outorga onerosa à Prefeitura, e essa verba poderia ser usada”, acrescentou Bonduki.
Segundo o projeto das incorporadoras previsto para o terreno,  haverá uma ligação do empreendimento com a Praça Roosevelt por meio de um bulevar na Rua Gravataí, que teria menos lugar para carros. O projeto também prevê que 82% do espaço será de acesso público e que 10 mil metros quadrados de mata serão preservados e restaurados, para dar origem a um parque a ser administrado com verba privada.
O projeto, porém, sofre oposição do comitê Aliados do Parque Augusta e da Samorc. Um decreto assinado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) em 2008 prevê a desapropriação do terreno para a transformação de parque. Mas Kassab deixou a decisão para seu sucessor, no ano em que seu decreto terá, em setembro, a validade expirada.
Gilberto Natalini (PV) e Floriano Pesaro (PSDB) também relataram à reportagem que o prefeito disse não ser prioridade o Parque Augusta. “Uma região que recebeu tantos prédios merecia ganhar agora uma área verde”, criticou o tucano. Governista, Police Neto (PSD), ex-presidente da Câmara, disse que o fato de não ter verba agora para desapropriação não significa que a atual gestão não vai fazer o parque. Ele já sabia antes do encontro de sexta que o governo não teria verba para fazer a desapropriação.
“O governo não tem mesmo esse dinheiro. Outras formas precisam ser estudadas, como uma parceria público-privada, para que a desapropriação possa acontecer”, disse o vereador.
Haddad aproveitou o encontro para cobrar vereadores tucanos presentes (Nomura, Pesaro e Mario Covas Neto) a ajudarem a Prefeitura a pedir mais contrapartidas pela construção do trecho norte do Rodoanel. O governo estadual quer pagar R$ 60 milhões em contrapartidas, mas o governo municipal considera que deveria receber pelo menos R$ 200 milhões pelo impacto ambiental e social da obra – mais de 7 mil famílias serão removidas de suas casas na zona norte.
Moradores pedem criação do Parque Augusta; na quinta-feira eles prometem fazer vigília no terreno

Na quinta-feira moradores pretendem fazer um protesto pela criação do parque ao lado da Praça Roosevelt. Célia Marcondes, presidente da Samorc, disse que pretende continuar mobilizando entidades para pressionar o prefeito. “Pode não ser prioridade para ele, mas é nossa. São 36 prédios sendo construídos nessa região, para onde vai o dinheiro da outorga onerosa desses prédios? Nós precisamos de um parque nessa área onde houve um aumento da população e dos carros”, argumentou a urbanista.