quinta-feira, 30 de junho de 2011

Criar Zonas de Baixa Emissão induzem o consumidor a priorizar modelos menos poluentes na hora da compra


Dói só quando respira


30/06/2011 - 07h01


autoria: José Luiz Portella Pereira


A gente respira mal no inverno por causa do carro. Nosso carro é nossa asma. Respirar é viver. A poluição do ar ganha destaque porque o número de carros nos grandes centros urbanos cresce irracionalmente. Com mais de sete milhões, a frota de São Paulo aumenta cerca de 1000 veículos por dia. Sem cessar.
No inverno, a umidade do ar diminui e ocorre a inversão térmica. Uma camada de ar frio impede a dispersão dos poluentes na atmosfera. Sem vento e sem chuva, a concentração de poluentes, como o monóxido de carbono, atinge níveis prejudiciais à saúde. É quando aumenta consideravelmente a incidência de doenças respiratórias.
Material particulado, conhecido como fuligem, são partículas sólidas emitidas por fontes poluidoras. As partículas mais finas são as piores. Em São Paulo, a maior parte vem das emissões dos veículos.
Muito ruim. Mas o ozônio é ainda pior. O ozônio é um dos poluentes que mais contribui para os baixos índices de qualidade do ar. Mas não é a camada de ozônio que protege contra a radiação solar? Como o colesterol, há o ozônio bom e o ruim. O ozônio bom é aquele que se encontra numa faixa da atmosfera entre 25 e 35 km de altitude. Na estratosfera, está a camada de ozônio bom. Lá ela assume a função de 'filtro solar', bloqueando raios ultravioletas do Sol que podem causar doenças graves de pele.
Contudo, há o ozônio encontrado na faixa de ar próxima do solo, chamada de troposfera. É aí que o ozônio é problema. Ao estar presente no ar que respiramos, o gás causa sérios problemas de saúde, além de contribuir para o aquecimento global. Seu controle é um grande desafio, pois aqui na troposfera, o ozônio é um poluente secundário. Ele é formado por reações químicas que ocorrem a partir da emissão de outros dois tipos de gases (óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis), na presença de radiação solar.
Esses gases são emitidos por veículos. Outra vez, o vilão é o carro. Portanto, para atacar o problema, é necessário substituir o carro e reduzir o tempo de viagem.
A elevação das concentrações de ozônio ocorre especialmente em dias ensolarados.

Tem solução? Sim. Já estão em vigor leis que controlam o nível de emissão de poluentes, como a inspeção veicular. A partir de 2012, haverá um controle dos motores a diesel e a cobrança por uma melhor qualidade dos combustíveis.
O diesel comercializado hoje é o S-500 (500 partes por milhão de enxofre). O diesel mais limpo, o S-50, ou seja, volume de enxofre dez vezes menor, já é exigência. A questão é que as políticas de redução de emissão precisam ser coordenadas. Não adianta exigir diesel mais limpo, se os postos não querem comercializá-lo. Enquanto não houver acordo, o consumidor terá dúvidas em adaptar o seu carro.
A principal política é a urgência em reduzir a quantidade de carros. O incentivo para a compra de carros e motos prioriza o transporte individual. O investimento em transporte público deve ser drástico. O Brasil precisa saber o que quer.
Medidas individuais são importantes, mas o poder público aumentar brutalmente o transporte coletivo é a revolução. Em São Paulo, podemos implantar Zonas de Baixa Emissão, como já existe em Londres e em muitas cidades alemãs. Por essas zonas somente circulariam veículos identificados por um selo que atesta padrões de baixa emissão. Com emissão média, pagam uma taxa para circulação. Veículos com alta emissão são proibidos nessa área da cidade. Além de evitarem a poluição, as Zonas de Baixa Emissão induzem o consumidor a priorizar modelos menos poluentes na hora da compra.
A chave do sucesso é a mudança de atitude. Nosso comportamento atual dói sempre que respiramos.