O desafio de alimentar os 7 bilhões
16 de janeiro de 2012 | 3h 07
ANDRÉ DIAS, É PRESIDENTE DA MONSANTO BRASIL - O
Estado de S.Paulo
No final do ano passado nasceu em Kaliningrado, na Rússia, o bebê Piotr, que
simbolicamente marcou a elevação da população da Terra aos 7 bilhões de
habitantes. Piotr representa, ao mesmo tempo, os desafios e as oportunidades que
temos pela frente. Afinal, como alimentar mais de 7 bilhões pessoas? Antes de
Piotr tornar-se um adolescente, teremos mais 1 bilhão de pessoas no planeta,
chegando a 8 bilhões. Ao sair da universidade, ele estará na companhia de outros
9 bilhões de pessoas.
Apesar de todo o progresso que eleva o padrão de vida em várias regiões do
mundo, a triste realidade é que o número de famintos no mundo está aumentando. O
Programa Mundial de Alimentos nos alerta que há quase 1 bilhão de famintos no
planeta, mais que as populações dos Estados Unidos, Canadá e União Europeia
juntas.
Somados esses dois desafios, estima-se que a demanda por alimentos, em 2050,
será o dobro da que temos hoje. Colocado de outra forma, teremos de produzir, ao
longo dos próximos 50 anos, a mesma quantidade de alimentos que produzimos ao
longo dos últimos 10.000 anos.
Garantir o fornecimento de alimentos, fibras e energia suficientes exige a
solução de uma equação complexa e com muitas variáveis: mudança do padrão da
dieta mundial, com o consumo crescente de proteína animal; diminuição da área
plantada globalmente em função do avanço da urbanização e da industrialização;
problemas de logística e distribuição; utilização crescente de biocombustíveis
como fonte de energia alternativa; o aquecimento global; e a necessidade de
preservarmos recursos naturais. A saída está em encontrar uma forma de produzir
mais, ao mesmo tempo em que conservamos o meio ambiente e melhoramos a qualidade
de vida das pessoas.
Hoje, a agricultura já ocupa 1,8 bilhão de hectares no mundo, área
equivalente à América do Sul. Ao mesmo tempo, já é responsável por 70% do
consumo de água no planeta. Esses valores dão dimensão ao desafio de alimentar 7
bilhões de pessoas. Como dobrar a produção e ao mesmo tempo mitigar impactos
adicionais?
Nesse cenário, a tecnologia desempenha um papel fundamental. Foi somente com
ela que conseguimos afastar o espectro lançado por Thomas Malthus, que em 1798
previu que a população cresceria mais rápido que a oferta de alimentos. Apesar
do aumento populacional, ele foi vencido por pessoas como Norman Borlaug,
criador da Revolução Verde e Prêmio Nobel da Paz em 1970, que provou que, com
inventividade, podemos, sim, vencer esse desafio. A tecnologia aplicada aos
campos impediu catástrofes e nos ajudou a aumentar a produtividade agrícola para
níveis jamais atingidos na história, nas regiões que têm tido acesso a essas
inovações.
Essa revolução também se deu no Brasil. Há 40 anos, o País era um importador
de alimentos. Hoje, somos um dos principais produtores e exportadores mundiais,
com papel relevante na missão de mitigar a fome no mundo. De importadores
tornamo-nos líderes ou vice-líderes na produção e na exportação de produtos
agrícolas como açúcar, carne bovina, café, suco de laranja, soja, etanol e carne
de frango. E as previsões para o futuro são ainda mais otimistas. Projeções do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês)
estimam que o Brasil chegará, em 2020, ao posto de maior potência agrícola do
planeta. Como em tantos outros segmentos, os olhos do mundo estão voltados para
nós. Contamos com uma grande vantagem: nosso País tem agricultores dedicados,
desde aqueles em pequenas propriedades - que buscam tecnologia para melhorar
suas vidas e de suas famílias - até os jovens empreendedores, com sólida
formação técnica, que escolhem o campo para fazer a diferença no mundo.
A necessidade de encontrar soluções capazes de alimentar o mundo de forma
sustentável inspira empresas como a Embrapa, agricultores, governo, instituições
de ensino, cientistas e empreendedores. Oportunidades não faltam. São diversas
as soluções tecnológicas que proporcionam aumento da produtividade por hectare e
eficiência no campo, desde sementes resistentes a pragas e doenças e que geram
alimentos mais nutritivos a máquinas agrícolas mais modernas, que permitem
plantio e colheita mais precisos e menos perda de grãos, passando por técnicas
de irrigação. Ao mesmo tempo, educação, crédito e incentivos são também
fundamentais. É importante lembrar que grande parte dos famintos no mundo é de
pequenos agricultores que não conseguiram ainda, por falta de acesso a recursos
e tecnologia, quebrar o ciclo vicioso da pobreza no campo. Soluções para um
mundo mais sustentável passam pela aliança de todos.