Desmate amazônico para plantio de soja cresceu 85% em 2011
Grão pode voltar a ser fonte de pressão sobre floresta, graças a preço mais que dobrado no mercado mundial
Moratória criada por indústria do óleo corre risco por dificuldade de monitoramento; China é o grande exportador
Moratória criada por indústria do óleo corre risco por dificuldade de monitoramento; China é o grande exportador
Quinta-feira, 23 de junho de 2011
autoria: CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
O desmatamento para plantação de soja na Amazônia cresceu 85% em 2011 em relação ao ano passado. Os dados são de um relatório de monitoramento que a indústria faz anualmente na região, ao qual a Folha teve acesso.Eles indicam que o grão está voltando a ser uma fonte de pressão sobre a floresta, uma situação que tende a se agravar nos próximos anos com o preço aquecido no mercado internacional, a demanda chinesa e obras de infraestrutura planejadas para facilitar o escoamento da safra.Segundo o relatório da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a área desmatada para a produção de soja em 375 mil hectares, monitorados em 53 municípios por satélite e avião, foi de 11.653 hectares na safra 2010/2011.Em 2009/2010, ela era de 6.295 hectares, numa área monitorada 24% menor.
FIGURAS GEOMÉTRICAS
O número de "polígonos", ou áreas desmatadas maiores que 25 hectares ocupadas com soja, subiu de 76 no ano passado para 147 este ano, um aumento de 93%.Alarmadas com a situação, ONGs pedirão no mês que vem, quando o relatório será divulgado oficialmente, o endurecimento dos critérios ambientais para a soja.
O número de "polígonos", ou áreas desmatadas maiores que 25 hectares ocupadas com soja, subiu de 76 no ano passado para 147 este ano, um aumento de 93%.Alarmadas com a situação, ONGs pedirão no mês que vem, quando o relatório será divulgado oficialmente, o endurecimento dos critérios ambientais para a soja.
MORATÓRIA
A soja tem dado trégua à Amazônia desde 2006, quando organizações ambientalistas e as principais "traders" (comercializadoras) de soja do país, representadas pela Abiove, firmaram uma moratória. Pelo acordo, as empresas se comprometeram a não comprar soja proveniente de novos desmatamentos.A moratória tem vigorado com sucesso, aliada aos preços baixos do grão no mercado internacional.Nos últimos dois anos, porém, o preço da soja voltou às alturas: mais que dobrou. "Nunca esteve tão alto nos últimos 70 anos", disse à Folha o senador Blairo Maggi (PR-MT), um dos maiores sojicultores do mundo. Animados, alguns produtores voltaram a desmatar.Para Bernardo Pires, coordenador ambiental da Abiove, as expectativas do setor produtivo em relação ao Código Florestal também influenciaram o desmate."Está ficando mais difícil e mais caro monitorar o cumprimento da moratória", disse Rafael Cruz, do Greenpeace. "O crescimento das áreas desmatadas é exponencial."A ONG realiza todo ano sobrevoos de áreas identificadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) como potenciais desmatamentos para grão, para validar os dados obtidos pelos satélites. Segundo Cruz, neste ano o trabalho consumiu tantas horas de voo que a coisa está ficando impraticável.Um desses sobrevoos, realizado na semana passada em Mato Grosso , flagrou áreas desmatadas ou em alto grau de degradação -matas queimadas para plantio futuro- contíguas a fazendas que estão na "lista suja" da Abiove. Isso aumenta a quantidade de soja "suja" no mercado, misturada à soja considerada "legal", disse Cruz.
NEGÓCIO DA CHINA
Pires afirma que os produtores que querem escapar da moratória encontram cada vez mais refúgio no mercado chinês. "A China não está preocupada com desmatamento. Chinês quer preço."Tanto ele quanto Cruz afirmam que o futuro da moratória só estará garantido pela adoção de mecanismos mais rígidos de controle ambiental na região afetada.O Greenpeace e outras ONGs defendem a adoção do CAR (Cadastro Ambiental Rural) como critério mínimo para a moratória. Pelo CAR, as fazendas declaram aos órgãos ambientais estaduais os limites de suas áreas de mata nativa por imagem de satélite -e ficam mais sujeitas a fiscalização. As "traders" têm evitado fazer essa exigência, com medo de reação dos produtores.