25/03/2012 - 09h10
Exploração do pré-sal traz mais riscos
Com o advento do pré-sal, a produção de petróleo no Brasil vai crescer exponencialmente e, junto com ela, deve aumentar também a incidência de vazamentos de óleo e de outros acidentes, dizem especialistas no tema em reportagem de Pedro Soares, publicada na edição deste domingo da Folha.
O primeiro derrame de óleo da nova área de exploração, em fevereiro, deu mostras do desafio: desenvolver equipamentos resistentes às condições extremas da nova fronteira petrolífera para operar sob altíssima pressão e baixas temperaturas.
A camada do pré-sal está entre 5.000 e 8.000 metros de profundidade. Antes dela, a exploração de petróleo no fundo do mar era feita em profundidade média de 3.500 metros na bacia de Campos.
A Petrobras diz que, além das altas pressões e baixas temperaturas, as condições da exploração do pré-sal incluem fluidos de reservatório de composições diferentes.
"Em consequência, os equipamentos devem ser robustos e adequados aos fluidos do reservatório", afirma a estatal, citando o desenvolvimento de "material para uso em ambiente agressivo".
A companhia diz ter investido em prevenção e exigido o mesmo de seus fornecedores, além de ter ampliado os sistemas de segurança. "Foram empregados sistemas com menores tempos de resposta devido ao maior comprimento das tubulações."
Exploração do pré-sal traz mais riscos
Para analistas, 1º vazamento na nova área de produção de petróleo alerta para demanda por maquinário específicoPetrobras afirma ter ampliado sistemas de segurança e trabalhar para desenvolver material adequado
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/33260-exploracao-do-pre-sal-traz-mais-riscos.shtml
PEDRO SOARES
EM SÃO PAULo
Com o advento do pré-sal, a produção de petróleo no Brasil vai crescer exponencialmente e, junto com ela, deve aumentar também a incidência de vazamentos de óleo e de outros acidentes, dizem especialistas no tema.
O primeiro derrame de óleo da nova área de exploração, em fevereiro, deu mostras do desafio: desenvolver equipamentos resistentes às condições extremas da nova fronteira petrolífera para operar sob altíssima pressão e baixas temperaturas.
A camada do pré-sal está entre 5.000 e 8.000 metros de profundidade. Antes dela, a exploração de petróleo no fundo do mar era feita em profundidade média de 3.500 metros na bacia de Campos.
Não é à toa que vários centros de pesquisa voltados ao pré-sal já foram montados ou estão em fase de instalação na Ilha do Fundão, campus da UFRJ. Muitos se dedicam a formas de evitar a corrosão de materiais e estudam sistemas alternativos de produção.
"O pré-sal é ao mesmo tempo uma oportunidade e um problema. Já tivemos um vazamento. Com o aumento das perfurações de poços, aumenta muito o risco de acidentes", diz Ilson Pasqualino, professor de engenharia oceânica da Coppe/UFRJ.
Como exemplo, o especialista cita o campo de Lula, que receberá mais de dez plataformas e muitos poços ligados às unidades de produção. "Certamente teremos um número maior de vazamentos."
FALHA HUMANA
A Petrobras amplia sua rede de laboratórios conveniados, estimula fornecedores a instalar centros de pesquisa no país e tem um ambicioso projeto de levar para o fundo do mar sistemas de produção hoje instalados sobre as plataformas -o que reduz o risco de falha humana.
Para driblar o problema da corrosão e da pressão da água, a Usiminas investiu
R$ 400 milhões numa nova linha de produção de aços especiais destinados à indústria naval e aos equipamentos a serem usados no pré-sal.
Tal esforço se justifica. O navio-plataforma de produção e estocagem de óleo que realizava testes de longa duração em campos de pré-sal registrou ruptura no duto que liga a plataforma ao poço.
No primeiro acidente, no fim de 2011, não vazou óleo. No segundo, em fevereiro, foram derramados 160 barris que se encontravam no duto.
Para Pasqualino, os problemas indicam que o material era inadequado às condições do pré-sal. A Petrobras diz ter mobilizado seus melhores técnicos e acionado "empresas globais especializadas em teste de equipamentos submarinos" para investigar os acidentes.
"Somente depois de concluída a investigação a empresa poderá definir claramente quais foram as causas do acidente", diz a Petrobras, via assessoria de imprensa.
DO OUTRO MUNDO
Para David Zee, professor de oceanografia da Uerj, o risco do pré-sal é "sem dúvida, muito maior". O oceanógrafo diz que a profundidade total de até 8.000 metros deixa o ambiente com pressões e temperaturas "absurdas". "Isso é quase uma viagem interplanetária. É preciso ter equipamentos robustos."
O especialista não vê, por outro lado, comprometimento da Petrobras e do governo em investir mais em segurança. "Não há o mesmo empenho para investir em prevenção [de acidentes] do que há para investir na produção."
A Petrobras diz que, além das altas pressões e baixas temperaturas, as condições da exploração do pré-sal incluem fluidos de reservatório de composições diferentes.
"Em consequência, os equipamentos devem ser robustos e adequados aos fluidos do reservatório", afirma a estatal, citando o desenvolvimento de "material para uso em ambiente agressivo".
A companhia diz ter investido em prevenção e exigido o mesmo de seus fornecedores, além de ter ampliado os sistemas de segurança. "Foram empregados sistemas com menores tempos de resposta devido ao maior comprimento das tubulações."