sábado, 31 de janeiro de 2015

Síndico: Agora é a sua vez!

Tecnologias e soluções de projeto podem ajudar a reduzir o consumo de água em edifícios novos e existentes

Controle de pressão na rede, uso de dispositivos economizadores e programa de manutenção predial são as armas da engenharia contra o desperdício


Por Juliana Nakamura e Maryana Giribola
Edição 212 - Novembro/2014

Andrey_Kuzmin/Shutterstock
Controle de pressão na rede, uso de dispositivos economizadores e programas de manutenção predial são as armas da engenharia contra o desperdício
Foto: Marcelo Scandaroli
Teste de estanqueidade, feito após a execução das instalações hidráulicas, permite detectar eventuais vazamentos na rede
Foto: Marcelo Scandaroli
Manutenção das instalações hidráulicas prediais é facilitada se o projeto de arquitetura prevê shafts de acesso ou tubulações não embutidas nas paredes
Os baixos índices pluviométricos registrados desde meados de 2013 vêm provocando a redução do volume de reservatórios e da vazão dos rios que abastecem diversos municípios da região Sudeste. Há pouco mais de seis meses, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a captar água da reserva técnica do Sistema Cantareira, conjunto de reservatórios que abastecem parte da Grande São Paulo e algumas cidades do interior do Estado. No Triângulo Mineiro, Uberaba, Uberlândia e outras cidades do entorno enfrentam episódios de falta d'água devido à redução da vazão dos rios da região. O mesmo ocorre com o Rio São Francisco, no centro de Minas Gerais, e o Rio Paraíba do Sul, que atende o Rio de Janeiro.
Aos poucos, o racionamento de água se torna uma realidade para uma parcela cada vez maior da população. Em algumas regiões, a situação pode continuar crítica mesmo depois da temporada de chuvas, que termina em março de 2015, caso as precipitações não recomponham as fontes hídricas. Nesse contexto, soluções técnicas para estoque de água e redução do consumo passam a ser mais valorizadas pelo mercado imobiliário.
A cadeia da construção civil já trabalhou em documentos e programas que incentivam o uso racional da água em edificações, como o Manual de Conservação e Reúso de Água em Edificações. A publicação, de 2005, foi elaborada por meio de uma parceria entre a Agência Nacional de Águas (ANA), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). Mas, segundo o engenheiro Mario Augusto Baggio, sócio-gerente da Hoperações Consultoria, o setor ainda carece de iniciativas nesse sentido. "São esforços isolados que não têm continuidade", acredita.
O que já existe
Nas edificações existentes, as possibilidades de intervenção são mais restritas, já que há pouca flexibilidade técnica para a reestruturação dos sistemas hidráulicos. Nesse caso, como aponta Carlos Barbara, diretor da Barbara Engenharia e Construtora, a recomendação para os administradores de condomínios é seguir as prescrições da NBR 5.674:2012 - Manutenção de Edifícios - Requisitos para o Sistema de Gestão de Manutenção, dedicando especial atenção à identificação de vazamentos nas tubulações. Essas patologias, que podem ser visíveis ou não, geralmente acontecem nas caixas ou válvulas de descargas; nas válvulas de admissão de ar das descargas e reservatórios; ou nas tubulações do sistema hidráulico.
O excesso de pressão nas redes de distribuição também é um ponto crítico e pode contribuir para um consumo maior do que o necessário no desempenho da atividade, causando desperdício de água. A pressão hidráulica estática do sistema não pode ultrapassar o valor recomendado pela NBR 5.626: 1998 - Instalação Predial de Água Fria, que é de 400 kPa (40 m de coluna d'água - mca).
Divulgação: Companhia do vazamento
Método não destrutivo permite investigar vazamentos por meio da análise do som emitido pela rede
Desde a concepção
Nos empreendimentos novos, soluções simples ajudam a minimizar o consumo e evitar o desperdício de água. O dimensionamento correto dos sistemas, a concepção de sistemas de medição individualizada, o uso de componentes e sistemas em conformidade com as normas técnicas e alternativas que garantam uma fácil manutenção da rede, como a criação de shafts, são cuidados básicos que podem ser adotados ainda na fase de projeto.
"Nessa fase, é importante que o projetista de instalações esteja apto a interagir com os demais profissionais envolvidos para definir as necessidades para implantação desses tipos de sistema", diz Júlio Fonseca, diretor da GreenGold Engenharia Multidisciplinar. Como exemplo, ele cita as dimensões das áreas técnicas a serem determinadas no projeto de arquitetura para garantir espaço para a instalação dos equipamentos. "Comparando um projeto de instalação sem reaproveitamento de águas com um projeto com reaproveitamento, há algumas mudanças. São necessárias prumadas de esgoto, prumadas de água tratada e novos reservatórios de armazenamento de esgoto, tratamento e armazenamento da água tratada", acrescenta o gestor de obras do Grupo EPO, Marcus Vinícius Viana de Gouvêa.
Escolha certa
A concepção da rede e a especificação dos seus componentes também são decisivas para obter bons resultados de eficiência hídrica. Basta lembrar que um empreendimento pode utilizar uma gama enorme de duchas com vazões diferentes, desde equipamentos com vazão de 8 l/min aos que gastam 30 l/min. "Existem no mercado duchas e chuveiros que têm uma curva de consumo de vazão x pressão de rede que podem chegar a valores cinco vezes maiores do que o estabelecido por norma. A compra deste tipo de aparelho deve ser desestimulada", alerta Barbara.
Também é possível a especificação de louças, metais sanitários e outros equipamentos mais ou menos economizadores. "Soluções não faltam. O importante é que os produtos e dispositivos sejam especificados adequadamente, em função do uso a que se destinam. Eles também devem ser produzidos e instalados atendendo aos requisitos das normas técnicas vigentes", destaca o engenheiro Plínio Tomaz, especializado em projetos de hidráulica. Visando à maior sustentabilidade e eficiência, também deve ser dada preferência à escolha de equipamentos cujos componentes apresentem maior durabilidade e menor custo de manutenção.
Boas práticas
Veja dicas de projeto, execução e manutenção dos componentes de instalações hidráulicas prediais
Prumadas
As prumadas de um sistema de água fria sofrem vibrações durante seu funcionamento. Para evitar que essas solicitações mecânicas provoquem fadiga e, consequentemente, vazamentos nas tubulações, essas prumadas devem ser bem instaladas e soldadas, prevendo ainda um espaço para que possam vibrar sem interferências.
Bombas de recalque
Para evitar que as tubulações de recalque, que ligam a bomba ao reservatório superior, também se rompam por fadiga, é recomendado que entre a bomba e a tubulação seja inserido um mangote de borracha, capaz de absorver as vibrações do equipamento.
Veda-rosca
A fita veda-rosca, indicada para tubos roscáveis e conexões com rosca, deve ser aplicada na ponta dos canos limpos, para não prejudicar a aderência. Em bitolas de 1/2" ou 3/4", o recomendado é que sejam dadas de quatro a seis voltas de fita seguindo o sentido da rosca, para evitar que a fita solte quando a tubulação for rosqueada.
Válvulas de descarga
Nas edificações mais antigas, as válvulas de descarga são as maiores responsáveis pelos desperdícios de água. Para evitar consumo excessivo, é preciso realizar as trocas das peças ao notar qualquer tipo de vazamento. Deve-se regular a pressão de acionamento da descarga e testá-la antes de fechar a tampa.
Juntas soldáveis
Antes de executar as juntas em tubulações de PVC, as superfícies a serem soldadas precisam ser lixadas para garantir a aderência do adesivo no material. Deve-se aguardar cerca de uma hora antes de preencher a tubulação com água e 12 horas para realizar o teste de estanqueidade.
Termofusão
Antes de iniciar o serviço, é fundamental realizar a limpeza dos bocais da termofusora com um pano embebido em álcool e verificar o seu correto ajuste sobre a placa do equipamento. Os tubos devem ser recortados com tesoura específica para evitar rebarbas e, antes do processo de soldagem, a ponta do tubo e o interior do bocal devem estar limpos. É importante lembrar que cada produto possui uma ficha técnica com as recomendações acerca das medidas e do tempo mínimo determinado para a fusão.
Menos conexões
As conexões são pontos vulneráveis das instalações hidráulicas prediais e podem dar origem a vazamentos, se mal-executadas. Por isso, o projeto deve prever o menor número possível de conexões. Além disso, quanto menos conexões, mais fácil é o trabalho de instalação hidráulica de água fria.
Teste de estanqueidade
Realizam-se testes de estanqueidade dos sistemas in loco para qualquer tipo de instalação hidráulica. Os testes de pressão interna dos tubos devem ser realizados de acordo com a especificação de cada tipo de sistema. O ideal é que sejam feitos antes da execução dos revestimentos.
Tubulações aparentes
A manutenção preventiva e corretiva é um ponto crítico das redes de distribuição de água de um edifício. Apesar da cultura de embutir todas as instalações nas paredes, a criação de shafts tem sido uma boa alternativa de projeto para garantir o acesso às instalações e a fácil manutenção das redes de distribuição hidráulicas. Esses acessos devem ser previstos ainda na fase de projeto.
Vazamentos não visíveis
Para detectar vazamentos não visíveis em tubulações, há algumas tecnologias disponíveis no mercado, como a geofonia eletrônica, a haste de escuta e a correlação de ruídos. O geofone, por exemplo, é utilizado quando não há nenhuma possibilidade de contato com a tubulação. Com o dispositivo, que possui fones de ouvido, é possível identificar a frequência de passagem de água na tubulação e identificar o ponto de vazamento.

