quarta-feira, 4 de abril de 2012

Professor emérito da USP comenta riscos da energia nuclear


02/04/2012 - 17h28


LEITOR RUY FAUSTO (*)
DE SÃO PAULO (SP)

http://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/1070688-professor-emerito-da-usp-comenta-riscos-da-energia-nuclear.shtml


Faço questão de manifestar o meu apoio aos textos de Ildo Sauer e Joaquim de Carvalho [publicados no Painel do Leitor nos dias 20/3 e 22/3 ], professores do Instituto de Eletrônica e Energia da USP, que contêm uma crítica ao artigo "Japão mostrou que energia nuclear é segura", do assistente da Presidência da Eletronuclear Leonam dos Santos Guimarães.
Devo manifestar não minha surpresa, mas meu horror diante do texto de Leonam dos Santos Guimarães. No ano passado, este senhor, típico representante do lobby nuclear, fez uma exposição na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, em que conseguiu reunir, em duas intervenções totalizando mais ou menos uma hora, uma soma formidável de aproximações, inverdades e sofismas sobre o nuclear.
Refutei, em detalhes, o discurso de Leonam e as intervenções dos seus partidários, num texto publicado no número 4 da revista eletrônica "Fevereiro" (www.revistafevereiro.com). A revista contém, de resto, um balanço sobre o nuclear, que eu convidaria o leitor a consultar.
Seria melhor que Leonam nos informasse, por exemplo, sobre o grave incidente ocorrido em Angra 2, em 2009. É urgente que a mídia e a opinião pública brasileiras quebrem a omerta dos nucleocratas, que se alimenta de um ideologia cientificista primária, omerta que poderá nos conduzir a catástrofes.
Em tempo: a porcentagem do nuclear na produção de energia da França (o mais alto do mundo, em termos relativos) é de 74% (apresentá-la junto com a da energia hidráulica é uma maneira típica de mistificar a opinião). A acrescentar que o candidato socialista que tem todas as chances de se eleger no segundo turno da eleição presidencial francesa de abril/maio comprometeu-se a baixar o peso do nuclear para 50% no prazo de alguns anos e a fechar imediatamente a central de Fessenheim.
Ao contrário do que afirmou Leonam na intervenção a que aludi, o acidente de Fukushima, no Japão, teve um impacto considerável sobre a opinião pública na Europa ocidental. De resto, independentemente disso, saíram ou nunca entraram no nuclear países como a Áustria, a Itália, a Dinamarca, a Alemanha, a Holanda (provavelmente), a Suíça, Portugal, a Grécia, a Bélgica, Luxemburgo, a Irlanda. Há problemas sérios com o nuclear na Espanha, na França e na Suécia. Na Europa ocidental, o clima só é ainda relativamente favorável ao nuclear, apesar de uma oposição considerável no Reino Unido.
Por que a Folha não nos informa a respeito disso?
Ruy Fausto é professor emérito da USP
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