Água de reúso
Conheça o projeto Aquapolo Ambiental, complexo que produz recursos hídricos para atividades industriais a partir de esgoto tratado. Empreendimento poderá evitar o consumo de água potável suficiente para abastecer cidade com até 300 mil habitantes
http://www.infraestruturaurbana.com.br//solucoes-tecnicas/23/agua-de-reuso-conheca-o-projeto-aquapolo-ambiental-complexo-276272-1.aspPor Carlos Carvalho
Considerado o maior projeto de água de reúso para fins industriais do Brasil e do Hemisfério Sul, o complexo tem capacidade para produzir 1.000 litros por segundo de água de reúso - recurso hídrico não potável produzido a partir do esgoto tratado. Cerca de 17,5% desse total já é hoje consumido pelas empresas do Polo Petroquímico, que, depois da instalação do Aquapolo em novembro de 2012, deixaram de consumir água potável para fins industriais. Resultado: cerca de 175 l/s de água potável, que estariam sendo destinados às empresas, estão disponíveis à população. O volume equivale ao abastecimento de uma cidade do porte de Campos do Jordão, com 53 mil habitantes.
De acordo com a diretora-presidente da Sabesp, Dilma Pena, "a região metropolitana de São Paulo é uma área de baixa disponibilidade hídrica, semelhante à do semiárido brasileiro, e o Aquapolo ajuda a não deixar faltar água tanto para a população, quanto para o desenvolvimento industrial dessa região". Segundo a Sabesp, com o Aquapolo funcionando em sua capacidade máxima, é possível reduzir o consumo de água potável pelas indústrias em um número capaz de atender a 300 mil pessoas.
Em média, a ETE ABC trata 1.800 l/s de esgoto, provenientes dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá e de parte da capital paulista próxima à região. Desse total, até 1.000 l/s podem ser repassados para tratamento terciário do Aquapolo, que consiste em ultrafiltrar o material sólido presente no esgoto, biodegradar a matéria orgânica com os próprios micro-organismos presentes nos efluentes e, se necessário, reduzir a condutividade da água.
Processo de tratamento biológico, no qual os microorganismos degradam a matéria orgânica presente nos efluentes
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De acordo com Antônio Emílio Meireles, diretor industrial da Braskem, principal cliente da Aquapolo, a empresa deixou de consumir água captada do Rio Tamanduateí - fonte de cerca de 70% do seu consumo antes do Aquapolo - e água potável da Sabesp - 30% do consumo. "Sem dúvida, um grande passo na redução do impacto ambiental", diz.
Além disso, Meireles explica que a água de reúso trouxe outras vantagens para a empresa. "A qualidade é muito superior em todos os aspectos à da água utilizada anteriormente. Isso proporciona a redução da manutenção para limpeza e a substituição de equipamentos de resfriamento, além da redução de custos com produtos químicos usados para tratamento da água para a geração de vapor", completa.
Fernando Gomes da Silva, diretor da Aquapolo Ambiental, diz que as empresas também foram favorecidas pelo preço da água de reúso, que é mais barata que a cobrada pelas concessionárias da região. "O preço final pode variar por conta da infraestrutura necessária para se fornecer a água para cada empresa, mas gira em torno de R$ 4 a R$ 5/m³. Ou seja, é mais barata que a água fornecida por qualquer concessionária, seja a de Santo André, São Caetano do Sul ou São Paulo. A taxa de redução varia de 30% a 50%", diz.
INFRAESTRUTURA DO COMPLEXO CONHEÇA OS EQUIPAMENTOS DO AQUAPOLO AMBIENTAL :
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GestãoA Aquapolo Ambiental é uma empresa de propósito específico que tem como acionistas a Foz do Brasil, empresa de soluções ambientais da Odebrecht, com 51% das ações, e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, com 49% das ações.
O investimento total para a construção da Estação Produtora de Água Industrial foi de R$ 364 milhões, dos quais 90% (R$ 327,6 milhões) são provenientes de um financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Os outros 10%, R$ 36,4 milhões, foram de responsabilidade dos sócios na proporção das ações.
Segundo o diretor do Aquapolo, "esse financiamento foi viabilizado a partir do contrato assinado com a Braskem - principal cliente, com cerca de 85% de consumo do que se produz no Aquapolo. A empresa se compromete a consumir até 650 mil l/s de água de reúso pelo período de 41 anos", explica.
Atualmente, além das quatro plantas da Braskem, outras empresas também já têm contratos assinados com a Aquapolo para a compra da água de reúso produzida na estação: duas plantas da White Martins, duas plantas da Oxiteno, a Cabot e a Oxicap.
A intenção agora é fazer com que o Aquapolo chegue à sua capacidade total de produção: 1.000 l/s. "O investimento que foi feito está preparado para fornecer mais do que o Polo Petroquímico vai consumir. Então temos, potencialmente, a possibilidade de vender água para outras indústrias ao longo da adutora construída. O volume do Aquapolo é 13 vezes maior do que o que a Sabesp fornecia de água de reúso", explica.
Sistema de ultrafiltragem com membranas submersas, capazes de separar partículas de até 0,05 mícrons, é pioneiro no Brasil. Abaixo, água de reúso já produzida, pronta para ser vendida para indústrias do Polo Petroquímico do Grande ABC
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A empresa também foi responsável pela construção da adutora encarregada de transportar a água do Aquapolo para o Polo Petroquímico de Capuava, instalada ao longo de 17 km pela Avenida dos Estados, entre os municípios de Santo André, São Caetano do Sul e Mauá.
Nessa etapa, foram utilizados três métodos construtivos, aplicados conforme a região da obra. Nas áreas mais críticas, devido às características do solo e à concentração demográfica, a adutora foi construída pelo método de pipe jacking, semelhante ao utilizado na construção das linhas do metrô, com a utilização do popular "tatuzinho".
Em terrenos mais firmes, foi empregado o método de tunnel liner, no qual operários instalam anéis de aço subterrâneos que formam um tubo protetor por onde passa a adutora. Em outros trechos, foram realizadas valas a céu aberto para a instalação dos dutos.
Tratamento preliminar, no qual são removidos grãos de areia e sólidos grosseiros maiores que 1 cm.
Tratamento primário, durante o qual o esgoto flui vagarosamente por um tanque de decantação, permitindo que os sólidos em suspensão, que apresentam densidade maior que a do líquido circundante, sedimentem gradualmente no fundo.
Tratamento secundário (biológico), no qual os efluentes passam por tanques de aeração onde os micro-organismos presentes no esgoto vão remover parte da matéria orgânica dos efluentes, que posteriormente irão para novos tanques de decantação, de onde serão enviados parte para o Córrego dos Meninos e parte para o tratamento terciário do Aquapolo.
A gerente de operações do Aquapolo, Sheila de Oliveira, diz que, atualmente, a Sabesp trata, em média, 2 mil l/s de esgoto, número bem mais alto que o recebido pelo Aquapolo, que está preparado para tratar 650 l/s, podendo chegar a 1.000 l/s, mas ressalta a eficiência do tratamento da estação. "De todo o esgoto que chega no Aquapolo, cerca de 85% acaba virando água de reúso; os outros 15% são de lodo, que posteriormente será novamente enviado à Sabesp para tratamento e descarte em aterros sanitários", diz Sheila.
Antes da instalação do Aquapolo, 100% do esgoto tratado pela Sabesp era lançado no Córrego dos Meninos, que segue para o Rio Tamanduateí e deságua no Rio Tietê.
Etapas da produção de água de reúso
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