Alta procura faz salário de engenheiro subir 20%
Universidades não conseguem formar profissionais suficientes para atender à alta da demanda, puxada por investimentos públicos e privados
03 de novembro de 2011 | 3h 07
MARINA GAZZONI - O Estado de S.Paulo
A escassez de engenheiros vem pesando no bolso das empresas. O salário médio 
na área de engenharia subiu entre 15% e 20% neste ano, de acordo com um 
levantamento feito pela consultoria Michael Page a pedido do 'Estado'. Um 
profissional recém-formado em universidades conceituadas consegue ocupar vagas 
com salários entre R$ 4.000 e R$ 5.000 no primeiro emprego, afirma o diretor da 
consultoria, Augusto Puliti.
O incremento nos salários é um reflexo da expansão do emprego no setor, 
puxada pelos investimentos privados e públicos feitos no Brasil nos últimos 
anos. O número de vagas abertas para o ramo de engenharia aumentou entre 20% e 
30% neste ano em relação a 2010, segundo a Michael Page. Como a quantidade de 
engenheiros formados não cresce na mesma proporção, há uma disputa por mão de 
obra.
A Petrobrás, por exemplo, contratou 3.100 engenheiros de 2008 até setembro 
deste ano. Dos 58 mil funcionários da empresa, 11,5 mil ocupam cargos de 
engenharia e outros 1.225 empregos devem ser adicionados à área até 2013. 
Para contratar novos profissionais ou reter talentos, as empresas tiveram de 
pagar mais. Na Engevix, por exemplo, o custo médio do salário de um engenheiro 
subiu 40% em quatro anos, afirmou o presidente da companhia, Cristiano Kok. 
Na consultoria de projetos de engenharia Maubertec, o custo para contratar 
novos profissionais subiu 10% em termos reais - uma expansão da ordem de 27% em 
valores nominais. "As empresas menores buscam os engenheiros na faculdade para 
treinar. Mas o mercado está comprando gente. É difícil segurar os 
profissionais", diz o empresário José Roberto Bernasconi, sócio da 
Maubertec.
As obras de infraestrutura previstas para o Brasil devem acirrar a briga por 
profissionais qualificados. A estimativa da Confederação Nacional da Indústria 
(CNI) é que serão necessários 500 mil engenheiros para executar as obras do 
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Além de concorrer entre si, as empresas de engenharia também disputam 
profissionais com outros setores, principalmente o mercado financeiro. Dos cerca 
de 750 mil engenheiros em atividade no Brasil, só 30% trabalham como 
assalariados na área, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
(Ipea). "A engenharia foi uma profissão desvalorizada nos anos 80 e 90. Muitos 
profissionais acabaram migrando para outras áreas", diz o presidente do 
Instituto de Engenharia, Aluizio Fagundes.
Sem oferta. Agora que o mercado de infraestrutura e tecnologia se aqueceu, a 
tendência é que os salários continuem a subir nos próximos anos. O motivo é que 
as universidades brasileiras formam menos engenheiros do que o número de vagas 
criadas em um ano. 
Atualmente, o Brasil forma 35 mil engenheiros por ano, de acordo com dados de 
2009 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que 
considera apenas os cursos com o nome de Engenharia. Mas o País deve abrir cerca 
de 100 mil vagas para engenheiros por ano até 2016, pelas estimativas do 
Instituto de Engenharia. 
Porém, na hora de contratar, as empresas não buscam apenas profissionais com 
curso superior em engenharia. "Elas querem pessoas formadas em boas faculdades, 
com visão de negócios e com domínio de língua estrangeira", diz o consultor da 
Michael Page. 
Dos 35 mil engenheiros formandos, um quarto estudou em cursos mal avaliados 
pelo Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). E a maioria não fala 
inglês.
 
