domingo, 29 de março de 2015

sexta-feira, 27 de março de 2015

Irrigação com moderação

ECOLOGIA

Ato público no Rio chama atenção para reuso da água na agricultura

Evento promovido por ambientalistas e pelo deputado estadual e ex-ministro do Ambiente Carlos Minc (PT) ressaltou a importância da agricultura familiar e orgânica


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PUBLICADO EM 21/03/15 - 17h04

Na véspera do Dia Mundial da Água, que será comemorado amanhã (22), um ato público realizado na manhã de hoje (21), na Feira Orgânica e Cultural do bairro da Glória, zona sul do Rio, chamou atenção sobre os benefícios da reutilização da água.

Promovido por ambientalistas e pelo deputado estadual e ex-ministro do Ambiente Carlos Minc (PT), a manifestação foi realizada na feira para ressaltar a importância de uma parceria ecológica com a agricultura familiar e orgânica.
Com um kit ecológico, formado por uma mangueira com furinhos acoplada a um galão de água, os ambientalistas irrigaram canteiros de hortaliças pelo sistema de gotejamento de água, demonstrando, na prática, a simplicidade do método para economizar água na agricultura.
Segundo Minc, 70% da água no Brasil destinam-se aos setores de agricultura e pecuária. Do restante, 20% são para indústria e 10% para consumo humano. "Se usássemos sistemas de reuso de água de chuva e de gotejamento em irrigação, por exemplo, poderíamos economizar 80% da água hoje utilizada na agricultura."
“Quando usa muito mais água do que é necessário, você 'lava o fundo de fertilidade' da terra, tirando dela muitos elementos importantes para a própria agricultura”, ressaltou.
Para o ex-ministro, neste momento de carência de água, particularmente no Sudeste brasileiro, o emprego de tecnologia simples e barata de gotejamento pode contribuir para o país conservar melhor “esse bem maior da vida”.
Ele lembrou que não se pode igualar, em matéria de consumo de água, o agronegócio com a agricultura familiar e orgânica, “responsável por apenas 10% do montante de água utilizado anualmente pela agropecuária no Brasil”.
Minc, que também já foi secretário do Ambiente do Rio, durante o governo de Sergio Cabral, elogiou o acordo de gestão compartilhada da Bacia do Rio Paraíba do Sul, firmado pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais com a Agência Nacional de Águas (ANA).
“Foi o acordo possível. Na verdade, os três estados têm culpa no cartório. Todos desmatam as margens dos rios, jogam neles esgotos sem tratamento, desperdiçam água, mas não se pode transformar a questão ambiental em guerra de torcidas, estado contra estado. Você tem de aproveitar um momento como esse e fazer projetos comuns de tratamento de esgoto, reflorestamento das margens, além de evitar jogar lixo químico nos rios”, acrescentou.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Sem fiação elétrica para atrapalhar as árvores...mas...

Prefeitura de SP planta árvores no asfalto e levanta polêmica
http://ciclovivo.com.br/noticia/prefeitura-de-sp-planta-arvores-no-asfalto-e-levanta-polemica
12 de Março de 2015 • Atualizado às 10h45


Nesta semana, a prefeitura de São Paulo iniciou testes para buscar novas alternativas que ampliem o plantio de árvores na capital. Um projeto piloto, batizado de “Árvore no Asfalto”, em Cidade Patriarca, bairro localizado na zona leste, já plantou 70 mudas no asfalto, entre as duas mãos de circulação de veículos e em ilhas, no cruzamento das vias.
“Nós estamos desenvolvendo novas metodologias de plantio, levando em consideração as características da cidade: as calçadas são estreitas, então a árvore ocupa um espaço precioso na calçada, necessário para o cadeirante ou para a pessoa com deficiência, e a fiação, com o que as árvores convivem mal”, afirmou Haddad. Segundo o prefeito, os testes são supervisionados por agrônomos e engenheiros da CET.
Novas alternativas serão testadas ainda neste primeiro semestre de 2015. O objetivo é ampliar a quantidade de verde na cidade, que conta com menos de um milhão árvores em vias públicas. As árvores no ambiente urbano oferecem mais qualidade de vida à população, pois reduzem as ilhas de calor, atenuam a poluição atmosférica e sonora e oferecem mais conforto para os pedestres.

