“Vovôs” – A nova estrela do mercado
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Parece que as coisas mudaram definitivamente de rumo.
A cada censo do IBGE, o Brasil vê aumentar sua população de idosos. No último censo (2010), os brasileiros somavam quase 190 milhões e 800 mil habitantes, sendo que os acima de 60 anos já eram 20,5 milhões.
Estima-se que até 2030 este número será de 40 milhões, tornando o Brasil o quarto país do mundo em crescimento da população idosa.
Enquanto nos dias de hoje (outubro de 2012) os idosos representam cera ce 11% da população, em uma projeção de longa prazo, para 2050, esta população será de 65 milhões, ou seja, 49% da população total.
Resumo: com o passar dos anos, as pessoas estão vivendo por mais tempo, física e mentalmente.
Em função deste fato, os “vovôs” continuam e continuarão a trabalhar, visto que a idade, no atual momento corporativo, já não é mais considerada um fator impeditivo ou demissionário.
Este também é um fator para que os “vovôs” adiem sua aposentadoria definitiva (“pendurar as chuteiras” ou “vestir o pijama”), continuem trabalhando ou voltem ao mercado, como afirma Petrer Capelli em seu livro Managing the older worker.
Por isto dei a este texto o título acima. E existem várias razões para isso:
a - é público e notório que as faculdades não estão preparando os jovens para atender às necessidades do mercado do trabalho.
Mas, como a renda familiar tem aumentado, estes jovens estão aumentando seu tempo dedicado aos estudos, indo do final da graduação para outros cursos como especialização, MBA ou mestrado.
b – o mercado necessita de mão de obra mais qualificada para enfrentar as demandas da globalização.
Tais demandas caminham em uma velocidade bem maior do que a formação das pessoas. Isto faz as empresas reterem os “vovôs”, ou os contratarem, devido à sua maior qualificação, serem mais experientes, mais diretos e mais assertivos, como afirmei em meu texto Nós, os carecas.
c – nas faixas etárias maiores, existem mais postos de trabalho do que nas faixas menores. Para se ter uma ideia, na faixa acima dos 50 anos, a taxa de desemprego caiu de 3,1% em 2009, para 2,4% em 2011 (dados do Pnad).
Para mais, o Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho mostrou que:
- existe uma participação crescente dos maiores de 50 anos no mercado. Em 2006 esta participação foi de 12,6%, a qual passou para 12,9% (2007), 13,3% (2008), 13,7% (2009) e 14,2% em 2010;
- entre 2005 e 2010, o reajuste salarial foi maior para as pessoas acima de 50 anos: 55% para a faixa etária de 50 a 64 anos e de 73% para a faixa acima de 64 anos.
d – nosso país apresenta, nos dias de hoje, uma situação econômica favorável, o que faz muitas empresas desenvolver em projetos de longo prazo. Para isso, os “vovôs” serão os profissionais mais requisitados, por terem o domínio de sua área de atuação e por trazer resultados, para a companhia, em espaços de tempo menores.
E como as empresas estão encarando esta realidade?
Para André Magro, gerente da consultoria de RH da Hays, “20% das organizações já empregam aposentados, sendo 72% para cargos técnicos, 33% para diretoria, 28% para gerência, 17% para o conselho e 6% para presidência”.
E os principais motivos são: necessidade de mão de obra especializada e que exige vivência na área de atuação (50%), falta de mão de obra especializada (17%), política interna da companhia (17%) e necessidade de uma liderança mais eficaz (16%).
Não resta dúvida que os jovens, por mais energia que possuam para a realização de seu trabalho, eles não tem, ainda, a maturidade, a desenvoltura e a experiência que os “vovôs” possuem, inclusive para lidar com o estresse do cotidiano dentro do ambiente do trabalho representado por conflitos, pressão por resultados e obstáculos emergenciais (“incêndios”) a serem vencidos.
André Magro também afirma que “é comum as empresas, por questões estratégicas (inclusive redução de custos – grifo meu) optar por trocar dois profissionais juniores por um sênior, que trará mais expertise para o negócio”.
Soma-se o fato que as empresas já perceberam que acelerar a carreira dos jovens pode não ser algo acertado. Não adianta fazê-los crescer rapidamente na carreira se eles não estiverem adequadamente preparados para tal.
Este fato constitui uma outra razão dos “vovôs” estarem em alta: servirem de coach e mentores para os mais jovens, no que diz respeito ao desenvolvimento de suas carreiras e preparo para atingir postos mais altos na hierarquia corporativa. E fazê-los ver duas coisas importantes: que a carreira depende única e exclusivamente de si mesmo e que eles tem que andar com as próprias pernas.
Para mais, a experiência dos “vovôs”, aliada à garra e ousadia da “jovem “guarda” faz com que ambos aprendam juntos. Sim, porque o jovem tem muito a ensinar ao “vovô, principalmente quando o assunto é tecnologia. E é exatamente neste ponto que os princípios da Andragogia devem e precisam ser praticados. Já me referi a este tema no meu texto Você sabe o que é Andragogia? e Andragogia nas empresas.
Também é interessante ressaltar que os “vovôs” tem um desempenho melhor do que os jovens, como evidenciaram os dados (em %) do estudo realizado pelo Centro de Envelhecimento e Trabalho do Boston College (2007).
E, do lado dos “vovôs”, o que eles tem para oferecer? Vejamos:
a – podem atuar utilizando novas formas de trabalho, como consultores, temporários, trabalho por projetos, tempo parcial, etc.
b – podem escolher o que fazer, de tal modo que se sintam felizes e mais satisfeitos trabalhando na área que deseja;
c – podem cuidar da própria agenda e gerir melhor o seu tempo;
d – estabelecem os honorários pelo seu trabalho;
e – são mais simpáticos e mais carismáticos com as pessoas; por isso estão sendo recrutados também para as áreas técnicas, atendimento ao cliente e pontos de venda;
f – podem desenvolver novos projetos;
g – podem exercer funções que os jovens não gostam;
h – são mais comprometidos;
i – tem maior estabilidade emocional;
j – tem mais experiência nas relações interpessoais;
k – estão mais acostumados a tomar decisões importantes;
l – sua maturidade lhes dá mais segurança para liderar equipes;
m – são mais flexíveis para negociar;
n – são mais preparados para postos que exigem treinamento prévio para os jovens.
A verdade é que, nos dias de hoje, não há limite de idade para seguir trabalhando ou voltar ao mercado de trabalho e recomeçar uma atividade profissional.
Se o mercado percebe que os “vovôs” são a nova estrela do mercado, cabe a você, “vovô” fazer com que ela continue brilhando.
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