Medição individualizada
Divulgação: Tesis
A medição individual do consumo de água em apartamentos é uma das soluções de maior impacto em planos de racionalização do uso desse insumo, a ponto de ser defendida pelo Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, promovido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. Muitos Estados e municípios já têm regulamentada a exigência de instalação de hidrômetros em apartamentos em construção, como é o caso de cidades como Olinda (PE), São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Vitória. "Implantar esse tipo de sistema em empreendimentos novos é bastante simples e proporciona uma redução de 15% a 30% do consumo de água porque induz e motiva o usuário a economizar", comenta o engenheiro civil Plínio Tomaz. Ele explica que esse segmento evoluiu bastante nos últimos anos com o desenvolvimento de equipamentos mais precisos e que fazem a leitura dos dados à distância, por exemplo.
O ideal é que o projeto preveja locais adequados para a instalação dos hidrômetros, preferencialmente no hall dos andares. Cabe ao projetista escolher o modelo mais adequado de individualização.
Algumas opções são a alimentação direta à caixa inferior e a distribuição feita por reservatório superior único, a alimentação feita diretamente à caixa elevada com distribuição feita por único reservatório e a alimentação feita por único ramal ao edifício, com bateria de medidores no térreo. O desafio, segundo Plínio, é introduzir a medição individualizada em edifícios já construídos e não concebidos para isso. Isso porque o sistema predial de água é usualmente concebido de forma verticalizada, com colunas de distribuição abastecendo pontos de consumo em ambientes similares sobrepostos, estando as tubulações quase sempre embutidas nas paredes. Há basicamente duas formas de instalação nos apartamentos já construídos. Uma delas consiste em isolar as várias colunas de alimentação do apartamento modificando a rede de forma que a alimentação seja feita por um único ponto onde é instalado o medidor. Outra alternativa mais usual, conhecida como método alemão, é instalar em cada coluna um medidor, sendo o consumo do apartamento obtido pelo somatório dos medidores.

