sexta-feira, 15 de junho de 2012

O "cigarro ambiental" e o ambientalista fumante (ou fumante ambientalista?)...


Dano igual a fumar um cigarro e meio por dia

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Afirmação é de pesquisador da USP, autoridade no assunto

13/06/2012 - 21h43 - Atualizado em 13/06/2012 - 21h43
A Gazeta



Elton Lyrio
emorati@redegazeta.com.br

A poluição em Vitória equivale a fumar um cigarro e meio por dia. É o que afirma o professor e médico Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores autoridades no país sobre o assunto. Em outras cidades brasileiras, como em São Paulo, esse indíce varia entre dois e três cigarros.

Segundo ele, entre os principais poluentes presentes nas grandes cidades brasileiras, estão os gases como o ozônio e as chamadas particulas inaláveis. O grande problema apontado pelo especialista, é que, ao contrário do tabaco, não é possível apagar o "cigarro ambiental". "Infelizmente não há como minimizar. O cigarro você decide quando vai acender, já a poluição ambiental, não", pontua.

Saldiva aponta como os principais contribuintes para a poluição em Vitória a área industrial de Tubarão e as emissões geradas pela frota de veículos, que cresce a cada dia. "Há uma heterogeneidade da exposição que acaba afetando mais as pessoas mais pobres, por passarem mais tempo no ponto de ônibus, ou no trânsito. Profissões como controladores de tráfego, ou taxistas também acabam se expondo mais, ao passo que quem tem melhores condições, nem tanto", diz.

No entanto, o professor esclarece, que embora os efeitos possam ser semelhantes, o dano do cigarro ainda é maior. Segundo ele, quem fuma tem 16 vezes mais chances de desenvolver câncer, ao passo que a poluição a aumenta em 40%. "O problema é que o cigarro é usado por parte da população, enquanto a poluição atinge a todos", frisou.

Sobre o famoso pó preto, alvo de reclamações por muitos capixabas, Paulo Saldiva relata que ainda não há tantas evidências de seus efeitos nocivos à saúde. "Não é que não haja esses efeitos, mas há poucos estudos que os comprove", ponderou o especialista. 



Doenças



A pneumologista Ana Maria Casati também afirmou que a poluição está diretamente relacionada a doenças respiratórias. "A gente não consegue ter sucesso no tratamento de quem tem sinusite hoje na Grande Vitória porque o paciente acaba exposto a essas particulas, e a inflamação continua", diz.

Segundo ela, entre as particulas inaláveis, as chamadas PM10 prejudicam a proteção das vias áereas, enquanto as mais finas, conhecidas como PM2,5 são ainda mais prejudiciais porque conseguem entrar na circulação e causar doenças pulmonares e até cardiovasculares.

foto: Edson Chagas
ES - VitÃ?ria - Caminhâ??o libera fumaÁa pela descarga do motor ao passar pela avenida JerÃ?nimo Monteiro, Centro - Editoria: Cidade - Foto: Edson Chagas
Emissões geradas por veículos contribuem para a poluição nas grandes cidades



Empresas investem em mecanismos de controle



A área industrial de Tubarão é apontada pelo especialista como uma das principais contribuidoras das emissões. No entanto, as empresas que lá atuam afirmam que investem em mecanismos para garantir a qualidade do ar. 

Segundo o gerente de desenvolvimento sustentável da Vale, Romildo Fracalossi, entre 2008 e 2011, a empresa investiu R$ 600 milhões em mecanismos de controle, . Ele acrescentou que todo o trabalho é acompanhado por uma comissão que envolve o Ministério Público e o Instituto estadual do Meio Ambiente, além de representantes das comunidades do entorno. "A qualidade do ar envolve poeiras que vêm de várias fontes", pontuou.

Já a Arcelor Mittal Tubarão, disse, por meio de nota, que também mantém dispositivos de controle, entre eles um cinturão verde tem como função principal ser uma barreira natural no entorno da usina. A empresa também informou que monitora as emissões 24 horas por dia e que os resultados são auditados pelos órgãos fiscalizadores.

A empresa também afirmou que investiu em um sistema para reduzir as emissões de enxofre, em seu processo industrial e que possui uma política ambiental que atende as condicionantes, na qual afirma ter investido US$ 750 milhões. 



Iema quer debate sobre limites para poluição



O diretor técnico do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema), Fernando Aquinoga Mello, afirmou que o Espírito Santo pode rever seus limites para a poluição e, se for o caso, implantar até parâmetros mais rígidos de emissões antes mesmo de uma revisão da resolução federal sobre o assunto.

"É um debate que precisa ter uma amplitude maior. Temos que trazer à reflexão, chamar os atores desse cenário e ver o que a sociedade capixaba quer a respeito disso", disse.

Mello acrescentou que os limites atuais - variáveis de acordo com cada poluente - são definidos por uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente, datada de 1990. Segundo ele, esses padrões raramente são descumpridos pelas indústrias que atuam no Estado.

Mello também afirmou que o Iema mantém nove estações de monitoramento do ar na Grande Vitória. Ele disse que dentro dos atuais padrões, a qualidade do ar da Grande Vitória é considerada boa. 

O diretor ressaltou ainda que o órgão, ao analisar os pedidos de licenças ambientais de novos empreendimentos, também leva em conta o impacto que eles terão sobre a qualidade do ar. "Não existe intervenção humana sem impacto, o que se busca é o equilíbrio", aponta.