"FUMANDO ESPERO": UM TANGO DE CADA VEZ MAIS DIFÍCIL APLICAÇÃO
por Ariel Palacios
Carlos Gardel, ícone do tango no Rio da Prata, fuma em um filme da Paramount nos anos 30.
Quem quiser colocar na prática a espera nicotínica imortalizada por Carlos Gardel (e na versão feminina, pela espanhola Sarita Montiel), também terá a oportunidade – pouco romântica – de esperar fumando nos estádios. Mas somente os estádios não cobertos.
Isso é o que determina a lei aprovada pelo Senado em dezembro passado e confirmada pela Câmara de Deputados na terça-feira à noite. A nova lei será promulgada pela presidente Cristina Kirchner em breve e entrará em vigência antes do fim do ano, segundo afirmou o senador Daniel Filmus, ex-ministro da Educação e autor do projeto de lei.
O tradicional cigarro colocado na mão esquerda da estátua de Gardel em seu túmulo no cemitério de La Chacarita será uma lembrança do passado. Nas últimas sete décadas e meia, desde seu enterro em 1935, a mão de Gardel quase sempre ostentou um cigarro fumegante colocado pelos fãs.
“É um dia histórico” exclamou Verônica Schoj, coordenadora da ONG Aliança Livre de Fumaça Argentina. Segundo ela, a nova lei “não estigmatizará os fumantes, pois vai ajuda-los a deixar os cigarros”. O ministro da Saúde, Juan Manzur, declarou que a lei será “crucial” para reduzir o número de 40 mil mortes anuais provocadas pelo cigarro na Argentina.
A norma, que transformou a Argentina nesta semana no oitavo país 100% livre de fumaça de cigarros na América Latina (depois do Uruguai, Peru, Venezuela, Colômbia, Panamá, Guatemala e Honduras), também estipula restrições à publicidade de cigarros e demais estímulos para o consumo de produtos elaborados com fumo.
A partir de sua promulgação será proibida a colocação de publicidade em meios de comunicação e na via pública. Além disso, as empresas de cigarros não poderão patrocinar eventos ou atividades públicas.
Os maços – que deverão ostentar advertências sanitárias sobre os riscos de fumar – não poderão mais utilizar as denominações “light”, “suave” ou “baixo conteúdo de nicotina”.
A lei estipula que fica expressamente proibida a atividade de fumar em escritórios públicos ou privados. A única possibilidade que fica aberta é a dos escritórios de apenas uma pessoa, sem atendimento ao público e sem empregados.
A lei foi aprovada na Câmara por 182 votos a favor. Um deputado absteve-se, enquanto outro votou contra a lei. Após a votação, o deputado Jorge Obeid destacou que os próprios parlamentares deveriam dar o exemplo do cumprimento das restrições ao fumo e remover os cinzeiros espalhados no plenário dos deputados.
As multas para os infratores da nova norma oscilarão entre os valores equivalentes de 250 e um milhão dos maços mais caros de cigarros (entre US$ 437 e US$ 1,5 milhão).