Pressão alta
O controle da pressão no sistema hidráulico é um dos pontos que podem ser trabalhados pelo projetista visando a racionalizar o consumo de água. Redes com pressão elevada podem contribuir para perdas no sistema hidráulico por conta de rupturas mais frequentes, do golpe de aríete ou mesmo do fornecimento de água em quantidade superior à necessária numa torneira. Estima-se que uma redução de pressão de 30 mca para 17 mca possa resultar em economia de aproximadamente 30% do consumo de água em um imóvel, conforme cálculos do engenheiro Orestes Marracini Gonçalves, professor titular do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP e sócio-diretor da Tesis Engenharia. O projeto também pode trabalhar o traçado das tubulações de modo a reduzir o número de juntas e conexões que são causa frequente de perdas hídricas.
Fonte: Equipe de Obra nº 35 - reportagem Instalações Hidráulicas: Válvulas Redutoras de Pressão (pág. 44)
Macrofluxo para concepção e execução dos sistemas hidráulicos de uma edificação
Fonte: Adaptado de professor Orestes Marracini Gonçalves

Pavimento permeável pode minimizar enchentes urbanas

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=pavimento-permeavel-minimizar-enchentes-urbanas&id=010125150130&ebol=sim


Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/01/2015
Pavimento permeável pode minimizar enchentes urbanas
Teste de vazão da camada de pavimento permeável, vista na parte superior da imagem. [Imagem: VTT/Class Project]
Uma das causas das enchentes nas grandes cidades é a impermeabilização do solo, com o concreto e o asfalto impedindo que a terra absorva parte da água e evite que ela se acumule nos locais mais baixos.
O problema não é exclusividade do Brasil, e engenheiros finlandeses desenvolveram uma solução para o problema: um asfalto permeável que absorve parte da água da chuva.
"As soluções de pavimento desenvolvidas no projeto podem ajudar na mitigação das inundações urbanas causadas por grandes volumes de água na rede de águas pluviais," disse Erika Holt, do Centro de Pesquisas Tecnológicas da Finlândia.
Pavimento permeável
O pavimento permeável consiste em uma camada superficial de rolamento, aplicada sobre camadas de materiais de alta porosidade, capazes de reter água. As camadas de subsuperfície podem receber sistemas de drenagem ou coleta de água, ou se interligarem com a rede pluvial.
A camada de rolamento é uma mistura de asfalto, brita fina e concreto de alta permeabilidade.
O material ainda não é um substituto completo para o asfalto, sendo adequado para áreas com baixo volume de tráfego, tais como parques de estacionamento, calçadas, pátios, quadras e praças.
Segundo Holt, o pavimento permeável foi desenvolvido para atender aos rigores do inverno nórdico, resistindo ao congelamento nas estações frias e à aplicação de sal para remoção do gelo, aplicado no inverno para evitar que os carros derrapem.
As propriedades geotécnicas das camadas inferiores também foram ajustadas para as condições climáticas da Finlândia, e a aplicação da técnica em outros climas precisaria refazer os experimentos para encontrar a solução mais adequada a cada região.
Como guia para quem desejar fazer seus próprios experimentos, a equipe indica que as variáveis envolvidas incluem seleção dos materiais aplicados em cada camada, projeto e dimensionamento das camadas, técnicas de construção e períodos de manutenção.
Solução sob medida
Já existem pavimentos permeáveis em utilização no Japão, Bélgica, Alemanha e nos EUA.
O projeto finlandês teve o mérito de destacar a necessidade de adaptação do conceito às condições climáticas específicas de cada área de utilização, de forma a reduzir custos e maximizar a absorção de água.