No semáforo, é fácil ver as bicicletas 'arrancarem' ainda no vermelho
Especialista afirma que saída para reduzir os acidentes passa pela criação de um sinal exclusivo de bikes
São Paulo, domingo, 20 de maio de 2012
VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO
O semáforo fecha, e o ciclista não pensa duas vezes: pega o corredor entre os carros longe da calçada e se posiciona em frente a eles, invadindo a faixa de pedestres.
Antes de o sinal abrir, ainda com os carros parados, ele sai pedalando.
A cena, comum em São Paulo, contém três infrações de trânsito, mas é vista pelos ciclistas como uma estratégia para se manter seguro em cidades feitas para os carros.
A ideia é conseguir ganhar velocidade antes de os veículos partirem do "grid de largada", dizem os ciclistas.
"É muito mais seguro estar a uns 25 km/h quando essa manada [de carros] encontrar você", diz a cicloativista Renata Falzoni.
A medida também evita motoristas irritados, tirando as perigosas "finas educativas". A expressão, jargão entre quem pedala, se refere à manobra de motoristas que querem intimidar o ciclista que "ousa" andar na via.
"Em país sério, nas ruas, a primeira vaga de carro à direita fica reservada para os ciclistas pararem. Em São Paulo, tudo é improviso porque a cidade não pensa na bike", diz Cléber Ricci Anderson, que produziu o manual de segurança "Bike na Rua".
Apesar do risco, segundo a CET, não é proibido às bicicletas trafegarem entre os carros, desde que elas fiquem sempre ao lado da calçada.
Outra infração comum é circular pedalando pela calçada (a lei só permite se o ciclista estiver fora da bike) quando a via é perigosa.
"Vou na calçada sem pudor. Na da Rebouças, por exemplo, quase não tem pedestre e a avenida é violenta", diz Aline Cavalcante, que vai e volta do trabalho todos os dias de bicicleta.
SEM ESFORÇO
O ciclista, pela legislação, também deve circular sempre na mesma mão dos carros.
Mas há situações em que as bikes ignoram a norma, não pela segurança, mas para evitar o esforço físico.
"A bicicleta é movida a energia humana. Tem situação que, se você não pega a contramão, vai ter que pedalar quatro quarteirões a mais", explica Aline.
Para reduzir o número de acidentes entre ciclistas e os demais veículos, Alexandre Delijaicov, especialista em trânsito da USP, recomenda a regulagem dos semáforos, que deve levar em conta também a bicicleta. "Que precisa ter o seu próprio tempo", explica ele.
Para o especialista, enquanto o sistema de ciclovias da cidade não for suficiente, algumas calçadas também poderiam ser liberadas para os ciclistas, de forma totalmente excepcional.