Foto: Fabio Arantes/SECOM
De acordo com levantamentos realizados pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, a região leste é a que apresenta maior déficit de árvores por habitante.
“A árvore na cidade tem adversidades: tem o solo, a qualidade do ar, a fiação. Ao longo da história o planejamento urbano não contemplou o pedestre, então tem muitos lugares onde ou tem espaço para o pedestre ou para a árvore. Então o plantio no asfalto é uma alternativa para deixar a cidade mais verde. Na Europa e no Canadá há projetos de plantio muito semelhantes”, explicou o secretário Wanderley Meira do Nascimento (Verde e Meio Ambiente).

Foto: Fabio Arantes/SECOM
Nesta primeira etapa do projeto, sete espécies de árvores foram escolhidas, entre eles ipê, caroba, carobinha e cássia. As espécies plantadas são de médio e grande porte, com raiz pivotante, que não se espalha lateralmente. A medida visa justamente evitar a deformação do pavimento no futuro. No plantio, são também utilizados anéis de concreto que direcionam as raízes para camadas mais profundas do solo.
Outros cuidados foram de verificar se no local de plantio existem redes subterrâneas de concessionárias, como água, esgoto ou gás, ou fiação elétrica. Em seis meses, os ipês plantados começarão a ter flores.

Foto: Fabio Arantes/SECOM
Critérios técnicos
O projeto piloto estabelece que as árvores podem ser plantadas em vias pavimentadas que apresentam um volume diário médio de tráfego abaixo de 2.500 veículos, leito carroçável com 12 metros ou mais de largura, e que não sejam corredores de carga ou de ônibus.
O plantio sobre o asfalto possui baixo custo de implantação e uma única equipe consegue plantar cerca de 30 árvores por dia. Para delimitar a faixa de plantio, a CET implementou sinalização horizontal, com duas faixas contínuas e zebradas. Além disso, o plantio é interrompido com pelo menos sete metros de distância das esquinas transversais, de modo a garantir a visibilidade de motoristas e pedestres.

Foto: Fabio Arantes/SECOM
Iniciativa divide opiniões
Apesar da boa intenção, as árvores não estão sendo bem vistas por todos os olhos. O projeto acendeu um debate nas redes sociais aos favoráveis e contrários à decisão.
“É um protótipo para corrigir imperfeições, erros, estudos. No fundo, percebemos que todos são favoráveis e querem mudanças simples. Prototipar é isso mesmo tem que testar, ouvir, estudar, pesquisar e aprimorar”, afirma o especialista em mobilidade urbana Lincoln Paiva. Ele que assessora os projetos de ocupação urbana da prefeitura de São Paulo está entusiasmado com a quantidade de pessoas debatendo - seja  contra ou a favor do projeto.
Já para a jornalista e agricultora urbana Claudia Visoni, é importante dar mais espaço para planta se desenvolver. “Sou a favor e acho importantíssimo trazer mais verde e sombra para as ruas. É preciso, no entanto, aumentar a caixa para não sufocar as árvores (tornar maior o buraco no cimento, o manual de arborização da prefeitura tem as medidas necessárias). Acho que seria legal colocar árvores também próximas à calçada, no local de estacionamento de carros. Perde-se uma vaga (ou menos), mas ganha-se sombra”, defende.
Outra questão que tem rendido bastante discussão é a ausência de canteiro central, que para uns pode causar acidentes ou, pelo contrário, obrigar os condutores a dirigirem com mais atenção, reduzindo a velocidade nas avenidas. Ainda em fase de testes, a prefeitura afirma que os resultados serão avaliados junto com a população para definir a possibilidade de expansão do projeto.

Foto: Fabio Arantes/SECOM

domingo, 22 de março de 2015

Se economizar, não vai faltar...

Dinamarca reduziu consumo per capita de água nos últimos 20 anos

Até a década de 80, cada cidadão dinamarquês consumia, em média, 60 mil litros de água por ano, cerca de 164 litros por dia


http://www.otempo.com.br/capa/mundo/dinamarca-reduziu-consumo-per-capita-de-%C3%A1gua-nos-%C3%BAltimos-20-anos-1.1012345
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Agência Brasil
Desperdício de água
PUBLICADO EM 20/03/15 - 16h26
A falta de água já foi um problema para a Dinamarca, que hoje, com a Alemanha, encabeça a lista das nações consideradas referência na Europa no que diz respeito ao sistema de abastecimento. Depois de enfrentar um período de escassez do recurso, na década de 70, o país nórdico vivenciou uma ampla reforma no setor, que gerou melhorias na qualidade da água e na eficiência do sistema, a queda no percentual de perda por vazamentos e uma redução de 35% no consumo per capita de água por ano.

