Uma rede em busca da cidadania
A Myfuncity tenta fazer com que o cidadão descubra uma maneira de atuar politicamente, sem a necessidade de agir dentro dos moldes da política tradicional
http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/uma-rede-em-busca-da-cidadania
Branca Nunes
Em 19 de outubro, o aplicativo estará disponível para iPhones e iPads
(Reprodução)
As estatísticas e o consolidado das avaliações são enviados a
prefeituras, secretarias, jornais, emissoras de rádio, revistas ou
qualquer outra entidade cadastrada
“Você se sente seguro na sua região?”, “As vias estão limpas?”, “O
trânsito está fluindo?”, “Você está satisfeito com os parques”. Imagine
opinar sobre questões como essas enquanto caminha pela cidade. Imagine
se as respostas chegassem diariamente ao conhecimento do poder público.
Imagine se o governo e a prefeitura passassem a levar essas informações
em consideração no momento de decidir para qual direção ampliar as
linhas de ônibus, onde instalar novas lixeiras ou em que lugar plantar
uma árvore. É exatamente essa a proposta do Myfuncity, a primeira rede social privada do mundo focada em cidadania.
“É uma ferramenta de transformação para grandes e pequenas causas”,
explica o publicitário Mauro Motoryn, um dos idealizadores do projeto,
que deixou o cargo de CEO da agência 141 Soho Square para se dedicar em
tempo integral à empreitada – que será exportada para os Estados Unidos e
a Europa até o ano que vem. “Vamos conectar milhares de pessoas que
compartilham opiniões e querem contribuir para mudar a cidade onde
moram”.
A ideia é simples. Depois de se cadastrarem, os usuários são convidados
a avaliar a região onde estão naquele momento. Também é possível deixar
um comentário e colocar fotografias, que podem ser compartilhados via
Facebook ou Twitter, de forma anônima ou abertamente. Entre os 12 temas
abordados, limpeza pública, transporte, saúde, educação e lazer. Todos
os dados ficam armazenados e disponíveis para serem consultados por
outros usuários de internet que estejam num raio de um quilômetro
daquele local. No fim do dia, as estatísticas e o consolidado das
avaliações são enviados a prefeituras, secretarias, jornais, emissoras
de rádio, revistas ou qualquer outra entidade cadastrada.
“É uma forma de usar a tecnologia como suporte da cidadania, a serviço
da mobilização da sociedade”, acredita Oded Grajew, fundador da Rede
Nossa São Paulo e um dos parceiros do projeto. “Embora o direito de se
obter informação sobre a qualidade dos serviços públicos seja garantido
por lei, diversos municípios brasileiros não cumprem essa determinação.
Com esse aplicativo poderemos ter uma ideia melhor do que acontece na
cidade sob o ponto de vista dos cidadãos”.
Outras mídias - Até agora, só é possível acessar o Myfuncity pelo Facebook.
Em 19 de outubro, o aplicativo estará disponível para iPhones e iPads
com um recurso de geolocalização que indicará automaticamente onde está o
usuário. O dia também marca o lançamento em três cidades dos Estados
Unidos. No fim do mês, será a vez dos celulares com sistema operacional
Android, do Google.
O questionário tem 12 perguntas que mudam de hora em hora – a única que
permanece a mesma é: “Qual é seu humor hoje”, para que se possa ter um
“grau de confiabilidade” nas respostas. Até agora, foram elaboradas 96
questões. “Também será possível criar perguntas voltadas para uma cidade
específica, caso alguma prefeitura tenha o interesse de saber a opinião
da população sobre determinado tema”, explica Motoryn.
O objetivo principal do Myfuncity é possibilitar, através das novas
tecnologias, que o cidadão descubra uma maneira de atuar politicamente,
sem a necessidade de agir dentro dos moldes da política tradicional –
tratada com repulsa por grande parte das novas gerações. “É hora de
reinventar e inovar os moldes de ação”, acredita Alexandre Le Voci
Sayad, diretor do Myfuncity. “O barateamento das tecnologias abriu
caminho para uma geração de jovens antenados, com instrumentos capazes
de promover uma verdadeira revolução . Embora banal, a pergunta ‘Que
cidade você deseja?’ jamais foi feita ao cidadão. Nós queremos fazê-la. O
Myfuncity abre um canal de expressão precioso para a construção de
políticas públicas”.
O público e o privado - Além da maior interação com o
poder público, a rede espera criar canais de diálogo entre os
internautas, que poderão “curtir” – botão popularmente conhecido no
Facebook que permite indicar um conteúdo – e “comentar” as opiniões dos
usuários. “Pessoas que tenham interesses em comum poderão se comunicar
e, por que não, organizar ações que efetivamente mudem a realidade
daquela região da cidade”, anima-se Motoryn.
O projeto, que vem sendo desenvolvido há dois anos por Motoryn e Sayad,
nasce com a parceria de mais de 700 entidades, por meio da Rede Nossa
São Paulo, Rede Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, Cidade
Escola Aprendiz, Catraca Livre e do Museu da Pessoa. A fonte de receita
virá de anunciantes e, até o fim de 2012, o Myfuncity pretende reunir
cerca de 10 milhões de usuários no Brasil e 50 milhões no mundo.
Embora na teoria o Myfuncity funcione bem, ainda é preciso saber o que
acontecerá na prática. Para dar certo, é fundamental não só a
participação de um grande número de pessoas, mas o bom uso dos recursos
disponíveis para que o aplicativo não se transforme em mais um dos
infinitos jogos criados diariamente nas redes sociais. As ferramentas
estão postas na mesa. Resta descobrir o que será feito com elas.