A vez do bambu
Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/Common/0,,EMI239213-18067,00-A+VEZ+DO+BAMBU.html
Autoria: Por Vanessa Lima
Marko Brajovic, um dos criadores do laboratório Bamboo Lab, dá dicas para utilizar melhor esse material, que é tendência na decoração, no design e na arquitetura
Pisos de madeira podem ser substituídos pelos de bambu.  Este é da Neobambu
Bonito, durável e vindo de fonte renovável, o bambu está em  momento de glória no design, na decoração e  na arquitetura. Muitas vezes, a fama é atribuída ao caráter  sustentável, mas de acordo com o arquiteto croata Marko Brajovic, é  preciso tomar cuidado ao tocar nesse assunto. “A sustentabilidade não pode se  referir só ao material, mas deve ser entendida como um sistema integral. É  preciso considerar o processo inteiro, como a plantação, o cultivo, o  processamento e a produção industrial de larga escala”, explica o profissional,  que é um dos fundadores do Bamboo Lab, um grupo de arquitetos e designers que  cria desde móveis a pontes, usando bambu. 
Segundo Brajovik, também é  importante compreender que o material tem uma identidade própria. “O bambu não é  madeira e acho que é um erro usá-lo como se fosse”, diz o especialista. Confira  a entrevista:
Casa e Jardim – Como começou a trabalhar com essa matéria-prima? 
Marko Brajovic – Em 2001, fui convidado, junto com o meu escritório  – na época chamado Su-Studio – a fazer o projeto de uma casa, na Costa  Rica. Seguimos em uma viagem de estudo pelo Japão e  pelo Brasil, até que, em Maceió, no ano de  2004, construímos uma ponte para uma comunidade carente. Finalmente, em 2005, em  Palma de Maiorca, na Espanha, criamos o primeiro workshop  internacional de design e construção experimental em bambu na Europa. Assim,  criamos o Bamboo Lab, que constrói desde mobiliários a pontes de emergência,  graças a arquitetos e engenheiros provenientes de doze diferentes países. Em  2006, publicamos o livro Bamboo Lab, que inclui todas as experiências e  projetos dos últimos anos, pela editora Actar, de Barcelona. CJ  – E por que esse material? MB – Comecei a usar o bambu porque fui  seduzido pela elegância, pela inteligência e pela alta tecnologia que esse  material tem, por natureza.Molduras de bambu em volta dos quadros enfeitam a parede  atrás da cabeceira da cama. Projeto do arquiteto Marco Antonio Medeiros
CJ – O bambu é um bem renovável e abundante. Acredita que a tendência  é continuar apostando no uso desse material? 
MB – O bambu virou  “moda” nos últimos anos e isso pode até prejudicar uma pesquisa séria sobre o  material e suas possibilidades reais de uso no design, na arquitetura e na  decoração. Ele tem suas próprias limitações, sobretudo com raios UV ou contato  direto com água. Por isso, é preciso aprender bastante sobre o material antes de  usá-lo. Caso contrário, graves erros podem ser cometidos. O bambu é usado pela  humanidade na construção há cerca de 5 mil anos. Esse know-how está  documentado. Além disso, temos novos conhecimentos graças a institutos e  universidades competentes. CJ – Na sua opinião, qual é o futuro  do bambu nesse meio? MB – Pessoalmente, acho que o futuro está nos  formatos industrialmente processados, em usar a matéria-prima do bambu para  criar laminados e materiais compostos e híbridos, onde as fibras se misturam com  polímeros e outros materiais sintéticos. As pesquisas mais avançadas caminham  nesse sentido. No entanto, precisamos ter aplicações concretas para incentivar o  interesse das indústrias sustentáveis.O banco Peque, de Marco Brajovic
CJ – O mundo presta mais atenção na preservação e na sustentabilidade  hoje em dia? 
MB – Não gosto muito da palavra “sustentável”, porque  ela é frequentemente mal utilizada para a publicidade de produtos. Acho que a  sustentabilidade não pode referir-se somente ao material usado, mas precisa ser  entendida como um sistema integral. No caso do meu último produto realizado em  bambu, o banco Peque, todo o processo de produção foi otimizado, em  termos de material e de recursos humanos. O uso do bambu, que é uma planta com  altíssimo índice de crescimento da própria biomassa, poderia criar uma indústria  nacional. Isso daria trabalho a muitas comunidades e cooperativas no país,  promovendo um desenvolvimento econômico e social inteligente. Assim,  considerando o processo integral, como a plantação, o cultivo, o processamento e  a produção industrial de larga escala, o bambu poderia ser, seguramente, o  material mais “sustentável” do mercado nacional e mundial. CJ –  Existe algum produto de bambu que, em algum momento, pareceu ser impossível de  ser realizado? Qual? MB – Sim. Ultimamente vejo várias propostas de  projetos de arquitetura em bambu que acho pouco viáveis porque não contemplam as  limitações e as características melhores do material. O bambu não é madeira e  acho um erro usá-lo como se fosse. É um erro por causa das características do  material e da linguagem estética. O bambu precisa ser entendido, conhecido e  reconhecido como material único, com identidade específica.CJ  – Quais projetos utilizando o material foram mais desafiadores? MB  – O banco Peque, em bambu laminado, foi um deles. A peça é uma  inovação do uso estrutural do bambu e foi produzida graças a uma pesquisa de  dois anos junto à jovem fábrica paulistana TIVA Design, dos arquitetos Rafael  Paolini, Bruno Bezerra e Alexandre Xandó. O banco é feito por meio de um  processo de laminação do painel de bambu-mossô (Phyllostachys  pubescens). Assim, chega-se às lâminas de 1,5 mm de espessura com  excelentes características mecânicas e estéticas. Essas lâminas aplicadas no  molde são coladas entre si com resina natural. Com isso, chegamos a um banco de  7 mm de espessura e 1,8 kg. Isso porque o bambu é um material de alta tecnologia  por natureza.Parafusados diretamente na parede, os números de bambu  foram criados pelo ateliê Kanela Bambu. Uma camada de verniz garante a  durabilidade na área externa
 
