quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Aquapolo Ambiental

Água de reúso



Conheça o projeto Aquapolo Ambiental, complexo que produz recursos hídricos para atividades industriais a partir de esgoto tratado. Empreendimento poderá evitar o consumo de água potável suficiente para abastecer cidade com até 300 mil habitantes

http://www.infraestruturaurbana.com.br//solucoes-tecnicas/23/agua-de-reuso-conheca-o-projeto-aquapolo-ambiental-complexo-276272-1.asp

Por Carlos Carvalho



Marcelo Scandaroli
Com o intuito de suprir a necessidade de consumo de água para fins industriais das empresas do Polo Petroquímico do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, foi criada uma Estação Produtora de Água Industrial (Epai), a Aquapolo Ambiental, sediada na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) ABC, da Sabesp.
Considerado o maior projeto de água de reúso para fins industriais do Brasil e do Hemisfério Sul, o complexo tem capacidade para produzir 1.000 litros por segundo de água de reúso - recurso hídrico não potável produzido a partir do esgoto tratado. Cerca de 17,5% desse total já é hoje consumido pelas empresas do Polo Petroquímico, que, depois da instalação do Aquapolo em novembro de 2012, deixaram de consumir água potável para fins industriais. Resultado: cerca de 175 l/s de água potável, que estariam sendo destinados às empresas, estão disponíveis à população. O volume equivale ao abastecimento de uma cidade do porte de Campos do Jordão, com 53 mil habitantes.
De acordo com a diretora-presidente da Sabesp, Dilma Pena, "a região metropolitana de São Paulo é uma área de baixa disponibilidade hídrica, semelhante à do semiárido brasileiro, e o Aquapolo ajuda a não deixar faltar água tanto para a população, quanto para o desenvolvimento industrial dessa região". Segundo a Sabesp, com o Aquapolo funcionando em sua capacidade máxima, é possível reduzir o consumo de água potável pelas indústrias em um número capaz de atender a 300 mil pessoas.
Em média, a ETE ABC trata 1.800 l/s de esgoto, provenientes dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá e de parte da capital paulista próxima à região. Desse total, até 1.000 l/s podem ser repassados para tratamento terciário do Aquapolo, que consiste em ultrafiltrar o material sólido presente no esgoto, biodegradar a matéria orgânica com os próprios micro-organismos presentes nos efluentes e, se necessário, reduzir a condutividade da água.
Fotos: Marcelo Scandaroli
Processo de tratamento biológico, no qual os microorganismos degradam a matéria orgânica presente nos efluentes

De acordo com Antônio Emílio Meireles, diretor industrial da Braskem, principal cliente da Aquapolo, a empresa deixou de consumir água captada do Rio Tamanduateí - fonte de cerca de 70% do seu consumo antes do Aquapolo - e água potável da Sabesp - 30% do consumo. "Sem dúvida, um grande passo na redução do impacto ambiental", diz.
Além disso, Meireles explica que a água de reúso trouxe outras vantagens para a empresa. "A qualidade é muito superior em todos os aspectos à da água utilizada anteriormente. Isso proporciona a redução da manutenção para limpeza e a substituição de equipamentos de resfriamento, além da redução de custos com produtos químicos usados para tratamento da água para a geração de vapor", completa.
Fernando Gomes da Silva, diretor da Aquapolo Ambiental, diz que as empresas também foram favorecidas pelo preço da água de reúso, que é mais barata que a cobrada pelas concessionárias da região. "O preço final pode variar por conta da infraestrutura necessária para se fornecer a água para cada empresa, mas gira em torno de R$ 4 a R$ 5/m³. Ou seja, é mais barata que a água fornecida por qualquer concessionária, seja a de Santo André, São Caetano do Sul ou São Paulo. A taxa de redução varia de 30% a 50%", diz.
INFRAESTRUTURA DO COMPLEXO
CONHEÇA OS EQUIPAMENTOS DO AQUAPOLO AMBIENTAL :
Estação elevatória de baixa carga responsável por bombear os efluentes do tratamento secundário da Sabesp para o Aquapolo.
Sistema de filtragem por discos que impede a passagem de resíduos sólidos superiores a 400 mícrons.
Tanque biológico e de ultrafiltração com oito conjuntos de membranas de polissulfona.
Sistema de osmose reversa responsável por baixar a condutividade (salinidade) da água.
Quatro tanques reservatórios cobertos que totalizam 70 mil m³, dos quais metade é destinada para armazenar a água que passa pelo processo de osmose e a outra metade para a água que passa apenas pela ultrafiltração.
Estação elevatória de alta carga com três bombas responsáveis por enviar até 1.000 l/s ao longo dos 17 km da adutora.
17 km de adutora de aço carbono de 900 mm.