Até a década de 80, cada cidadão dinamarquês consumia, em média, 60 mil litros de água por ano, cerca de 164 litros por dia. Atualmente, o consumo médio é 39 mil litros de água por ano, 107 litros por pessoa/dia. No Brasil, o consumo médio atual chega a 166,3 litros per capita/dia.
Para o especialista em políticas ambientais da Universidade de Aarhus, Mikael Skou Andersen, o ponto central da reforma conduzida pelo governo foi o repasse do custo real da água para os consumidores, o que, na Europa, é chamado de “preço cheio da água”. Além de pagar pelo que consome, o cidadão, na Dinamarca, paga taxas ambientais e de serviços. “Com a elevação no preço, pudemos observar uma redução considerável no consumo”, enfatiza o pesquisador que acompanhou o processo de mudança no país.
A diretiva-quadro sobre água da União Europeia (principal instrumento do bloco em relação à gestão da água), lançada em 2000, estipula a introdução do chamado “preço cheio da água” em todos os países-membros, como forma de estimular o uso racional do recurso. Entretanto, muitos deles ainda não conseguiram cumprir o estabelecido. Na Irlanda, por exemplo, onde a água era fornecida gratuitamente aos cidadãos até outubro do ano passado, a escassez de água levou à implementação de um sistema de cobrança, o que tem gerado amplos protestos populares.
“A água é um recurso limitado e a implementação gradual do preço cheio é um incentivo ao uso consciente e à melhoria das instalações. Países com sistema de preço adequado, como a Dinamarca, conseguiram reduzir o consumo para algo em torno de 100 litros por pessoa, por dia, sem perda de conforto para o consumidor”, garante Skou. Para um consumo de 50 mil litros por ano, um cidadão dinamarquês que vive sozinho paga hoje mais de dez vezes o que pagaria em 1980: em torno de 3,5 mil coroas por ano (R$ 1,5 mil por ano, ou R$ 125 por mês).
O pesquisador acredita que o modelo aplicado na Dinamarca poderia ser seguido por países maiores, como o Brasil. “Para balancear, o governo poderia optar pela redução de outras taxas, ou mesmo oferecer um subsídio, o que chamamos de cheque verde, para famílias de baixa renda.”
Para ampliar a eficiência do sistema, a legislação prevê que as companhias de abastecimento mantenham o percentual de perda de água por vazamentos abaixo de 10%, do contrário, não são autorizadas a repassar a taxa ambiental aos consumidores, tendo, assim, que pagá-la ao Estado. A perda, que era de 15% na década de 80, hoje é de 6%, uma das menores do mundo. No Brasil, essa taxa varia de 30% a 40%, dependendo do município.
A reportagem da Agência Brasil visitou a Companhia de Água de Aarhus, segunda maior cidade da Dinamarca, com cerca de 330 mil habitantes. A diretora de produção do Departamento de Água Potável, Pia Jacobsen, conta que o percentual de perda de água por causa de vazamentos em Aarhus, hoje, chega a 6%, e que a meta é reduzir para 5% até 2030. “O aumento desse percentual para acima de 10% é inadmissível, pois representaria um custo muito alto para a companhia”, observa ela, em referência ao que prevê a legislação.
A companhia de Aarhus conta com 1,5 mil quilômetros de rede, a maior da Dinamarca. Todos os anos, em média, 15 quilômetros de redes velhas ou com defeito são trocadas ou renovadas. O chefe de operações do Departamento de Água, Michael Rosenberg Pedersen, diz que o segredo da eficiência é investimento em manutenção e monitoramento 24 horas. “Dividimos a cidade em zonas e fazemos um monitoramento especial, com equipamentos modernos. Quando um problema é detectado, enviamos uma equipe imediatamente ao local para checagem”, explica. Ele enfatizou que, para a empresa, “perder água é perder dinheiro”. “É o nosso produto que estamos jogando fora”, diz.
Desde a seca enfrentada na década de 70, a Dinamarca passou a retirar toda a água que consome dos lençóis freáticos, e não da superfície. Nas estações de tratamento, ela passa por processos de filtragem e aeração (adição de oxigênio) e, de lá, vai direto para as torneiras. No país nórdico, é proibido fazer o tratamento da água potável com cloro ou outros aditivos, como se faz no Brasil. O governo prefere trabalhar para combater a contaminação, por meio de um monitoramento rigoroso da qualidade e da pureza de sua água subterrânea.
O resultado é uma água de alta qualidade, que sai da torneira direto para o copo dos dinamarqueses. A estudante mineira Fernanda Bartels, que mora em Aarhus há seis meses, conta que levou um tempo para tomar, com naturalidade, água da torneira. “Eu desconfiava, achava que não era pura de verdade e que iria me fazer algum mal”, lembra.
A água de torneira é servida em restaurantes e hotéis dinamarqueses. O país tem ainda um concurso anual, o Danish Water Grand Prix, em que provadores de vinho, os sommeliers, provam a água de 30 companhias de abastecimento localizadas em diferentes regiões do país e indicam qual é a mais saborosa. Os organizadores do concurso garantem que o sabor da água varia bastante de região para região, de acordo com os minerais presentes em sua composição.
Para o especialista em políticas ambientais da Universidade de Aarhus, apesar do sucesso das reformas na Dinamarca, ainda há desafios a serem enfrentados. “Os mais significativos são o controle dos níveis dos lençóis freáticos, o combate à contaminação por pesticidas, à poluição, e o controle das consequências das mudanças climáticas”, aponta.
Ele destaca, entretanto, que a população dinamarquesa aprendeu a valorizar a água e avalia que esse é o caminho para os demais países. “A água é um recurso escasso e não dá mais para adotar medidas paliativas. As nações precisam encontrar um melhor balanço entre a oferta e a demanda”, acredita.

