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Publicado em 14/06/2012 | Marcos Moraes
Publicado em 14/06/2012 | Marcos Moraes
Sustentabilidade é a palavra do momento. Às vésperas da conferência sobre 
desenvolvimento sustentável Rio+20, esse conceito ganha grande destaque. 
Diretamente relacionada à responsabilidade social e à preservação do meio 
ambiente, a palavra pode confundir e servir apenas como marketing para produtos 
e companhias que de sustentáveis têm pouco, ou quase nada. O cigarro, cujos 
malefícios são amplamente comprovados, está dando o seu jeito de também se 
tornar “sustentável”.
Valendo-se de algumas práticas de economia de água e recolhimento de 
resíduos, as empresas de tabaco correm pelas beiradas, explorando cada 
iniciativa em relatórios de sustentabilidade e prêmios concedidos pela imprensa 
e por organizações não governamentais. Mas como premiar empresas cujos produtos 
são altamente tóxicos, causam dependência e só no século 20 exterminaram 100 
milhões de pessoas?
Além disso, são cerca de 1,2 bilhão de fumantes no planeta consumindo milhões 
de cigarros todos os dias e jogando gases tóxicos, como monóxido de carbono, nos 
ambientes internos e na atmosfera. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde 
(OMS), morrem cerca de 600 mil não fumantes no mundo devido ao tabagismo 
passivo.
Será que todos sabem que as folhas de tabaco usadas na fabricação de cigarros 
passam por um processo de secagem em estufas alimentadas a lenha? No Brasil, só 
entre 1990 e 1998, a produção de fumo consumiu 300 milhões de árvores na região 
Sul do Brasil. Não por acaso a Advocacia-Geral da União no Rio Grande do Sul 
promoveu, no ano passado, a assinatura de termos de compromisso entre o 
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Sindicato da Indústria do 
Tabaco (Sinditabaco) para criar um sistema de monitoramento de áreas utilizadas 
para plantação de fumo e recuperar terras devastadas por essa atividade. No 
portfólio de insustentabilidade dessas companhias, a maioria delas 
transnacionais, constam ainda práticas nada éticas na sua relação com cerca de 
200 mil famílias de pequenos agricultores inseridos na cadeia produtiva de fumo 
no Brasil.
É evidente a contradição entre o negócio do tabaco e o desenvolvimento 
sustentável, expressão formalizada pela primeira vez no Relatório Brudtland das 
Nações Unidas, durante a Eco 92, também no Rio. A doutora Gro Brudtland, 
responsável pelo relatório que leva seu nome, foi a mesma que viabilizou, 
enquanto diretora da OMS, a negociação da Convenção-Quadro para Controle do 
Tabaco, tratado internacional para regular as práticas da indústria do tabaco, 
reconhecida como o vetor da epidemia de tabagismo e dos milhões de mortes anuais 
resultantes. Ratificada pelo Brasil e por mais 173 signatários, essa convenção, 
embora tenha feito a diferença em vários países, ainda não conseguiu deter o 
poder expansionista das empresas transnacionais de tabaco, cujos esforços 
concentram-se em países mais pobres.
No Brasil, têm sido frutíferos os esforços para reduzir o tabagismo e suas 
consequências. Mas ainda são tímidas as iniciativas para resgatar os pequenos 
agricultores dos grilhões da dependência econômica da cadeia produtiva do fumo. 
É fundamental que a Rio+20 inclua o tema na sua agenda e registre que produção e 
consumo de produtos de tabaco não combinam com sustentabilidade.
Marcos Moraes é presidente do Conselho de Curadores da Fundação do 
Câncer.
 
