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Diretamente relacionado ao conforto ambiental, o sistema de iluminação tem grande impacto na eficiência energética da edificação, pelo consumo direto de energia elétrica, e pelo impacto no consumo de energia do sistema de condicionamento de ar
Redação AECweb / e-Construmarket
Normativa publicada no Diário Oficial da União, em junho último, pela Secretaria de Logística e Tecnologia tornou obrigatória, a partir de agosto deste ano, a etiqueta de eficiência energética em reformas e novas obras de edifícios públicos federais. O texto da IN02/2014 estabelece que todas as edificações novas ou em processo de reforma deverão ser desenvolvidas visando a obtenção da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence) classe ‘A’. A norma dispensa os edifícios com até 500m² de área construída ou cujo valor da obra seja inferior ao CUB - Custo Unitário Básico da Construção Civil - atualizado. No Brasil, 25 prédios públicos já têm a Ence, que avalia, entre outros fatores, o sistema de iluminação.
“Para projetos que buscam certificações ambientais, o sistema luminotécnico é de fundamental importância. A iluminação dos ambientes tem relação direta com dois quesitos de sustentabilidade: o conforto ambiental e a eficiência energética”, explica a arquiteta Helena Kraszczuk, sócia da KZK Arquitetura e Consultoria. Alcançar um alto nível de conforto luminoso inclui presença de iluminação natural, níveis adequados de iluminância para cada atividade, boa distribuição de luz, ausência de ofuscamento e também a estética dos ambientes. “O sistema de iluminação tem grande impacto na eficiência energética da edificação, tanto pelo consumo direto de energia elétrica para iluminação artificial quanto pelo impacto no consumo de energia do sistema de condicionamento de ar, com o acréscimo de carga térmica interna gerado pelas lâmpadas”, destaca.
É possível calcular a relação entre o fluxo luminoso emitido dividido pela potência consumida do sistema, utilizando a nomenclatura ‘Lúmen por Watt’ (lm/W). Quanto maior for este valor, mais eficiente é o sistemaRonald Leptich
Outro item a ser atendido é a busca por opções que otimizem a manutenção do sistema de iluminação. Deve-se dar preferência a produtos e soluções que reduzam a troca de lâmpadas e custos futuros com a manutenção do sistema. “Isso reduz a produção de resíduos durante a operação do edifício com a necessidade de compra de produtos novos e, consequentemente, o impacto ambiental causado pela produção e transporte desses materiais”, detalha Helena.
Exemplo da escolha correta do equipamento é mencionado pelo engenheiro Ronald Leptich, gerente de Produtos da Osram. “Para se ter bom resultado os produtos mais comuns atualmente são as lâmpadas fluorescentes com bulbo T5 (16 mm de diâmetro) e os de tecnologia LED, tanto as luminárias quanto as lâmpadas”, afirma, reforçando que devem ser evitadas opções com baixa eficiência energética. “É possível calcular a relação entre o fluxo luminoso emitido dividido pela potência consumida do sistema, utilizando a nomenclatura ‘Lúmen por Watt’ (lm/W). Quanto maior for este valor, mais eficiente é o sistema”, complementa.
EQUIPAMENTOS
Segundo a arquiteta, os sistemas de iluminação baseados na tecnologia LED estão em rápido desenvolvimento e apresentam as melhores soluções. “Os profissionais, no entanto, devem estar atentos às inovações de forma crítica. Projetos com lâmpadas LED podem alcançar alta eficiência energética, mas para manter os níveis de iluminância exigidos pelas normas técnicas, pode ser necessária grande quantidade de potência instalada”, detalha.
Sensores de presença em garagens, sanitários, copas e outras áreas de menor permanência auxiliam a redução do consumo de energia. Sensores de iluminância controlam a iluminação artificial, de forma a complementar a iluminação natural dos ambientes, e podem controlar persianas para evitar problemas de ofuscamento por excesso de luz naturalHelena Kraszczuk
Destacam-se nos projetos luminotécnicos de alta eficiência as tecnologias de automação disponíveis no mercado. Sensores, dimerizadores, sistemas de integração e de controle da iluminação resultam em maior conforto aos usuários e menor consumo de energia. “Há inclusive, linhas de produtos para atender a retrofits de edificações sem a necessidade de obras civis, em que os equipamentos de controle de iluminação funcionam remotamente e não precisam ser integrados ao sistema elétrico existente. Dessa forma, é possível fazer o retrofit de um edifício comercial, evitando suspender suas atividades”, diz Helena, destacando outros exemplos de sistemas de automação predial: “Sensores de presença em garagens, sanitários, copas e outras áreas de menor permanência auxiliam a redução de consumo de energia. Sensores de iluminância controlam a iluminação artificial, de forma a complementar a iluminação natural dos ambientes, e podem controlar persianas para evitar problemas de ofuscamento por excesso de luz natural”.