Dia Mundial da Água

BBC
22/03/2015 08h41 - Atualizado em 22/03/2015 08h54

Dia Mundial da Água: sociedade civil se mobiliza para torneira não secar

Em meio a mais grave crise hídrica já vivida por São Paulo, cidadãos agem de forma inédita para pressionar o poder público e conscientizar a população sobre falta d'água.


BBC
Edison Urbano criou uma minicisterna de baixo custo e agora ensina outros a construí-la (Foto: BBC Brasil)Edison Urbano criou uma minicisterna de baixo custo e agora ensina outros a construí-la (Foto: BBC Brasil)
Edison Urbano ainda estranha ser chamado de professor, mesmo quando está diante de uma turma em uma sala de aula em um centro cultural na zona norte de São Paulo.
Na quinta-feira (19), ele ensinava moradores da região a captar água da chuva para usar se a torneira secar - algo comum em muitas partes da capital paulista desde meados do ano passado, quando foi aplicada uma diminuição da pressão na rede de abastecimento.
Urbano aprendeu por conta própria a fazer uma minicisterna com tonéis, tubos de PVC e telas de mosquito para coletar, filtrar e armazenar a água da chuva.
Há cinco meses, dedica-se quase integralmente a ensinar como montar este sistema como um dos coordenadores do Movimento Cisterna Já, uma das várias organizações sociais criadas em São Paulo desde que a água começou a faltar, no ano passado.
Os reservatórios baixaram a níveis inéditos e, neste domingo (22), o estado passa pelo segundo Dia Mundial da Água - celebrado todo 22 de março - consecutivo em meio a uma crise hídrica sem precedentes.
"Quis agir para reverter ou amenizar a situação. Temo que, sem água, a gente acabe em uma guerra civil, porque vai faltar alimento também. É esse medo que me move", afirma Urbano.
"Já o que me move é o desespero", diz a psicóloga Camila Pavanelli, autora do Boletim da Falta D’Água, um blog em que ela reúne e comenta em postagens semanais as mais recentes informações sobre a crise hídrica.
Esse trabalho começou em outubro passado, quando Pavanelli decidiu listar em um post no Facebook o que havia lido sobre o assunto. Em meio a curtidas e compartilhamentos, também vieram pedidos para que disponibilizasse a pesquisa de uma forma que fosse mais fácil encontrá-la. Para quem já tinha um blog pessoal, fazer outro sobre a falta de água foi natural.
"Fazer o blog me faz sentir viva. Não cogito morar em São Paulo e não discutir este problema", diz Pavanelli.
Sinal de alerta
Estas iniciativas são recentes em São Paulo. A cidade já tinha ONGs voltadas para temas como moradia, combate à violência, mobilidade, educação e saúde, entre outros.
Mas tamanha mobilização social em torno da água é novidade, porque “só agora se faz necessária”, como explicou Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, em aula sobre a crise hídrica realizada no fim de fevereiro no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), palco de nove em cada dez manifestações na região central da cidade.
O primeiro alerta soou em dezembro de 2013, quando choveu 72% abaixo do normal. Aquele foi o verão mais quente desde 1943, quando começaram as medições. Nos dois meses seguintes, a média de chuvas foi 66% e 64% menor, respectivamente, fazendo com que São Paulo enfrentasse a estiagem mais intensa desde o início do registro de chuvas, em 1930.
Em fevereiro de 2014, o nível do Sistema Cantareira, que abastece 6,2 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, atingiu 14,6%, o mais baixo desde sua criação, em 1974.
A Sabesp, empresa de abastecimento de São Paulo, informou à BBC Brasil que vem realizando uma série de medidas para ampliar a disponibilidade de água e reduzir a dependência da região metropolitana do Cantareira. Em comunicado, a empresa ainda afirma "seguir rigorosamente as determinações de órgãos reguladores".
Uma destas medidas foi a autorização para usar duas cotas do volume morto do Cantareira, nome dado à água que ficava abaixo do nível de captação. Mas, na ausência de chuvas capazes de recompor o sistema, seu nível continuou a baixar a patamares inéditos.
Mobilização
