domingo, 17 de junho de 2012

Quem tem medo dos transgênicos?


15/06/2012 14:28:29

http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/quem-tem-medo-dos-transgenicos/


Josi Paz*



No debate sobre meio ambiente, como se sabe, nem tudo é verde. Em algumas polêmicas, o tom está mais para o “ou-preto-ou-branco”. E essa postura, segundo o professor Guy M. Poppy, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade de Southampton, Inglaterra, também se repete quando o assunto são os transgênicos.
Poppy vem sendo associado com a promoção de uma visão mais positiva sobre o assunto. De acordo com uma pesquisa recentemente publicada pela revista Nature, os transgênicos podem ser bons para o meio ambiente. Mas o professor ressalva: “O meu interesse é sobre como intensificar a agricultura de forma sustentável. Os transgênicos são apenas um pequeno componente nisso. Temos um grande programa na Colômbia e estamos conversando com a FAPESP e a EMBRAPA para realizar um trabalho similar no Brasil.”
De malas prontas para o Brasil, ele será um dos palestrantes no “Fórum Desenvolvimento Sustentável: novas dimensões para a sociedade e negócios”. O evento será na segunda-feira (18), no Espaço Tom Jobim, Jardim Botânico. A promoção é do Instituto Tecnológico Vale, com o apoio do MIND – Instituto Munasinghe para o Desenvolvimento. A participação é gratuita, mas as inscrições foram encerradas no dia 12 de junho.
Abaixo, ele responde a algumas perguntas de Josi paz, doutoranda em Sociologia com o tema “Consumo e meio ambiente”.
Josi Paz – Professor, a sua pesquisa está dizendo “mundo, não tenha medo dos transgênicos”? Os transgênicos são ferramentas sustentáveis de fato?
Guy M. Poppy – Minha pesquisa cobre muitos aspectos da segurança alimentar. Eu acredito que para alcançar a segurança alimentar é preciso intensificar a agricultura de forma sustentável. Mas isso precisa ser feito gerenciando os serviços do ecossistema. Por muito tempo a agricultura tirou o alimento do ecossistema e gerou muitos desserviços (água poluída, gases de efeito estufa, erosão do solo e declínio da biodiversidade). Para avançar sustentavelmente, é necessário assegurar que os agrossistemas sejam mais próximos de outros ecossistemas onde os serviços são melhor balanceados. Isso precisa ser feito na agricultura. Transgênicos podem ser uma ferramenta que ajuda a alcançar isso. Não é a única ferramenta, entretanto, e não é uma bala mágica. Não é nem bom, nem mau.
JP – Há muitos aspectos culturais no debate sobre os transgênicos. Às vezes, a polêmica soa como “Primavera Silenciosa” [livro de Rachel Carson, que denunciou os efeitos do DDT e se confunde com a história do movimento ambientalista moderno]. Como isso afeta o seu trabalho?
GP - É muito complexo e traz sim muitas questões culturais. Claro, é preciso considerá-las e não ignorar a cultura e a visão das pessoas. Similarmente, é importante que grupos com visões extremas ou uma minoria possam aceitar que uma abordagem, que pode endereçar um problema global e é democraticamente apoiada, deva seguir adiante. Transgênicos não são nem bons, nem maus, como eu disse antes, e é uma pena quando as pessoas destróem evidências científicas, que são requeridas para fazer a tomada de decisão objetiva sobre comercializar ou não produtos transgênicos.
JP – Como o movimento ambientalista reage à sua visão mais positiva sobre os efeitos dos transgênicos?
GP – É frustrante quando as pessoas têm agendas e gostam de debates do tipo “ou-preto-ou-branco”. A pesquisa recentemente publicada na Revista Nature mostrou como uma intervenção genética se converteu em um efeito benéfico para a biodiversidade [a planta passa a produzir uma toxina letal para as pragas, mas inofensiva para as pessoas] e com efeitos úteis para os arredores [mesmo lavouras não transgênicas]. Essa demonstração é científica e clara. Entretanto, isso não significa que todos os transgênicos sejam bons e que a briga acabou. Apenas demonstra que, gerenciado dessa forma e na China [cultivo do algodão transgênico], isso pode acontecer e talvez demonstre um caminho ambientalmente sustentável para proteger as lavouras e ampliar a biodiversidade. Muitos ambientalistas poderiam apoiar tal desenvolvimento. A palavra “movimento”, nesses termos, sugere que nós estamos falando de grupos com interesses políticos, que são opostos ao desejo de entender e proteger o meio ambiente cientificamente.
JP – No Brasil, trabalhadores do sul do país foram à Justiça contra a Monsanto. Eles argumentam que somente as primeiras sementes deveriam ser consideradas propriedade intelectual. Como as suas conclusões mais positivas afetam cenários como esse?
GP - Todas essas são questões circudam propriedade intelectual sobre sementes e preocupações que as pessoas têm sobre a necessidade de sempre comprar sementes de uma companhia e não produzi-las por eles mesmos. Isso também envolve a questão da migração dos genes. Alguns estão felizes com isso, lhes dá proteção, outros acreditam que é roubo, enquanto outros dizem que é contaminação e prova que os transgênicos não podem existir. É uma questão delicada e não se limita aos transgênicos. Todas as plantas do tipo semeadas podem resultar nisso. Com os transgênicos não é diferente. Os tipos de gene ou as questões éticas é que são diferentes. Meu trabalho não se volta para esse debate.
JP – O senhor está de malas prontas para a Rio+20. É a sua primeira vez no Brasil? O que espera encontrar por lá?
GP - Eu já estive em São Paulo há alguns meses e devo falar em uma conferência no Pantanal no ano que vem. Eu me apaixonei pelo Brasil e seu povo. Estou realmente satisfeito com esse retorno. Meu novo projeto [Attaining Sustainable Service from Ecosystems] envolve a Colômbia e estou muito empolgado com a possibilidade de estendê-lo ao Brasil. Isso não tem relação com a pesquisa sobre transgênicos e ilustra a diversidade do meu trabalho. É sobre gerenciar a floresta/interfaces com a agricultura para permitir que pessoas mais pobres tenham acesso à nutrição alimentar, ao mesmo tempo em que conserva/protege os serviços do ecossistema dos quais nós dependemos. De minha parte, sempre quis trabalhar em um projeto assim e imagino que os movimentos poderiam atuar conosco e com o que nós estamos fazendo. É uma sorte que eu não tenha uma visão do tipo “ou-preto-ou-branco” nesses assuntos.
* Josi Paz é doutoranda em Sociologia pela Unb, pesquisa o tema “consumo e meio ambiente”
(Josi Paz/Mercado Ético)