17/08/2013 - 12h23
Haddad deve ser julgado pelo mandato e não por seis meses, diz ministro
FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Depois que o prefeito Fernando Haddad (PT) desistiu de uma das principais promessas de campanha, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) saiu em defesa do companheiro de partido neste sábado (17), dizendo que correções de rota e orçamento são "naturais".
Ontem, a administração anunciou que obras estratégicas do Arco do Futuro --uma das principais promessas de campanha do prefeito de São Paulo-- não são mais prioridade.
"Quando olho para a gestão do Fernando, lembro que o Lula dizia: não me julguem por seis meses, por um ano. Me julguem pelos quatro anos", disse Carvalho, durante um evento para a família de funcionários da Presidência no Palácio do Planalto. O ministro foi chefe de gabinete nos oito anos do governo Lula.
Para Carvalho, o Arco do Futuro não vai sair do papel agora por uma questão de ajuste orçamentário. "Correção de rota e orçamento é natural a depender da conjuntura. Ele contava não gastar tanto no transporte. Está tendo que injetar mais recursos no transporte", justificou.
COMUNICAÇÃO
A secretária de Planejamento e Gestão, Leda Paulani, anunciou ontem (16) a desistência de construir as vias paralelas à marginal Tietê que faziam parte do projeto.
Apesar de não revelar o valor, as obras são consideradas "caras" e, por isso, a prefeitura não tem condições orçamentárias de fazê-las.
Para o ministro, se o prefeito esclarecer bem a população sobre as circunstâncias do ajuste orçamentário, o impacto da desistência não causará danos à administração do petista.
"Tudo depende de uma boa comunicação para mostrar à população que você não está faltando com seriedade. Você esta adaptando seus projetos à situação econômica", disse.
17/08/2013 - 03h50
Análise: Desistência pode sinalizar nova concepção de desenvolvimento
VALTER CALDANA
ESPECIAL PARA A FOLHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A desistência por parte da prefeitura de iniciar algumas obras viárias de grande porte previstas para os próximos anos, inclusive no Arco do Futuro, pode ser entendida de duas maneiras.
De um lado, a atual gestão assume posição confortavelmente austera quanto ao empenho das verbas orçamentárias (in)disponíveis. Porém, coloca-se numa posição pouco afeita ao espírito empreendedor paulistano e abandona, assim, parte da motivação de sua eleição.
De outro, a prefeitura se dispõe a enfrentar o maior desafio da cidade de São Paulo nos últimos 80 anos: definir as diretrizes conceituais e as bases reais da cidade do século 21, superando o atual modelo vigente.
Na primeira hipótese a desistência é mau sinal. Diminuir investimentos, sobretudo em infraestrutura, gera deficits monstruosos como os que temos ainda hoje.
No entanto, observada a segunda hipótese, o que se tem é a possibilidade de que a gestão Haddad esteja sinalizando de modo concreto que pretende mudar as bases do desenvolvimento urbano.
Deste modo, encara a dependência que a cidade tem do transporte individual como forma privilegiada de locomoção e autoafirmação. Respeita também os processos em andamento de consulta à sociedade para a revisão do Plano Diretor e dos demais instrumentos de planejamento da cidade, incluída a tão cobiçada lei de zoneamento.
São Paulo vive hoje a necessidade inadiável de se redefinir. É chegada a hora de assumir, coletivamente, que o modelo de cidade dispersa e rodoviarista que nos trouxe até aqui se esgotou, está exaurido e sem combustível.
Assim sendo, superar o atual modelo e construir as bases da cidade do século 21, compacta, pública, eficiente, inclusiva e bela, é o desafio que está colocado para esta gestão e para a sociedade.
Se for para trilhar esse caminho, adiar as obras pode ser um marco positivo. Aguardemos os próximos passos.
VALTER CALDANA é arquiteto e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da universidade Mackenzie