quinta-feira, 17 de março de 2011

TRAGÉDIA AMBIENTAL NO JAPÃO PODE COMPROMETER COMPLETAMENTE O EQUILÍBRIO DO "TRIPLE BOTTOM LINE"...

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Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/









Será a energia nuclear sustentável?




17 Março2011
12:07

Autor: Humberto D. Rosa

Fonte: http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=474019


Um terramoto e um tsunami de grandes proporções bastaram para relançar em força a questão da segurança das centrais nucleares.

No debate sobre o nuclear havia desde há muito quem quisesse descartar de vez o acidente de Chernobyl, como se fosse algo de ímpar e irrepetível, fruto de uma qualquer tecnologia ultrapassada ou de um improbabilíssimo erro humano. Mas quando vemos o Japão a braços com riscos tão sérios de desastre nuclear numa a quatro das suas centrais afectadas, fica bem patente como nenhuma central nuclear do mundo está isenta de riscos de segurança, sejam de origem natural ou humana.



É certo que nenhuma outra tecnologia ou empreendimento é isento de riscos de acidente, ou de falhas graves em circunstâncias excepcionais. E é justo reconhecer que a energia nuclear está longe de ser das tecnologias mais atreitas ao risco de acidente. O problema não é esse. O problema é que, quando o acidente nuclear grave ocorre, não se vai embora tão cedo: a contaminação radioactiva pode perdurar de décadas a muitos séculos, inutilizando território para uso humano. Certamente que um terramoto devastador poderia por exemplo fazer colapsar uma barragem, o que geraria uma catástrofe enorme, um verdadeiro "tsunami" de água doce.



Mas passada a catástrofe e recuperados os danos, a incidência no território poderia ser plenamente recuperada. Numa catástrofe nuclear, a poluição radioactiva perdura e mata por muito tempo. O risco pode ser baixo, mas o preço a pagar, esse, é intoleravelmente alto.



O debate sempre em curso sobre energia nuclear tem muitas vezes passado ao lado de uma questão fundamental: será a energia nuclear sustentável? Isto é, será ela um ingrediente do desenvolvimento humano duradouro e equilibrado, que não comprometa as opções e bem-estar das gerações presentes e das vindouras?



Há pelo menos três fortes razões para responder não a esta pergunta. Uma delas é precisamente a questão da segurança, e das consequências a longo prazo. Algo cujas consequências nefastas podem perdurar por séculos não pode merecer o classificativo de "sustentável". A segunda é a questão não resolvida, e dificilmente resolúvel, da deposição segura dos resíduos radioactivos da normal actividade das centrais. Como a sua permanência e perigosidade são de muito longo prazo, torna-se difícil imaginar que algum dia se descortine local ou solução segura e plenamente aceitável para tais resíduos. E a terceira, e não menos fundamental, é que a matéria-prima para os reactores nucleares é esgotável, não é um recurso renovável. Por muito que durem as reservas de urânio, estão longe de durar a uma escala de tempo suficientemente ampla para poderem ser uma componente do desenvolvimento humano sustentável no longo prazo.



O rumo de sustentabilidade global que neste século se joga passa seguramente pela energia limpa, renovável e de baixo carbono. A energia nuclear é de baixo carbono, mas está longe de ser limpa, e renovável não é de todo. Com certeza que uma boa parte do mundo de hoje depende dela e vai continuar a usá-la, até como tecnologia incontornável no curto e médio prazo para os que já a possuem. Mas seria desejável que os países envolvidos fossem planeando o abandono a prazo de uma fonte de energia que é, como vimos, intrinsecamente insustentável.



O caminho da sustentabilidade passa antes de mais pela generalização das energias renováveis, pela eficiência energética, e pela busca da independência dos combustíveis fósseis ou dos minérios radioactivos. É tranquilizador saber que é precisamente essa a opção energética que Portugal tem em curso, e que nunca chegou a embarcar na opção nuclear.





Secretário de Estado do Ambiente