Meses atrás, Mario Thadeu Leme de Barros, professor de 
Recursos Hídricos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, fez uma 
viagem de trabalho à Suécia, onde conheceu a cidade de Boras, próximo de 
Gottenburg. Convidado a visitar o sistema local de tratamento de lixo, ficou 
encantado: com cerca de 100 mil habitantes, Boras tem todos os seus resíduos 
separados de acordo com a futura utilização, a parte orgânica destinada à 
produção de biogás (que vai alimentar a frota de ônibus municipal); o que dá 
para ser reciclado (70%) é feito em centrais montadas com esse fim; e a parte 
seca (do lixo) incinerada para a geração de energia elétrica e água quente (que 
será distribuída para todas as residências, beneficiando a população dos rigores 
do clima escandinavo). O processo de incineração, claro, procura evitar ao 
máximo a emissão de dioxinas. Moral da história? “Boras conseguiu resolver em 
quase 100% o problema do aterro sanitário – que só existe para abrigar as cinzas 
da incineração, quantia mínima”, conta.
Mario Thadeu Leme de Barros também é coordenador do eixo ambiental do SP 
2040. Com essa função, é natural que o destino que se dá ao lixo em São Paulo 
lhe cause preocupação. “Não se pode comparar a cidade sueca com a capital 
paulista, existe um problema enorme de escala entre elas… Mas, temos de colocar 
em prática, no município, políticas ambientais cujas metas de curto, médio e 
longo prazo permitam, por exemplo, resolver o problema do aterro sanitário, ao 
menos, em 30%”. Mario Thadeu tem o que alertar sobre o que agride o solo, a água 
e o ar. Confira.
SP 2040: Do que trata o eixo estratégico Melhoria 
Ambiental?
Mario Thadeu: O foco do nosso trabalho está na melhoria da 
qualidade da água, da ocupação do solo e do ar. Essa é a tríade de ação do eixo 
Melhoria Ambiental. Naturalmente, cada um desses tópicos se subdivide em 
diversas questões.
SP 2040: O que gostaria de chamar a atenção sobre a água, por 
exemplo?
Mario Thadeu: Quando falamos de qualidade da água, falamos 
de fato de quantidade – é a água em excesso, relacionada à época das chuvas, que 
faz sofrer a cidade com as inundações; e também a água em falta, período da 
seca, quando não há água suficiente nos rios, comprometendo o abastecimento. 
Temos ainda o problema da água boa para beber e o da geração de esgoto, lançado 
à água sem tratamento. São todas elas razões de estudo do plano SP 2040.
SP 2040: O que há de mais urgente para ser resolvido em relação ao 
solo da cidade?
Mario Thadeu: O problema mais sério é a geração dos resíduos 
sólidos urbanos e o seu destino – hoje a cidade de São Paulo produz 17 mil 
toneladas de lixo por dia e praticamente a maior parte desse lixo vai parar nos 
aterros sanitários – o percentual de reciclagem ainda é bem baixo. Pior: áreas 
para aterro sanitário estão escasseando no município e percorrer grandes 
distâncias com essa montanha de lixo será um problema insolúvel! Outra questão 
discutida no plano em relação ao solo é a presença de habitações irregulares, um 
tipo de ocupação que é encontrada por toda a cidade. O que significa? Boa 
parcela da população não tem onde morar salvo em áreas de risco, fundo de vale 
ou encosta. Os números são gigantescos – algo em torno a dois milhões de pessoas 
vivendo dessa forma!
SP 2040: Qual seria a São Paulo “verde” que o eixo ambiental tem a 
propor?
Mario Thadeu: Uma questão ambiental importante é a chamada 
cobertura verde, ou seja, a arborização das ruas e a instalação de valas 
“verdes” de coleta de água – são medidas que a cidade pode utilizar de modo a 
recompor a infiltração da água da chuva no solo, por exemplo. Dispositivos que 
já são aplicados em cidades do Primeiro Mundo e funcionam como parte da solução 
do controle das inundações. No caso da cobertura verde, aliás, ela também causa 
efeito benéfico sobre o controle da temperatura ambiente, já que o aquecimento 
das cidades está intimamente ligado ao processo de formação das chuvas 
intensas.
SP2040: E quanto ao ar que se respira em São Paulo, o que precisa ser 
controlado?
Mario Thadeu: O ar também é objeto de estudo do nosso eixo, 
caso do controle dos poluentes lançados na atmosfera principalmente pela frota 
de veículos, o que está conectado com a questão da mobilidade, menos espaço para 
o automóvel e mais para o transporte público… Não tem jeito: se quisermos 
recuperar o tecido urbano ambientalmente, será preciso falar na redução da frota 
de veículos em São Paulo.
SP 2040: Acredita que São Paulo é capaz de ter qualidade ambiental no 
dia a dia?
Mario Thadeu: São Paulo teve um crescimento brutal e sem o 
menor planejamento… Sim, o desafio é enorme, certamente vou deixar para os meus 
netos o usufruto de uma cidade melhor do ponto de vista ambiental, mas o 
importante é planejar as metas que precisam ser cumpridas ao longo do tempo. O 
plano vai gerar um documento que tem de servir de orientador das decisões de 
caráter público. E eu torço para que esse documento seja alvo de continuidade 
administrativa, que seja menos susceptível a mudanças de ordem política.
SP 2040: No passado, muitos planos foram feitos e 
engavetados…
Mario Thadeu: Certo, mas eles não tiveram a participação 
pública. É preciso que ocorra uma conscientização da população de São Paulo para 
exigir dos dirigentes que um plano como o SP 2040 seja respeitado! Precisamos 
também de instituições capacitadas para gerenciar as conclusões desse plano e – 
o que é muito importante! – equipes de técnicos à altura de colocar esses 
resultados em prática. Concluindo: são necessárias metas, estabelecer programas 
que tenham continuidade e inspirar a participação popular. Porque o SP 2040 tem 
tudo para mudar o paradigma de um plano que não deu em nada.
(Texto de Marion Frank; foto de Daniel Ramos)
 
