Recorde de calor na terra é cancelado
Cientistas concluíram que temperatura de 58°C auferida na Líbia, em 1922, estava incorreta
14 de setembro de 2012 | 10h 11
JAMIL CHADE - O Estado de S.Paulo
Por quase um século, cientistas consideraram que o local mais quente da Terra
era a cidade de El Azizia, a 50 quilômetros do Mar Mediterrâneo, na Líbia. Em
1922, os termômetros teriam marcado 58°C num dia de verão, no que era a base
militar italiana no norte da África. Mas, ontem, data em que seriam comemorados
os 90 anos da marca em Azizia, o recorde foi invalidado. Agora, o índice
pertence a Greenland Ranch, no Vale da Morte, na Califórnia, que registrou
56,7°C em 1913.
A investigação que levou ao cancelamento do recorde começou em março de 2010,
com a designação de uma equipe pela Organização Mundial de Meteorologia. Mas o
diretor do Centro Meteorológico Líbio e líder na investigação, Khalid El Fadii,
desapareceu por oito meses, após escapar de Trípoli em meio à revolução que
derrubaria meses depois seu chefe supremo, Muamar Kadafi. Após a queda do
regime, o cientista completou seu levantamento ao lado de especialistas
britânicos e americanos, que ontem foi revelado em Genebra.
As dúvidas começaram quando os registros de 1922 mostravam que estações de
observação próximas ao local do recorde não repetiam os números incríveis que
eram registrados em Azizia.
O grupo chegou a duas conclusões. A primeira, de que a temperatura estava
sendo medida perto do asfalto, o que aumentaria o calor. O segundo problema é
que a pessoa responsável provavelmente não tinha experiência, interpretou mal o
que os equipamentos mostravam e registrou números errados. Para completar, os
instrumentos usados eram obsoletos para a época.
Arqueologia. A iniciativa de investigar o dado faz parte de uma tendência
entre uma parcela de cientistas que, graças a tecnologias mais modernas, está
escavando e encontrando materiais usados por cientistas no passado.
"Nos últimos dez anos, temos visto muito desse fenômeno da arqueologia de
dados, ou seja, a descoberta de antigos manuscritos e uma tentativa de
avaliá-los. Não para desmenti-los, mas para garantir que o mundo tenha hoje as
melhores informações possíveis", disse o cientista David Parker. "A importância
de ter dados corretos não é apenas para fazer justiça à ciência, mas também por
causa da mudança climática. Precisamos de dados exatos sobre eventos extremos
justamente para poder nos preparar para eles."