http://www.odiario.com/opiniao/noticia/512403/usp-x-maconha/
19/11/2011 às 02:00 - Atualizado em 19/11/2011 às 02:00
 
 
19/11/2011 às 02:00 - Atualizado em 19/11/2011 às 02:00
Os encapuzados da USP, invasores da reitoria cuja bandeira de luta é o  direito de uso de maconha e contra a presença da PM no campus, nos  remete à uma pesquisa com 4.395 alunos realizada em 1998: a maconha  havia se transformado num hábito tão comum como fumar cigarro no campus.  De cada 100 alunos, 20 fumavam maconha com frequência; 27 costumam  fumar cigarro.
"De cada 100 alunos de Medicina no sexto ano da faculdade, 82 bebem com  frequência - o que não significa um caminho inexorável ao alcoolismo;  20% disseram usar com frequência algum tipo de tranquilizante quando  estão no último ano do curso".
Próximo do final do curso aumenta o  número de usuários e a propensão ao vício de drogas e álcool entre  alunos. Os motivos para esse aumento são diversos: pressão dos estudos,  estresse, solidão, depressão, convivência grupal pró-relax.
Alarmado com o envolvimento dos alunos da USP com as drogas e álcool, o  reitor da época, Jacques Marcovitch, convocou um seminário  multidisciplinar, para uma discussão sobre a descriminação da maconha e  medidas de prevenção e tratamento. O narcotráfico já dominava a  USP/capital, e os demais campi do interior de São Paulo, em 1998.
Fiz meu doutorado na USP, entre 2001 e 2005: notícias corriam que a  cidade universitária era insegura, havia assaltos e estupros, o cheiro  de maconha era forte, os narcocapitalistas se vestiam como estudantes  politizados.
O crack ainda não tinha invadido o campus. O movimento  estudantil estava esvaziado de alunos e de bandeiras de lutas. Depois  dos ataques aos EUA, em 2001, o anto dito marxista "a religião é o ópio  do povo" virou algo como religião pode ser arma contra o capital.
Alguns  admiravam os narcoguerrilheiros das Farcs. O movimento estudantil  uspiano – entre outros - teriam se rendido ao vício e à barbárie?Ninguém  duvida que boa parte do movimento estudantil é braço dos micropartidos  de vocação antidemocrática (a maioria odeia a democracia "burguesa").
Também há os independentes, pró-democracia. Há os que defendem o direito  de fumar maconha, crack, cheirar coca, liberar bebidas em torno das  universidades – como já aconteceu em Maringá.
Ora, uma das funções dos  cursos universitários é também praticar "extensão": prevenção e  tratamento aos "drogaditos", alcoolistas, doentes psíquicos e somáticos.  Há professores que se omitem; pior são os que fazem discurso com um  olho só (O Diário, 15/11/2011- Opinião e Caixa Postal, 17/11).
No episódio da USP/2011, um professor pediu na imprensa fazer vistas  grossas aos grupos, princialmente na FFLCH e nas moradias do Crusp,  fumando maconha ou crack? O falso argumento que só a comunidade pode  vigiar, só reforça o riso dos narcotraficantes.
As comunidades dos  morros do Rio vigiava com medo do poder dos narcocapitalistas que  criaram um governo paralelo. É isso que eles querem que ocorra com a  USP? Alguns fazem discursos cínicos do tipo: "maconha inspira ideias  filosóficas"; "fumar maconha é um delito menor", "a juventude é a fase  do experimento","o cigarro mata mais do que a maconha" (frases de  professores respeitáveis). O mais surpreendente discurso veio do  ex-presidente FHC, com cara de bem intencionado.
À exemplo do Rio, há pedidos de uma Unidade de Polícia Pacificadora  (UPP) para a USP. Mas parece que a PM paulistana não tem força moral  estratégica para enfrentar o conluio entre alunos e narcocapitalistas.
Até porque a história desta PM remete ao tempo da ditadura: reprimia as  liberdades políticas no campus. E exista a resistência fundado em  paranoia.
Blá
As universidades públicas hoje passam pelo dilema: autorizar o  policiamento no campus, ou deixar o narcotráfico mandar? Universidades  públicas bem investem no ensino e pesquisa, mas ignoram a sabedoria e  são reféns dos interesses político-ideológico.
A cultura uspiana é  arrogante, se pensa numa ilha, alunos, professores e funcionários exigem  privilégios de burgueses, mas se pensam proletários.
Imagine só: o pai  ou mãe contente de ter o filho estudando numa boa universidade fica  sabendo que ele foi adotado pelos os narcocapitalistas, ou é laranja de  um micropartido fundamentalista. O movimento estudantil uspiano – entre  outros - precisa se sintonizar com o movimento estudantil mundial, no  mínimo.
Raymuno Lima
Professor da Universidade Estadual de Maringá
 