No entanto, para Ortellado, existe uma percepção por parte de alguns de que as autoridades não agiram de modo adequado em relação à crise, o que teria catalisado a mobilização social em torno da água.
"Se as pessoas acreditam que não é possível contar com o governo, isso cria um sentimento de urgência que faz a sociedade civil agir por conta própria, usando suas habilidades em prol desta causa", afirma Ortellado.
Marussia Whately coordena a Aliança pela Água, organização que reúne mais de 40 ONGs (Foto: BBC Brasil)Marussia Whately coordena a Aliança pela Água, organização que reúne mais de 40 ONGs (Foto: BBC Brasil)
Para a urbanista Marussia Whately, isso significa coordenar o trabalho de mais de 40 ONGs reunidas pela Aliança pela Água, organização criada em outubro passado para cobrar ações do governo, elaborar projetos para atenuar o impacto da falta de água e informar a população de seus desdobramentos.
Especializada em gestão de recursos hídricos, ela já atuou como consultora de ONGs, como a Imazon e o Instituto Socioambiental, e à frente da Aliança Pela Água tornou-se uma das principais vozes da mobilização da sociedade civil em torno da crise.
"Tínhamos organizações muito dispersas. A Aliança cria o espaço para elas interagirem e criarem uma agenda mínima de ações e propostas, além de uma força-tarefa para monitorar o respeito aos direitos dos cidadãos e impedir um retrocesso das conquistas", diz Whately.
Para ela, o fato de São Paulo passar por uma situação sem precedentes torna a solução ainda mais complexa, na qual a participação de cidadãos é imprescindível.
"O debate não pode ficar restrito ao que a Sabesp planeja fazer. O problema vai muito além das represas”, diz Whately. "Temos que engajar a sociedade e fazer com que as pessoas revejam sua postura política e seus hábitos. Por ser uma crise grave, a solução não virá de um único ator."
Minicisterna
Urbano diz acreditar que está fazendo sua parte com os cursos sobre a minicisterna. Nesta semana, ele deu dois dias de aula para uma turma de 20 pessoas, entre jovens, adultos e idosos, que moram na Zona Norte de São Paulo, uma das regiões mais afetadas pela falta de água.
Primeiro, Urbano ensina a teoria, que inclui conceitos de sustentabilidade, saúde pública e hidrologia, enquanto vai construindo a minicisterna diante dos alunos. “Não fiquem esperando uma ação do governo. Tomem uma atitude, porque é nossa saúde que está em risco", diz para a turma.
Urbano criou este sistema por necessidade. Técnico em eletrônica, ele viu seu trabalho minguar com a "chegada dos aparelhos da China". Acabou demitido e, com dificuldade para conseguir um emprego, decidiu criar formas de economizar dinheiro.
Inventou um aquecedor de água com energia solar, um sistema de horta caseira e uma série de outros projetos que passou a divulgar por meio do site Sempre Sustentável, enquanto também dava cursos.
No ano passado, aceitou a sugestão de um amigo, o engenheiro Guilherme Castagna, de adaptar a minicisterna de acordo com as normas técnicas de reuso de água e ensinar como construí-la. Cinco meses depois, exibe com orgulho as fotos enviadas por ex-participantes do curso com suas próprias minicisternas.
"Fico muito grato. Sinto que estou fazendo alguma coisa. Se você reunir todas as minicisternas já feitas, vira uma cisterna gigante que eu não conseguiria construir sozinho", diz ele.
Já Camila Pavanelli diz que contribui para sanar a crise ao organizar a "loucura de informações" em torno da crise hídrica. No início, ela publicava seu boletim diariamente, mas, desde o início do ano, mudou a tática. Passou a reunir reportagens e documentos por meio de uma conta no Twitter e a dedicar o domingo e parte da segunda-feira a escrever um post semanal.
"Não existe um interesse em se informar e há uma dificuldade em perceber que faltam políticas públicas para a água,assim como ocorre com a violência, por exemplo. Quero que as pessoas se mobilizem mais", afirma Pavanelli.
"Seria arrogante pensar que vou conseguir fazer isso. Tem quem me critique. Mas também há muita gente que me agradece por usar meu tempo para fazer este trabalho."

