Volume extraído neste ano em SP em unidades de conservação já é 25% maior que o coletado no mesmo período em 2011
19 de maio de 2012 | 3h 03
JOSÉ MARIA TOMAZELA , SOROCABA - O Estado de
S.Paulo
A falta de fiscalização está transformando os parques estaduais do Vale do
Ribeira, que têm as maiores áreas protegidas de Mata Atlântica do Estado de São
Paulo, em alvo de palmiteiros e caçadores. O volume de palmito retirado dessas
unidades e apreendido pela Polícia Ambiental cresceu 25% neste ano em comparação
com o mesmo período do ano passado.
Quadrilhas organizadas invadem as unidades de conservação com animais de
carga para retirar quantidades cada vez maiores de palmito da palmeira-juçara,
espécie ameaçada de extinção. O produto é processado em fábricas clandestinas
instaladas próximas dos parques.
No dia 14, uma fabriqueta foi fechada em São Miguel Arcanjo, entorno do
Parque Estadual Carlos Botelho, um dos principais alvos das quadrilhas. Os
policiais apreenderam no local 1,5 mil palmitos, cada um equivalente à derrubada
de uma palmeira.
Em janeiro, cerca de três toneladas de palmito, correspondente ao corte de
1,7 mil palmeiras, foram apreendidas no parque. A carga estava enfeixada no
lombo de 22 mulas usadas para o transporte. Policiais chegaram a um acampamento
montado pela quadrilha, mas ninguém foi preso. Para não ser surpreendido pela
polícia, o bando mantinha "olheiros" sobre as árvores.
Policiais ambientais admitem que o número de guardas nas unidades do Vale do
Ribeira - Carlos Botelho, Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar) e
Intervales - é insignificante perto da imensidão dessas matas. No Carlos
Botelho, são apenas seis guardas e dois vigilantes para cobrir uma área de 37,7
mil hectares - em média quase 5 mil hectares por guarda.
O parque detém metade da população de mono-carvoeiro do País, primata que
vive apenas em ambientes preservados. E preserva grandes populações da palmeira
- fora do parque ela está praticamente extinta.
Ação de caçadores. A palmeira-juçara está na base da cadeia alimentar de
tucanos, jacutingas, quatis e monos-carvoeiros, além de vários roedores. Pagos
pelas fabriquetas para invadir a reserva e extrair o palmito, os palmiteiros
também praticam a caça.
Profissionais contratados pela Secretaria do Meio Ambiente para fazer o plano
de manejo do Petar relataram a ação de caçadores no parque de 36 mil hectares.
"Muitos palmiteiros caçam no período em que estão acampados, até mesmo espécies
criticamente ameaçadas de extinção, como a jacutinga. A repressão aos
palmiteiros tem sido ineficaz", diz o relatório.
O documento informa que vestígios dos caçadores foram encontrados em vários
locais do parque, além de armadilhas para catetos no interior de uma gruta. A
Polícia Ambiental relaciona entre os animais visados pelos caçadores pela carne,
a anta, o bugio, a paca, a cotia, o veado e o cateto e a queixada.