segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Variações climáticas como o El Niño e La Niña têm impacto sobre os conflitos gerados em regiões atingidas pelos dois fenômenos


26/08/2011 - 20h06

Variações climáticas influenciam ocorrência de guerras civis



DA FRANCE PRESSE



Variações climáticas como o El Niño e La Niña têm impacto sobre os conflitos gerados em regiões atingidas pelos dois fenômenos, afirma um estudo publicado na revista "Nature", na última quarta-feira (24).
Os países tropicais, que sofrem com tempestades causadas pelo fenômeno El Niño, são duas vezes mais suscetíveis a terem conflitos internos que aqueles afetados pelo La Niña, mais úmida e menos quente.
A fome, que dobrou na Somália por causa de uma guerra civil e castiga o Chifre da África, é um exemplo dos efeitos das variações do clima que intensificam a seca e as tensões de sociedades já fragilizadas, dizem os autores da pesquisa.
Eles acrescentam que estes riscos aumentarão com o aquecimento global causado pela emissão de gases estufa.
"O estudo mostra inegavelmente que, mesmo no nosso mundo moderno, as variações climáticas têm impacto sobre a propensão das pessoas à violência", explica Mark Cane, pesquisador do clima do Observatório da Terra Lamont-Doherty, que pertence à Universidade de Columbia, em Nova York.

CONFLITOS DE 1950 A 2004
Os autores do estudo examinaram os dois fenômenos climáticos entre 1950 a 2004 e cruzaram os dados com informações sobre conflitos internos que causaram no mínimo 25 mortos por ano na mesma época.
Cento e setenta e cinco países e 234 conflitos, dos quais mais da metade matou mais de mil mortos nos confrontos, também foram analisados.
Durante o período de observação do La Niña, a probabilidade de um conflito acontecer foi de 3%. No do El Niño, subia para 6%. Já o risco de um conflito em países que não eram afetados por nenhum dos dois fenômenos correspondeu a 2%.
Segundo os pesquisadores, o El Niño pode ter influenciado 21% dos casos de guerras civis pelo mundo, uma cifra que chega a 30% nos países especialmente afetados pelo fenômeno.
Solomon Hsiang, o principal pesquisador do estudo, afirmou que o El Niño é um fator invisível, mas que provoca perdas nas colheitas, favorece as epidemias após as tempestades, intensifica a fome, o desemprego e as desigualdades que, por sua vez, alimentam a discórdia e o descontentamento.
Outros fatores que podem influenciar no nível de risco de uma guerra civil são o crescimento demográfico, a prosperidade e a capacidade de os governos controlarem os eventos ligados ao El Niño.
O El Niño ocorre no hemisfério sul de modo cíclico a cada dois ou sete anos. Ele dura entre nove meses e dois anos e provoca fortes perdas na agricultura, pesca e extrativismo florestal.
O fenômeno decorre pelo acúmulo de massas d'água quente na parte ocidental do Pacífico tropical e atravessa o oceano. Pode provocar modificações drásticas nos ciclos de chuvas e nas temperaturas, gerando ondas de calor, ventos secos e violentos na África, parte sul da Ásia e sudoeste da Austrália.
Já o ciclo inverso, o La Niña, causado por um resfriamento das massas d'água na parte oriental do Pacífico, favorece fortes chuvas nessas regiões.