GestãoA Aquapolo Ambiental é uma empresa de propósito específico que tem como acionistas a Foz do Brasil, empresa de soluções ambientais da Odebrecht, com 51% das ações, e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, com 49% das ações.
O investimento total para a construção da Estação Produtora de Água Industrial foi de R$ 364 milhões, dos quais 90% (R$ 327,6 milhões) são provenientes de um financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Os outros 10%, R$ 36,4 milhões, foram de responsabilidade dos sócios na proporção das ações.
Segundo o diretor do Aquapolo, "esse financiamento foi viabilizado a partir do contrato assinado com a Braskem - principal cliente, com cerca de 85% de consumo do que se produz no Aquapolo. A empresa se compromete a consumir até 650 mil l/s de água de reúso pelo período de 41 anos", explica.
Atualmente, além das quatro plantas da Braskem, outras empresas também já têm contratos assinados com a Aquapolo para a compra da água de reúso produzida na estação: duas plantas da White Martins, duas plantas da Oxiteno, a Cabot e a Oxicap.
A intenção agora é fazer com que o Aquapolo chegue à sua capacidade total de produção: 1.000 l/s. "O investimento que foi feito está preparado para fornecer mais do que o Polo Petroquímico vai consumir. Então temos, potencialmente, a possibilidade de vender água para outras indústrias ao longo da adutora construída. O volume do Aquapolo é 13 vezes maior do que o que a Sabesp fornecia de água de reúso", explica.
Fotos: Marcelo Scandaroli
Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas, capazes de separar partículas de até 0,05 mícrons, é pioneiro no Brasil. Abaixo, água de reúso já produzida, pronta para ser vendida para indústrias do Polo Petroquímico do Grande ABC
Construção do complexo A construção da Estação Produtora de Água Industrial ficou a cargo da Odebrecht Infraestrutura, que utilizou uma área de 15 mil m² do terreno da ETE ABC, de propriedade da Sabesp. "Era uma área não utilizada e passou a gerar renda para a Sabesp por um contrato de locação. Foi feita uma escritura de direito de uso por 41 anos, segundo a qual a Aquapolo paga o aluguel e os impostos da área que ela ocupa", diz Gomes.
A empresa também foi responsável pela construção da adutora encarregada de transportar a água do Aquapolo para o Polo Petroquímico de Capuava, instalada ao longo de 17 km pela Avenida dos Estados, entre os municípios de Santo André, São Caetano do Sul e Mauá.


Nessa etapa, foram utilizados três métodos construtivos, aplicados conforme a região da obra. Nas áreas mais críticas, devido às características do solo e à concentração demográfica, a adutora foi construída pelo método de pipe jacking, semelhante ao utilizado na construção das linhas do metrô, com a utilização do popular "tatuzinho".
Em terrenos mais firmes, foi empregado o método de tunnel liner, no qual operários instalam anéis de aço subterrâneos que formam um tubo protetor por onde passa a adutora. Em outros trechos, foram realizadas valas a céu aberto para a instalação dos dutos.
Fotos: Marcelo Scandaroli
Etapas pré-Aquapolo na ETE ABCPara chegar até o tratamento no Aquapolo, o esgoto da região metropolitana do ABC passa por um tratamento prévio na Sabesp em três etapas:
Tratamento preliminar, no qual são removidos grãos de areia e sólidos grosseiros maiores que 1 cm.
Tratamento primário, durante o qual o esgoto flui vagarosamente por um tanque de decantação, permitindo que os sólidos em suspensão, que apresentam densidade maior que a do líquido circundante, sedimentem gradualmente no fundo.
Tratamento secundário (biológico), no qual os efluentes passam por tanques de aeração onde os micro-organismos presentes no esgoto vão remover parte da matéria orgânica dos efluentes, que posteriormente irão para novos tanques de decantação, de onde serão enviados parte para o Córrego dos Meninos e parte para o tratamento terciário do Aquapolo.
A gerente de operações do Aquapolo, Sheila de Oliveira, diz que, atualmente, a Sabesp trata, em média, 2 mil l/s de esgoto, número bem mais alto que o recebido pelo Aquapolo, que está preparado para tratar 650 l/s, podendo chegar a 1.000 l/s, mas ressalta a eficiência do tratamento da estação. "De todo o esgoto que chega no Aquapolo, cerca de 85% acaba virando água de reúso; os outros 15% são de lodo, que posteriormente será novamente enviado à Sabesp para tratamento e descarte em aterros sanitários", diz Sheila.
Antes da instalação do Aquapolo, 100% do esgoto tratado pela Sabesp era lançado no Córrego dos Meninos, que segue para o Rio Tamanduateí e deságua no Rio Tietê.

