08/08/2012 - 19h23
Em carta, Funai relata pressões para liberação de etapa da obra de Belo Monte
AGUIRRE TALENTO
DE BELÉM
FELIPE LUCHETE
DE SÃO PAULO
DE BELÉM
FELIPE LUCHETE
DE SÃO PAULO
A Funai (Fundação Nacional do Índio) enviou uma carta a índios da região de Altamira (PA) dizendo estar "sendo pressionada" a liberar uma nova etapa da obra da hidrelétrica de Belo Monte.
O documento é assinado pela presidente da Funai, Marta Azevedo, que está no cargo há pouco mais de três meses.
A carta omite de onde vêm as supostas pressões. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a presidente entende que a Norte Energia --empresa responsável por Belo Monte-- "tem pressa para a execução da obra".
Funcionários da Funai afirmaram à Folha, sob anonimato, que a pressão também é feita pelo Ministério do Planejamento --que toca as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A hidrelétrica é uma das obras prioritárias do PAC e já está com o cronograma atrasado, conforme relatório da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de junho.
Um dos problemas enfrentados foi a invasão de índios no canteiro de obras, no mesmo mês. Eles reclamavam que ações compensatórias não vêm sendo cumpridas.
A Norte Energia precisa obter aval da Funai para implantar mecanismo de transposição de embarcações em trecho do rio Xingu, que terá a vazão reduzida. Sem o sinal verde, não pode desviar o rio até a casa de força principal.
Segundo a assessoria da Funai, a Norte Energia precisa implantar o sistema até outubro, para aproveitar o período de baixa vazão do rio. Depois disso, seria preciso esperar a estação chuvosa.
A "janela hidrológica" foi o argumento do Ministério de Minas e Energia para que o Ibama liberasse o início das obras em junho de 2011.
Na carta enviada na semana passada, Azevedo tentou marcar uma reunião com representantes indígenas em Brasília para discutir o mecanismo, mas eles recusaram.
Disseram que as reuniões devem ser feitas nas aldeias, ouvindo todos os moradores.
A Norte Energia não quis se manifestar. O Ministério do Planejamento disse que não comentaria por não ter sido citado na carta.
Em julho, índios araras e jurunas fizeram reféns três funcionários ligados à usina que foram apresentar o plano de transposição do Xingu.