PARQUES SUSTENTAVEIS VISITA O SISTEMA DE WETLANDS CONSTRUÍDO DA COMUNIDADE DE SERVIÇO EMAÚS UBATUBA-SP
Trata-se do item B.2 das ideías sobre parques urbanos sustentáveis.
HISTÓRIA DO EMAÚS UBATUBA
Sintetizado no príncipio de "Servir primeiro os que mais sofrem", a Comunidade de Serviço Emaús Ubatuba nasceu em 1990 e foi fundada oficialmente em fevereiro de 1994, pelo padre João Benevides Rosário, de Cachoeira Paulista. Para conduzir o projeto da comunidade em Ubatuba, o padre convidou Sr. Jorge da Cruz Oliveira, baiano de Ipiaú, ex-morador de rua, que já desenvolvia trabalhos sociais com jovens de rua, em sua cidade. Com base no lema do Movimento Emaús, constituído de pessoas livres e inconformadas com a miséria, sua missão era então restituir a dignidade das pessoas carentes de Ubatuba, através da educação e do trabalho. Com recursos obtidos da Comunidade Emaús da Europa e do Movimento Emaús Internacional, Sr. Jorge arregaçou as mangas e, em sistema de mutirão, construiu 20 casas, num terreno de 33 mil metros quadrados, abrigando inicialmente famílias da favela da Rua Rio Grande do Sul. Atualmente, o Emaús acolhe cerca de 24 famílias em 23 casas, beneficiando cerca de 114 pessoas carentes e desenvolvendo atividades que visam a autossustentabilidade da comunidade. Além disso, oferece cursos que promovem a valorização humana e a conciliação do homem com o meio ambiente.
Sr. Jorge da Cruz Oliveira com a equipe dos parques sustentáveis
Enéas Salati é diretor técnico da FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e membro do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Entre os mais de 120 trabalhos científicos que publicou em revistas nacionais e internacionais, são recorrentes temas como hidrologia, recursos hídricos e a recuperação de águas com o sistema wetlands – que utiliza plantas aquáticas para tratar o esgoto.
Tanques de tratamento
Entrevista com o engº Enéas Salati a respeito do Sistema Wetlands Construído
Planeta Sustentável - 19/03/2010
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/agua-esgoto-eneas-salati-entrevista-saneamento-basico-541860.shtml
Por Thays Prado
Temos tecnologia para tratar qualquer água ou ela pode atingir um ponto em que não há mais como tratá-la?
Já existem tecnologias para tratar qualquer água. No Texas, por exemplo, é possível transformar esgoto em água potável. Água é H2O, o resto são materiais suspensos ou dissolvidos, que podem ser eliminados. A questão é que quanto pior a qualidade da água, mais caro o processo de tratamento.
Mas no Brasil, especialmente nos bairros mais pobres - e não precisamos ir muito longe -, o que ainda vemos é muito esgoto convivendo com a comunidade, correndo pelas ruas, com as crianças pisando em cima. E isso é uma questão de saúde muito séria.
Mas no Brasil, especialmente nos bairros mais pobres - e não precisamos ir muito longe -, o que ainda vemos é muito esgoto convivendo com a comunidade, correndo pelas ruas, com as crianças pisando em cima. E isso é uma questão de saúde muito séria.
O que os cidadãos poderiam fazer para resolver esse problema sem depender tanto do poder público?
É possível pensar em processos naturais de despoluição do esgoto por meio de solo filtrante e plantas. O que fizemos na comunidade de Emaús, em Ubatuba, é um exemplo. Antes, as fossas sépticas não eram capazes de suportar o esgoto gerado pelas famílias, que corria a céu aberto ao lado das casas. Há quinze anos, em parceria com a prefeitura e o auxílio da comunidade, realizamos uma obra para fazer o tratamento primário, secundário e terciário do esgoto. Esse é o único local no litoral brasileiro que possui tratamento de esgoto completo.
Como funciona?
O esgoto passa por um solo filtrante, permeável, onde há arroz plantado. O processo de filtragem é feito pelas raízes – que absorvem matéria orgânica – de baixo para cima, de modo que a água chega à superfície já bastante purificada e livre de odores. Depois, ela passa para um tanque com girinos e plantas aquáticas flutuantes, como aguapés, que se alimentam das bactérias, segue por uma vala com britas e por um tanque com tilápias que eliminam larvas de mosquito.
E as plantas podem ser consumidas?
Não, mas vão para a compostagem e são utilizadas para a produção de adubo para as hortas e de esterco para as criações animais.
E isso pode ser aplicado em outros locais?
Pode desde que se domine a técnica, ou o processo não funciona. Esse sistema já foi aplicado para o tratamento de águas residuais em usinas de açúcar, para diminuir sua carga orgânica antes de ser lançada no rio. E, em princípio, sai mais barato do que o tratamento convencional. A técnica é recomendada especialmente em cidades menores ou, nas grandes cidades, em bairros. Isso porque, nesse segundo caso, como o volume de esgoto é maior, demanda-se uma área maior para fazer o tratamento. Uma cidade que possui mais de um rio pode realizar o tratamento de esgoto em diferentes pontos em vez de jogá-lo todo em um único local.
Aguapés