Poluição em casas e escritórios de SP é até 392% pior que a aceitável pela OMS
Medição do ''Estado'' em dez pontos da capital detectou alta presença de partículas inaláveis em consultórios, empresas e apartamentos
01 de agosto de 2011 | 0h 00
fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110801/not_imp752546,0.php
autoria: Márcio Pinho - O Estado de S.Paulo
Engana-se o paulistano que pensa que, ao entrar em casa, no escritório ou em  um consultório se livra da poluição: paredes e janelas não conseguem deixar o ar  saudável. Com um aparelho do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade  de São Paulo (USP), o "Estado" visitou ambientes internos de dez pontos da  capital e constatou a presença de partículas inaláveis em índices até 392%  superiores ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Marcio Fernandes/AE
Jardins. Medidor flagrou poluentes em sala  no 18º andar
Poeira fina formada em até 80% pela queima de combustíveis, esse material  particulado é um dos principais poluentes da cidade, onde a frota de veículos já  supera os 7 milhões. As partículas ficam em suspensão no ar - especialmente em  dias secos e frios - e circulam normalmente em ambientes internos, o que  colabora para a sensação de que um piso que acabou de ser limpo, por exemplo,  fique imediatamente sujo. Além disso, penetram pelo nariz e chegam ao pulmão e  ao sangue, aumentando o risco de doenças. 
O pior resultado encontrado foi na Avenida República do Líbano, em Moema, na  zona sul - bem ao lado do Parque do Ibirapuera, mas perto de vias com grande  circulação de veículos. Em um consultório médico, o medidor apontou 123  microgramas de partículas por metro cúbico, quase quatro vezes mais do que as 25  consideradas ideais pela OMS para medição de 24 horas - ou 392% acima do ideal.  No local, apenas uma janela entreaberta facilitava a entrada de poluentes do  exterior, onde a medição mostrou ar pior - 162 microgramas (veja abaixo).
Em outros ambientes fechados, contudo, o mau desempenho se repetiu. Foi o  caso de um prédio de escritórios na Rua Flórida, no Brooklin, zona sul, perto da  Marginal do Pinheiros e da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Nem mesmo o  filtro de ar-condicionado que havia sido limpo recentemente, segundo  funcionários, conseguiu conter a poluição. Na medição feita às 18 horas, no 9º  andar, o ar tinha 77 microgramas de partículas - 208% acima do ideal. Do lado de  fora, eram 166.
O problema se repetiu em apartamentos residenciais. Em um deles, nos Jardins,  também na zona sul, a vista do 18.º andar permite à oftalmologista Ruth Vita  observar uma nuvem escura sobre a cidade em manhãs de inverno. A medição  descobriu por que sua residência também é bastante poluída - um imenso carpete  adorna a sala. "Mando passar aspirador duas, três vezes por semana. É  impressionante como suja rápido", afirma a médica, que vê o número de pacientes  com olhos vermelhos crescer nesta época do ano. 
Apenas a medição interna feita às 13h45 na Radial Leste, zona leste, teve  resultados adequados ao padrão da OMS. Nesse horário, a poluição tende a ser  menor em razão do trânsito mais leve e da maior umidade em relação ao resto da  tarde. 
Duas medições internas, porém, tiveram resultados piores do que o das vias.  Caso de um escritório da própria Faculdade de Medicina da USP, mais poluído do  que o ar na Avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste.
Para o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição  Atmosférica da USP, os índices achados pelo Estado são absurdos para uma cidade  como São Paulo. "Avenidas de Nova York e Boston não são tão poluídas quanto  ambientes internos aqui", afirma.
Ele explica que são vários os riscos para a saúde. "Tudo o que o cigarro faz,  essa poluição vai fazendo lentamente." Dependendo da predisposição pessoal, pode  favorecer aparecimento de asma, pneumonia e infarto do miocárdio - já que  partículas atuam na corrente sanguínea.
PARA ENTENDER
 O material particulado - ou poeira fina - entra no sistema  respiratório sem que a pessoa perceba. Cientificamente, é conhecido como MP 2,5  (grandeza microscópica de partículas desse diâmetro ou menor). MP 10 é a medida  usada pela Companhia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), que hoje  considera normal 150 microgramas dessas partículas por m³ - o triplo do  recomendado pela OMS. Mas isso deve ser revisto. A Cetesb, dará início a projeto  que, nos três primeiros anos, terá como meta baixar seu parâmetro aceitável de  material particulado a 120 microgramas.
PRESTE ATENÇÃO...
 Dicas para respirar melhor
2. Umidificador de ar.Partículas de poluição se prendem à  água e tendem a cair. Limpe o umidificador e o que estiver perto dele, para  evitar proliferação de bactérias que se desenvolvem em espaço úmido.
3. Vegetação. Árvores e mesmo plantas colocadas na varanda  ou na janela oferecem obstáculo físico à entrada dos poluentes.
4. Limpeza constante. Limpe móveis e chão, de preferência  com pano úmido, para que a sujeira não se deposite e volte a ficar em suspensão  quando houver vento ou atrito de algo com o chão.                   
 