Há, ainda, a possibilidade de se empregar a Iluminação dedicada em tarefas que requerem maior iluminância – como uso de luminárias de mesa para estações de trabalho de escritório, permitindo que a iluminação geral do ambiente seja projetada com menor intensidade luminosa e, portanto, com menor consumo de energia. “É importante também que os usuários possam ajustar a quantidade de luz que melhor o atendam, através de controles dimerizadores da iluminação ou interruptores individualizados por ambientes e por estações de trabalho”, avalia a profissional.
Projetos que visam alcançar certificação ambiental devem evitar lâmpadas que aquecem, já que essas têm menor eficiência energética. “Grande parte da energia elétrica consumida é transformada em calor, e não em luz, resultando em acréscimo de carga térmica interna, que deverá ser compensada pelo sistema de condicionamento de ar. Portanto, lâmpadas que aquecem geram aumento no consumo de energia da edificação direta e indiretamente”, ressalta a arquiteta.
PROJETOS
Projetos que buscam a certificação LEED devem atender aos itens mandatórios da norma ASHRAE 90.1 Energy Standard for Buildings Except Low-Rise Residential Buildings, que limitam a potência instalada de iluminação para áreas externas e exigem a instalação de controladores do sistema, conforme a área dos ambientes. “Como a redução de consumo de energia é essencial para projetos com certificações de sustentabilidade, o projeto luminotécnico deve ser desenvolvido com a menor potência instalada possível, mantendo os níveis de iluminância exigidos por norma para as atividades de cada ambiente”, diz Helena.
Deve-se dar preferência a produtos e soluções que reduzam a troca de lâmpadas e custos futuros com a manutenção do sistema. Isso reduz a produção de resíduos durante a operação do edifício com a necessidade de compra de produtos novos e, consequentemente, o impacto ambiental causado pela produção e transporte desses materiaisHelena Kraszczuk
O engenheiro Ronald Leptich comenta que o profissional responsável por elaborar o projeto de iluminação precisa estar atento a algumas características como, por exemplo, se há incidência de luz natural dentro do empreendimento. “Caso exista, o projetista tem de levar em conta quais os lados e horários, e associá-los aos controles de automação, o que aumenta a eficiência energética. Outro ponto importante é sobre a ocupação do local. É preciso analisar em quais horários as pessoas estão ausentes, pois através de sensores de presença ligados às luminárias é possível garantir economia de energia”, destaca.
A iluminação externa deve ser restrita ao mínimo necessário. Não são recomendadas luzes voltadas para o céu e iluminação que transpassa os limites do terreno, por exemplo. Já algumas características da luz, como a intensidade, interferem na obtenção ou não da certificação. “Existe norma que especifica a intensidade e quantidade de luz necessárias a cada aplicação e estes índices precisam ser seguidos. Já a temperatura de cor da lâmpada não tem influência na obtenção da certificação”, diz Leptich.
USO DA LUZ NATURALPara a arquiteta, os projetos de iluminação lidam com a busca pelo maior aproveitamento da luz natural. “Além da qualidade mudar ao longo do dia e do ano, a luz natural que alcança o ambiente interno é modificada pelo entorno e pela envoltória da edificação, e pode variar de uma iluminância insuficiente à excessiva, causando ofuscamento de um momento para outro”, afirma.
“São vários e muito importantes os benefícios proporcionados pela iluminação natural dos ambientes internos. Há aqueles relacionados à melhoria da saúde dos usuários que, de acordo com inúmeras pesquisas, comprovam o grande impacto da luz natural na melhoria de produtividade, redução de dispensas por razões médicas, melhores taxas de aprendizado em escolas, entre outros, e os relacionados à maior eficiência energética das edificações”, completa Helena.Entretanto, há ainda na prática de projeto a tendência de ignorar as condições externas ao edifício, e projetar o sistema de iluminação artificial como se não houvesse nenhuma luz que entra nos ambientes. “Projetos luminotécnicos de alta eficiência e, principalmente, o aproveitamento da luz, exigem mudanças na prática de projeto, que incluem maior integração entre o projeto de arquitetura e o projeto luminotécnico. É bem-vindo o uso de ferramentas de simulação computacional para avaliar e otimizar o sistema de iluminação ainda durante a fase de projetos. Há tecnologias de lâmpadas, luminárias e automação predial disponíveis em abundância no mercado para a execução de soluções de projetos de alta eficiência”, finaliza a arquiteta.
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
- Helena Kraszczuk – Arquiteta especialista em conforto ambiental e eficiência energética. Profissional acreditada pelo USGBC: LEED-AP BD+C. Sócia da KZK Arquitetura e Consultoria, empresa de serviços de Arquitetura e Gerenciamento de Certificação LEED.
- Ronald Leptich – Formado em engenharia elétrica e com MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). É gerente de Produtos da Osram, empresa em que atua há mais de 15 anos. Atualmente é responsável pelas linhas de luminárias da multinacional.