Parque em Ubatuba oferece trilhas subaquáticas de graça
Parceria entre USP e ONG dá ao visitante aula de conservação na Ilha Anchieta
27 de janeiro de 2013 | 2h 05
Bruno Deiro, de O Estado de S.Paulo
UBATUBA - Nos passeios tradicionais de mergulho, a
principal atração é a variedade de peixes. Porém, um projeto para
visitantes do Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ubatuba (SP), oferece
trilhas subaquáticas gratuitas onde o foco são lições sobre o
ecossistema que permite essa biodiversidade e a importância da
conservação no ambiente marinho.
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Filipe Araujo/ Estadão
Ilha possui espécies que não existem perto da costa
No percurso de 150 metros por baixo d'água com cilindro de oxigênio, o
visitante é acompanhado por um mergulhador profissional que sinaliza
pontos de interesse como o fundo arenoso, os diverso tons de algas e os
micro-organismos que compõem o ambiente. As explicações são dadas antes e
depois do passeio.
A ação é parte do curso Educação Ambiental em Unidades de Conservação
Marinha, criado pelo Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo (USP) em parceria com a ONG Ecosteiros - a 12.ª edição do projeto
entra hoje em sua última semana. As trilhas, indicadas para leigos tanto
em mergulho como em conservação marítima, ocorrem próximas ao costão
rochoso da Ilha Anchieta, um antigo presídio transformado em parque
estadual na década de 1970.
"Aqui falamos sobre como as mudanças climáticas poderiam afetar as
cerca de 50 espécies de algas da região, por exemplo. É algo que as
operadoras de turismo nem cogitam explorar", diz o biólogo Kauê Senger,
de 25 anos, que há sete verões participa como voluntário.
Em 2007, quando cursava Biologia na USP, Senger participou como
voluntário do curso, precedido por um módulo teórico. Desde então, atua
como monitor e hoje é um dos dive masters (guias de mergulho). "Aqui a
pessoa recebe orientações, mas jamais poderia mergulhar sozinha. É um
mergulho de até 3 metros, bem simples", explica.
Os peixes também fazem parte da paisagem. O costão rochoso da ilha
fica a poucos quilômetros do continente, mas, por conta da conservação,
há espécies de até 40 centímetros que não existem mais por lá.
A trilha subaquática é a principal atração do projeto, que ainda
oferece um passeio de natação em grupo de quatro pessoas, conduzidas por
uma pequena balsa de apoio, com paradas nos pontos de treinamento e de
interpretação ambiental. Para quem não quiser se aventurar na água, há a
opção de uma trilha "virtual": uma sequência de painéis que reproduzem
as atividades realizadas no mar.
Pesquisa. Em paralelo ao curso, que ocorre sempre em
janeiro, o Instituto de Biociências estuda os organismos fixados no
fundo rochoso. "Mantemos uma estação de monitoramento de longo prazo,
que deverá ter continuidade pelas novas gerações, visando à detecção
prematura de eventuais alterações causadas pelas mudanças climáticas
globais", explica o professor Flavio Berchez, que coordena o projeto.
Ele afirma que usou como referência trilhas semelhantes surgidas na
Europa a partir da década de 1970. "Mas a estrutura desse projeto é
única e possui maior complexidade e grau de estruturação, com seus
diferentes modelos."