Artigo
04/12/2012 - 11h28
04/12/2012 - 11h28
por André Trigueiro*
Produção de livros certificados vem crescendo de 20% a 30% ao ano. Papel sintético leva na composição 75% de embalagens descartadas.
Já não se fazem mais livros como antigamente. Aliás, já não se faz mais papel como antigamente. Está cheio de novidades um mercado competitivo e cada vez mais criativo na busca por soluções sustentáveis.
O primeiro livro certificado ambientalmente do Brasil é de um autor português, e não é de um português qualquer. Único prêmio Nobel de literatura em língua portuguesa, José Saramago fez história há sete anos quando lançou no Brasil o livro “Intermitências da Morte”. Exigiu que toda a cadeia de produção, da floresta de eucalipto à gráfica, fosse ambientalmente correta e tivesse selo verde.
“Foi um lançamento mundial em papel amigo da natureza. Ele disse que outros países estavam fazendo e que ele queria muito que a gente fizesse também. Então eu fiquei assim, ‘o que é um papel amigo da natureza?’”, afirma Elisa Braga, diretora de produção da Companhia das Letras. Depois do susto, a editora resolveu adotar a certificação como norma. “Hoje são 600 títulos certificados e por volta de 200 mil exemplares certificados”, diz Elisa.
A primeira gráfica certificada da América do Sul fica em Santo André, na Grande São Paulo. Já saíram de lá 5 milhões de livros feitos de matéria-prima certificada, o que equivale a 3,2 milhões de árvores que foram retiradas de florestas onde há plano de manejo. Para cada árvore retirada, uma outra é plantada.
Segundo a empresa, a produção de livros certificados vem crescendo de 20% a 30% ao ano. Em 2010, um decreto presidencial determinou que compras públicas de livros didáticos com tiragem acima de 200 mil unidades deveriam ser impressas em papel certificado.
“Nós entendemos que foi uma exigência do mercado. Nossos clientes começaram a exigir que um produto seja certificado. Esse consumidor final, se pegar um livro atrás dele, tiver um selo certificado, sabe de onde vem, quem produziu, quais são os papéis, a empresa que fornece matéria-prima, o papel, e essa empresa consegue saber de que árvore, pode chegar até de que arvore, que plantação esse papel foi extraído”, afirma Marcelo Gonçalves, gerente de produção.
E se o livro não for de papel de verdade? O que parece um livro convencional é feito de plástico. “É um papel feito a partir de prolipropileno, com aspecto semelhante ao papel couchet e com a grande vantagem de ter mais durabilidade, ser muito resistente, não rasgar, poder ser molhado sem nenhum problema”, diz Aldo Mortara, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Vitapel.
Em uma fábrica em Sorocaba, interior de São Paulo, os plásticos recolhidos nas cooperativas são triturados antes de se transformar em livros.
O papel sintético leva na composição 75% de embalagens plásticas descartadas como lixo. Para cada tonelada produzida desse papel, são 750 quilos de plásticos a menos nos aterros. Na comparação com o papel convencional, o papel sintético consome 20% a menos de tinta e pesa menos.
Transformar lixo em cultura é outro trunfo dessa tecnologia. Já não se fazem mais livros como antigamente. Melhor assim.
* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livroMundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.
(Mundo Sustentável)