Etapas da produção de água de reúso
Fotos: Marcelo Scandaroli
1 O esgoto recebido é bombeado por uma estação elevatória de baixa carga até o filtro-disco. Ele é transportado pela tubulação verde e filtrado por uma espinha com filtros-disco empilhados, de forma a não permitir a passagem de partículas maiores que 400 mícrons. O sólido é coletado pela tubulação marrom e enviado à Sabesp para tratamento do lodo. O efluente filtrado segue pela tubulação verde para a segunda etapa.

Fotos: Marcelo Scandaroli
2 Depois de filtrado pelos discos, o esgoto vai para o tanque de tratamento biológico, onde recebe a adição de soda cáustica para o controle de pH, que deve ficar entre 6,5 e 7,5, permitindo que a ação biológica aconteça. A gerente de operações diz que essa etapa é importante, principalmente, para a remoção de nitrito e nitrato. "O esgoto fica nesse tanque por 15 minutos para a desnitrificação, que é a transformação dessas substâncias em nitrogênio gasoso. Depois, ele é bombeado por bombas de parede para o outro lado do tanque, onde ficam as membranas de ultrafiltração", diz.

Divulgação: Aquapolo
3 Depois de passar pelo tratamento biológico, o esgoto é enviado para tanques de ultrafiltração. Cada tanque possui oito conjuntos de membranas de polissulfona, com produção de até 30 l/s de água cada. As membranas ficam em suspensão dentro do tanque e possuem poros que impedem a passagem de sólidos e bactérias superiores a 0,05 mícrons. A água é aerada para limpar os poros das membranas que, quando não estão em funcionamento, permanecem mergulhadas nos tanques, dessa vez na água de reúso já produzida acrescida de hipoclorito, para que não ressequem.
A água filtrada entra pelos tubos das membranas e, caso tenha condutividade inferior a 720 μS/cm, é fornecida diretamente para o uso industrial, sendo transportada por uma tubulação de aço de cor fúcsia, um padrão internacional para água de reúso. Do contrário, a água fica reservada em um tanque com volume de 35 mil m³. O lodo retido pela membrana volta para a etapa anterior para ajudar na biodegradação da matéria orgânica do esgoto e permanece nesse ciclo de ida e volta por 35 dias, conhecidos como "idade do lodo". Após esse período, ele é encaminhado para a Sabesp para tratamento e posterior descarte em aterro sanitário.

Divulgação: Aquapolo
4 Se a condutividade for superior a 720 μS/cm, a água ultrafiltrada passa pela etapa de osmose reversa, para a remoção de sais, que são partículas menores que 0,05 mícrons. São 18 tanques semelhantes a pilhas com membranas internas ultrafinas, que são enroladas em espiral. A água filtrada no processo de osmose reversa é, então, encaminhada por uma tubulação de aço na cor fúcsia, para outro reservatório com volume de 35 mil m³.
Tanto na entrada do reservatório, quanto na saída para o cliente, é adicionada uma solução de dióxido de cloro à água produzida, a fim de evitar uma possível contaminação da água ao longo dos 17 km da adutora. Depois de produzida, a água de reúso passa por uma Estação Elevatória de Alta Carga, que possui três bombas responsáveis por bombear a água pelos 17 km da adutora.