22/09/2012 - 17h47
O lar do futuro não será minimalista, frio e asseado
Guto Requena é arquiteto graduado pela USP. Foi pesquisador do Nomads (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos) entre 2000 e 2008 e professor de design na escola Panamericana e no Instituto Europeu de Design. É apresentador e roteirista do programa "Nos Trinques", do canal GNT. Escreve aos domingos, a cada duas semanas, no caderno "Imóveis".
Observar as transformações que acontecem dentro de casa pode ser um bom exercício para entender em que direção estamos indo em relação à arquitetura, ao design e à tecnologia.
Nossas casas são construídas hoje pela sobreposição de átomos e bits. Tornaram-se híbridas e são também um ponto de aglutinação de informação, um lugar estratégico que reúne imagens, palavras e sons vindos do ciberespaço.
Por outro lado, a noção de lar, também graças à internet, expandiu-se para territórios simbólicos - levo minha "casa" comigo pelo mundo, no celular, no computador, nas redes sociais.
A maior parte de nós, no entanto, continua vivendo em residências que reproduzem o modelo tripartido do século 18, que divide o espaço em áreas social, íntima e de serviços em ambientes compartimentados e estanques. O formato clássico foi herdado da burguesia francesa e amplamente disseminado no mundo ocidental.
Mas, se o futuro chegou, a casa que vai representar esse novo tempo deverá se basear não mais em cômodos e hierarquias, mas nas atividades que exercemos ali.
Não fará sentido projetar quarto, sala e cozinha, mas sim espaços para dormir, entreter-se, trabalhar, preparar refeições e cuidar do corpo, por exemplo.
A casa do futuro deverá ser de fato sustentável. Terá ambientes e móveis flexíveis, que se transformarão constantemente para se adequar às nossas necessidades, amparando os novos grupos familiares e a diversidade que seu cotidiano exige.
Nossa casa será um sistema aberto, colaborativo e seremos todos co-designers desses espaços.
Ao contrário do que se explorou em romances e filmes de ficção científica, o lar do futuro não será tão minimalista, frio e asseado como imaginávamos.
Ele será, mais do que nunca, um estoque físico e virtual de memórias e afetos. Uma mistura em construção de objetos de família, lembranças de viagens e pessoas amadas, adicionada a interfaces digitais que nos ajudarão a expandir e a armazenar lembranças e sentimentos.
O futuro será mais aconchegante do que imaginávamos.