Orgânicos não são mais nutritivos
- 4 de setembro de 2012 |
- 22h04 |
Categoria: Saúde
Quando os pacientes da médica Dena Bravata perguntavam quais eram os benefícios dos alimentos orgânicos, ela não sabia responder com precisão. Foi daí que surgiu a ideia de fazer uma revisão sistemática de todos os estudos relevantes publicados sobre o assunto. A conclusão, divulgada nesta semana no periódico científico Annals of Internal Medicine, foi a de que orgânicos e não orgânicos têm valores nutricionais semelhantes.
Dena é pesquisadora do Centro para Políticas de Saúde da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e analisou 237 estudos. Segundo ela, ainda faltam evidências científicas consistentes de que os orgânicos são mais saudáveis e nutritivos que os alimentos convencionais. A pesquisa destacou, porém, que os orgânicos apresentam risco 30% menor de contaminação por agrotóxicos. A quantidade de fósforo nesses alimentos também se apresentou mais alta que nos convencionais.
O estudo concluiu que as duas formas de cultivo levam a um risco semelhante de contaminação por bactérias patogênicas. A diferença é que nas carnes de frango e de porco orgânicas havia menor risco da presença de bactérias resistentes a antibióticos.
Dos estudos analisados, 17 comparavam a saúde de consumidores de orgânicos e de não orgânicos e 223 comparavam nutrientes e contaminantes presentes nos dois tipos de alimento (três deles combinavam dados clínicos e análises dos produtos). Uma limitação do artigo, apontada pelos próprios pesquisadores, é a falta de estudos a longo prazo que comparem o consumo de orgânicos e de não orgânicos e os efeitos do consumo de agrotóxicos ao longo dos anos.
Segundo o médico Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), o estudo reflete o que era notado pelos especialistas na prática clínica. “Ao monitorar os pacientes por meio de exames, nunca conseguimos detectar essa variabilidade em relação às vitaminas e minerais dosados na corrente sanguínea de pacientes que consomem orgânicos e não orgânicos”, diz.
Mas Ribas observa que aqueles que consomem orgânicos geralmente são os que têm um cuidado maior em relação à alimentação. “Quem tem a preocupação de escolher esse tipo de alimento costuma refletir sobre o que ingere.” Para o médico, o trabalho é válido porque mostra a importância de consumir vegetais independentemente da forma de cultivo. “Os orgânicos têm um preço mais alto. Às vezes, pessoas que não tinham condições de comprá-los ficavam frustradas.”
A nutricionista Norka Barrueto Gonzales, professora do Instituto de Biociências da Unesp e coordenadora do Laboratório de Nutrição e Dietética da instituição, observa que a pesquisa aponta também para a maior concentração de compostos fenólicos na cultura orgânica. Segundo ela, vários estudos investigam sua ação preventiva contra tumores e outras doenças.
Mariana Lenharo