segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Lixo do litoral norte de São Paulo viaja 160 km até aterro


14/01/2013 - 06h00




EDUARDO GERAQUE
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO SEBASTIÃO (SP)


Em Juquehy, praia nobre do litoral norte de São Paulo, um saco de lixo esperava havia pelo menos seis horas para ser recolhido pela equipe de limpeza na última quinta.
"A coleta está horrível. Desde o fim de dezembro ela tem falhado. As lixeiras estão sempre lotadas", reclama Rosangela da Silva, 38, moradora do local há 18 anos.
A cena que incomodava banhistas é comum não só ali, mas também em outras praias de São Sebastião.
Muitas vezes, o quadro se repete em Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba. Na região, o acúmulo de lixo chega a ficar dramático no verão -a quantidade de resíduos triplica em algumas praias.
Apu Gomes/Folhapress
Sacos de lixo acumulados em uma das vias de acesso à praia de Juquehy, em São Sebastião
Sacos de lixo acumulados em uma das vias de acesso à praia de Juquehy, em São Sebastião

A situação se repete há, pelo menos, cinco anos: as quatro cidades não têm um plano de gestão de resíduos sólidos eficiente, nem locais credenciados para implantar aterros sanitários.
Com isso, gastam milhões de reais para "exportar" o lixo serra acima, até um aterro no município de Tremembé -uma viagem de cerca de 160 km para aquele saco que aguardava em Juquehy.
Esse processo chega a custar R$ 60 milhões por ano para as quatro cidades, de acordo com o projeto Litoral Sustentável do Instituto Pólis.
Em média, cada prefeitura gasta 10% do orçamento anual com lixo, uma porcentagem bem maior do que a da capital paulista, que é de 2%.
"O valor é muito alto por causa do custo com o transporte", diz o arquiteto urbanista Carlos Henrique Carlos Henrique de Oliveira, do Instituto Pólis. Para ele, os custos reduziriam 30% caso as cidades aumentassem o investimento em coleta seletiva. "Em média, nas quatro cidades, 2% do lixo é reciclado."
O resultado disso são sacos de lixo à espera de coleta.
Na quinta-feira, a reportagem percorreu a costa sul de São Sebastião e flagrou lixeiras cheias em Juquehy e outras praias badaladas, como Baleia e Maresias.
Editoria de Arte/Folhapress
PESO E TAMANHO
O tamanho e o peso do problema pode ser medido em toneladas. Na alta temporada, apenas de São Sebastião saem até 12 carretas por dia carregadas de lixo.
Cada uma, apesar da capacidade total ser maior, leva 27 toneladas. Mais do que isso a estrada não suporta. Em Ilhabela, existe ainda a espera pela maré, já que os caminhões precisam
atravessar a balsa.
O risco de todo o processo, que é muito intensificado por todas as prefeituras nesta época do ano, segundo informações das próprias cidades, não é apenas econômico.
No ano passado, duas carretas tombaram na rodovia dos Tamoios. O acidente gerou transtornos para os motoristas e um importante impacto ambiental.