Green Buildings, antes tarde do que nunca
fonte: http://gbcbrasil.org.br/sistema/referencia/1_(201109035538)Artigo_Marcos_Casado_Revista_CREA_ES__Junho11.pdf
autor: *Marcos Casado
A onda de prédios verdes “Green buildings”, chegou definitivamente no país. Conforme dados do Green Building Council Brasil, o número de empreendimentos registrados junto ao USGBC para obterem a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) cresce exponencialmente e o movimento da construção sustentável já faz parte da agenda mundial e felizmente não há mais como ignorar esse movimento. Ou as empresas do mercado se atualizam ou vão ficar obsoletas em um futuro próximo.
Hoje no país há cerca de 300 empreendimentos registrados em 19 estados brasileiros buscando a certificação de desempenho ambiental para seus empreendimentos. A previsão é ultrapassar 350 empreendimentos até o final do ano. A meta mundial é fechar 2001 com 950 milhões de m² no mundo em processo de certificação LEED em mais de 120 países.
Já são 31 empreendimentos certificados no Brasil e cerca de 14.500 no mundo, apesar deste movimento ser novo no país podemos verificar pelos gráficos abaixo que ele vem crescendo rapidamente, devido aos diversos benefícios ambientais, sociais e econômicos promovidos por este tipo de construção.
Para receber a certificação, o empreendimento deve atender pré-requisitos e recomendações que avaliam o tipo de terreno, a localização, a infra-estrutura local, o uso racional de água, eficiência energética, qualidade do ar interno, reciclagem e diversas outras medidas que garantam eficiência operacional ao usuário e preservação do meio ambiente, antes, durante e após a obra. Todos estes critérios começam a impulsionar e a transformar o mercado da construção civil e têm se tornado uma importante ferramenta educacional e de comunicação com o consumidor, além de criar parâmetros de qualidade para o mercado.
A sociedade está chegando à conclusão de que, embora tenha trazido o maior desenvolvimento tecnológico que a humanidade já experimentou, o século 20 também registrou a gênese daquele que vem sendo considerado o maior desastre ecológico do planeta. Quando acompanhamos os índices de poluição do ar, água ou solo, o consumo de recursos naturais e a capacidade do planeta de repor estas necessidades, temos realmente que nos preocupar e o Setor da Construção Civil é com certeza um dos que causam maior impacto ambiental.
O novo contexto global exige, cada vez mais, por parte das empresas, governantes e sociedade a capacidade de levar em consideração fatores sociais, ambientais e econômicos de uma forma equilibrada em suas tomadas de decisões.
Portanto, o desafio mundial para este século é conciliar o desenvolvimento tecnológico com a preservação dos recursos naturais, garantindo a aplicação de práticas sustentáveis por parte dos atores deste processo.
Os impactos que o mercado da construção civil causa ao planeta são imensos. O setor é responsável por até 35% das emissões de CO2 diretas ou indiretas e cerca de 30% dos recursos naturais extraídos em todo o mundo; as edificações no Brasil consomem cerca de 21% de toda a água tratada, 42% da energia gerada e geram cerca de 65% dos resíduos que estão em aterros sanitários.
A construção civil começa a demonstrar que está se adequando cada vez mais aos conceitos de sustentabilidade que estão sendo impostos em todos os setores da economia e que a cada dia passam a ser uma exigência da sociedade, principalmente da nova geração. Os mais jovens estão começando a exigir de seus fornecedores uma postura mais correta em relação ao meio ambiente, desenvolvendo um dos maiores desafios corporativos deste milênio: o consumo consciente.
Consultores, grandes construtoras de imóveis, empreendedores e incorporadores tanto comerciais quanto residenciais, fornecedores de materiais, insumos e tecnologias, estão aos poucos, desenvolvendo expertise nessa área, em um movimento que ganhou força nos últimos cinco anos e que hoje já começa a criar uma nova demanda no mercado da construção civil no Brasil.
Pesquisa realizada no ano passado com as 104 maiores construtoras do país que constroem cerca de 41% das obras no Brasil, mostrou que elas estão mudando: 32% delas incorporam em suas metas e políticas a construção sustentável e destinam cerca de 14% dos seus recursos para capacitar seus profissionais a estes novos conceitos e 84% consideram a construção sustentável estratégica para a sua sobrevivência neste mercado em transformação.
A certificação, que com certeza tem um peso importante nesta transformação, mas por si só não será capaz de resolver todos os problemas, é muito importante para o desenvolvimento de iniciativas educacionais para disseminar informações sobre as melhores práticas e tecnologias sustentáveis, a fim de capacitar os envolvidos na concepção, construção, operação e manutenção das edificações e espaços construídos. Toda essa nova visão começa a demandar a cada dia mais especialistas em áreas como de comissionamento de sistemas de energia, profissionais especialistas em softwares de simulação energética e profissionais capacitados em consultoria para green buildings que no caso do LEED são os LEED AP´s (Profissionais Acreditados para prestar consultoria LEED). Portanto, é importante que os profissionais se especializem para atender estas novas exigências do mercado.
Além disso, é imprescindível o engajamento do governo neste processo de transformação, por meio de incentivos, bons exemplos e políticas públicas focadas no desenvolvimento da construção sustentável. O governo seja ele federal, estadual ou municipal é detentor de uma grande percentual das edificações construídas e também responsável por uma importante parcela das novas construções, podendo além de praticar estes conceitos em suas construções, impulsionar o mercado para esta transformação, por meio de exemplos ou na criação de legislações que viabilizem e estimulam as novas construções ou reformas, atendendo esta nova realidade.
Devido a esse movimento, já estão sendo aprovados vários incentivos fiscais por parte de prefeituras (Sorocaba-SP, Guarulhos-SP, São Carlos-SP) com a criação de IPTU´s Verdes que passam a dar descontos através da aplicação destas práticas, assim como estão sendo criado pelos Bancos particulares e Privados (BNDES) linhas de créditos diferenciadas com prazos maiores e taxas menores de financiamento desde que as construções incorporem estes critérios sustentáveis.
Um empreendimento sustentável pode reduzir em 30% o consumo de energia, 50% o consumo de água, 35% das emissões de CO2 e até 70% o descarte de resíduos. Se os clientes finais também mudarem sua postura e passarem a exigir das construtoras uma posição mais sustentável, certamente veremos um movimento muito maior do mercado nesta direção. O futuro da construção civil já tem um caminho traçado e a sustentabilidade não será apenas um modismo. As boas práticas do mercado devem ser disseminadas, assim como o maior número de informações possíveis sobre as soluções implantadas, experiências de sucesso e iniciativas em prol da sustentabilidade.
A construção sustentável veio para ficar, talvez um pouco tarde, mas com o engajamento de toda a sociedade, revendo nossas ações e atitudes, certamente alavancará a formação de uma nova cultura baseada na visão sistêmica preconizada pela sustentabilidade.
Visite o site do GBC Brasil: http://gbcbrasil.org.br/?p=referencia
*Eng. Marcos Casado é o Gerente Técnico do Green Building Council Brasil.