A psicóloga Camila Pavanelli publica semanalmente um boletim com as informações mais recentes da crise (Foto: BBC Brasil)A psicóloga Camila Pavanelli publica semanalmente um boletim com as informações mais recentes da crise (Foto: BBC Brasil)

Desafios
Pablo Ortellado, da USP, diz que a mobilização social é importante para canalizar a insatisfação da sociedade civil e impedir que ela gere uma "selvageria, com quebra-quebra e saque de água", como ocorreu em Itu, no interior de São Paulo, no ano passado. No entanto, também afirma que as organizações criadas em torno da crise hídrica enfrentam algumas dificuldades.
"É difícil mobilizar a população quando a insatisfação está mal distribuída pela cidade, já que falta água em alguns bairros e em outros não. E, como nunca vivemos uma crise assim, falta um grupo de referência, com legitimidade para mobilizar, como ocorre com outras questões sociais", afirma o especialista.
"As pessoas só vão para rua quando confiam nas organizações que se manifestam por isso. É importante que estes grupos comecem a construir essa legitimidade para representar a insatisfação da população."
Em meio à crise e a mobilização provocada por ela, surgiram boas notícias. Chuvas acima da média histórica em fevereiro fizeram o nível dos principais sistemas que abastecem São Paulo voltar a subir. Atualmente, os reservatórios do Cantareira estão em 16%. Com isso, a Sabespafirmou que a região metropolitana está livre de racionamento até o segundo semestre.
No entanto, Urbano, do Cisterna Já, diz ter "plena consciência de que a situação vai piorar” - opinião compartilhada por Whately, da Aliança pela Água. "Vamos chegar à estação da seca numa situação igual ou pior do que no ano passado, porque as represas estarão com um nível mais baixo”, diz Whately.
O desafio para estas organizações agora é conseguir mobilizar a população, já que o interesse pelo tema diminui diante de um aparente risco menor de restrição no abastecimento. O Movimento Cisterna Já teve de cancelar um curso, porque o número de inscritos foi insuficiente. Por sua vez, o Boletim da Falta D’Água, que chegou a ter posts compartilhados 1,5 mil vezes, hoje não atinge 200.
"Ninguém mais quer saber de falta de água. Não consegui nem convencer meus vizinhos a instalar uma cisterna no prédio", diz Pavanelli, que ainda assim não pretende abandonar o blog.
"Sinto-me um fracasso completo, mas isso me motiva. Outro dia, encontrei um vídeo dizendo que o Cantareira está cheio e que a crise é uma farsa. Foi visto por mais de 1 milhão de pessoas. Enquanto isso existir, é sinal de que preciso continuar. Se eu não fizer, quem vai fazer?"
Urbano planeja aumentar o número de cursos gratuitos para driblar a falta de interesse e aumentar a divulgação do projeto.
Por sua vez, Whately se diz otimista: "Trabalho há vários anos com a questão da água e finalmente começo a ver pessoas sabendo que Cantareira não é apenas o nome de uma serra, revendo seus hábitos e mais ligadas em um assunto tão importante. Ainda temos mais dois anos de crise pela frente pelo menos. A mobilização só começou."