A (in)sustentabilidade da vida
Quanto mais se discute a sustentabilidade do desenvolvimento, que travou justamente nessa questão – como desenvolver, praticando os mesmos comportamentos e as mesmas fórmulas? – mais se afirma que a esperança está nesse momento de crise global.
O cachorro se diverte tentando morder o próprio rabo, enquanto a caravana passa com suas tropas de mendigos de todas as nacionalidades. Pois é disso que se trata: a impotência ou a covardia de se identificar o epicentro desse tempo tumultuado.
Todas as abordagens esbarram nesse enigma de esfinge, que logo é contornado sem resposta. “Arrisco a hipótese de que talvez tenhamos chegado a um momento de ruptura”, escreve o francês Edgar Morin, colocando em uma só frase todas as impossibilidades do discurso: arrisco, hipótese, talvez (tenhamos chegado), ruptura. O mais concreto dentro desse contexto é a ruptura, que não se completa, no entanto. Por quê?
Porque ninguém se aventura a descartar as velhas estratificações dos negócios entre pessoas e países; os velhos modelos de produção e, na verdade, o mundo hoje sobrevive (esta é a constatação correta) de sobrevivências culturais e econômicas, isto é, a ruptura já se fez, não é mais hipótese nem talvez a que tenhamos chegado – já chegamos, sim.
O que mais desenha esse momento da crise são os jovens equilibristas sob os semáforos das avenidas congestionadas, em uma tentativa desesperada de não deixar os limões, as bolas caírem.
Morin, em parceria com o filósofo Patrick Viveret, acaba de ter traduzido para o Brasil “Como viver em tempo de crise”. Não é, como sugere o título, um manual de autoajuda, mas um esforço de refletir sobre o medo de assumir o novo em que a humanidade tropeça,sem ânimo de tirar o entulho do caminho.