domingo, 13 de março de 2011

Sobrevivência é lição que se aprende na infância

Sobrevivência é lição que se aprende na infância





Em país que tem média de três terremotos por dia, crianças são treinadas a não se apavorar



Tóquio - Num país que tem, em média, três terremotos por dia — alguns não são sentidos —, as lições de sobrevivência começam ainda na infância, transmitida pelos pais e ensinada nas escolas. Ontem, na cidade de Higashiura, na província de Achi, o diretor de uma unidade de ensino primário enviou aviso aos alunos pelo alto-falante. O sinal foi suficiente para que os pequenos corressem para o pátio e aguardassem instruções enfileirados.







“No Japão, as crianças são treinadas desde cedo. Todos os anos acontecem terremotos, então já sabem como agir”, contou a tradutora Mary Chayamiti, 38 anos, que, apesar de ter assistido com sucesso o plano de retirada dos estudantes, não se adaptou aos tremores. “Esse foi o terremoto mais intenso que já senti e, mesmo morando há 20 anos no país, não consigo me acostumar”, disse.



>> FOTOGALERIA: Imagens da tragédia no Japão



O treinamento é só uma parte de um eficiente sistema de prevenção de catástrofes, como reforço nas estruturas dos prédios, que tem ajudado o Japão a reduzir números de mortos e evitar tragédias como a que atingiu o Haiti, em 2010, matando mais de 200 mil pessoas. Ontem, milhões de japoneses receberam o alerta do terremoto um minuto antes do tremor, graças a um sofisticado sistema alimentado por 1.000 sismógrafos. Os equipamentos acionaram o Sistema Nacional de Alerta. Em segundos, a população foi avisada por rádio, celular e e-mail.



O alerta foi transmitido pela TV em cadeia nacional. Até o momento, não se sabe quantas pessoas conseguiram escapar antes da chegada das ondas gigantes que atingiram a costa japonesa. Muitas famílias recorreram ao kit-terremoto. Em mochilas próximas à porta, japoneses guardam capas antifogo, capacete, lanternas, água, comida e apitos para avisar equipes de socorro caso sejam soterrados.



SEMPRE ALERTA



Indonésia, 2004: um tremor submarino de magnitude 9,3 provoca uma tsunami que causa a morte de mais de 288 mil pessoas. Haiti, 2010: um terremoto de intensidade 7 tirou a vida de mais de 200 mil vítimas. Japão, 2011: tsunami de magnitude 8,9 — o maior da história do país — mata cerca de mil pessoas.

O que faz uma tragédia ser centenas de vezes maior do que outra não é só a intensidade do tremor, explica o sismólogo do Observatório Nacional Jorge Luís de Souza. É, principalmente, o preparo da população que vive na região que sofreu os abalos. A tragédia que assolou o Japão é um exemplo positivo de como investimentos em tecnologia e infra-estrutura são eficazes para proteger a população e reduzir danos quando enfrentar a força da natureza não é possível.



26 DE DEZEMBRO DE 2004

Um tremor submarino de magnitude 9,3 — o mais poderoso do últimos 40 anos — frente à ilha indonésia de Sumatra provocou uma tsunami que atingiu dezenas de países, causando a morte de 288 mil. Em uma província onde o nível da água chegou a mais de 30 metros, morreram 168 mil.



17 DE JULHO DE 2006

Tremor submarino de magnitude 7,7 provocou uma tsunami na costa Sul da ilha de Java. Foram 654 mortos.

2 DE ABRIL DE 2007

52 pessoas morreram e 13 povoados foram destruídos em uma tsunami causada por um tremor de magnitude 8 que afetou o Oeste das Ilhas Salomão (Pacífico).



29 DE SETEMBRO DE 2009

Mais de 190 pessoas morreram nas ilhas Samoa e Tonga depois de uma tsunami causada por terremoto de magnitude 8.



27 DE FEVEREIRO DE 2010

Um tremor e uma tsunami consecutivos afetaram o Chile e deixaram 555 mortos e desaparecidos.



25 DE OUTUBRO DE 2010

Mais de 400 pessoas morreram em uma tsunamiprovocada por um tremor de magnitude 7,7 no arquipélago de Mentawai, frente à Sumatra.



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