domingo, 4 de maio de 2014

Está na hora de exigirmos o IPTU verde e sustentabilidade para a cidade de São Paulo!

Ambiente
28/4/2014 - 01h08

Água da Amazônia e a crise de São Paulo




por Virgílio Viana*
agua23 Água da Amazônia e a crise de São Paulo
A crise de falta d´água em São Paulo e outras cidades do Brasil deve ser analisada com profundidade. Não estamos diante de um simples problema de chuvas abaixo da média histórica. Estamos diante de uma crise estrutural que requer uma reflexão profunda e mudanças de rumo na maneira com que lidamos com o recurso mais precioso de que dispomos – a água.
Convém lembrar de alguns fatos importantes: (i) 2/3 do nosso corpo é formado de água – 90% no caso dos bebês, (ii) não conseguimos sobreviver sem água, (iii) a água de baixa qualidade é responsável por boa parte dos problemas de saúde da população – especialmente a de baixa renda, (iv) os igarapés, rios e lagos estão sendo poluídos em escala alarmante e não sustentável na maior parte dos países e (v) a escassez d´ água é um problema que se agrava em quase todo o mundo.
A análise de um tema de tamanha importância e complexidade merece atenção de todos. O pequeno espaço disponível aqui, obriga-me a focar em apenas algumas facetas desse tema. Limitar-me-ei, portanto, a seguinte questão: o papel da Amazônia como mega bomba d´água nacional está sendo adequadamente considerado no Brasil?
A resposta simples é: não. A maior parte dos formuladores de políticas públicas ainda desconhece o óbvio. A Amazônia tem um papel importantíssimo para o regime de chuvas de quase todo o território nacional, especialmente no sul, sudeste e centro-oeste do país. As florestas amazônicas processam a chuva que recebem do Oceano Atlântico e retornam vapor d´água para a atmosfera. Essa umidade segue para o sul, na forma de “jatos da baixa altitude” ou, na linguagem mais coloquial, “rios voadores”. O vapor d´água transportado pelos rios voadores para essas regiões precipita na forma de chuva quando encontra frentes frias ou outras condições climáticas favoráveis.
Isso é um serviço ambiental prestado pela Amazônia ao resto do Brasil – e países vizinhos. O problema é que esse serviço é grátis e não é devidamente valorizado economicamente.
Vale fazer um exercício mental simples: o que aconteceria se a floresta amazônica fosse destruída em 30, 50 ou 100%? Uma tragédia. Existem estudos científicos mostrando que a redução das florestas pelo desmatamento alteraria o regime de chuvas de várias regiões do Brasil. Obviamente, isso traria graves prejuízos para o abastecimento d´ água de grandes cidades, para a produção agropecuária e a para a produção de energia hidroelétrica. Não seria mais inteligente valorizar economicamente os serviços ambientais providos pela floresta? Isso contribuiria tornar a floresta mais valiosa em pé do que derrubada e com isso reduzir o desmatamento – conceito que defendo há mais de uma década.
Creio que deveríamos aproveitar a atual crise de abastecimento d´ água de São Paulo não apenas para conscientizar o restante do Brasil sobre o papel da Amazônia nessa equação. Deveríamos ir além e propor medidas práticas para valorizar economicamente a floresta. A primeira e mais estratégica é fortalecer o argumento pela prorrogação da Zona Franca de Manaus (ZFM) por mais 50 anos. Essa prorrogação deveria ser acompanhada por uma estratégia de maior envolvimento ativo das empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) em programas e projetos voltados para a proteção e o uso sustentável da floresta. A segunda e mais ousada é criar um mecanismo direto de pagamento à Amazônia pelos serviços ambientais providos ao restante do Brasil. Uma fórmula simples seria destinar 1% de toda a tarifa de energia e água potável de todo o país para um fundo de pagamento pelos serviços ambientais da Amazônia. Essa proposta, formulada pelo Senador Eduardo Braga ao Código Florestal quase conseguiu aprovação no Congresso Nacional.
Necessitamos de uma grande união de parlamentares, governos estaduais e lideranças da sociedade civil da Amazônia na defesa da valorização dos serviços ambientais providos pela Amazônia ao Brasil e ao mundo. A crise d´ água em São Paulo e em outras cidades brasileiras cria uma circunstância favorável para isso.
Virgílio Viana é superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e coordenador da rede SDSN-Amazônia.
** Publicado originalmente no Jornal Diário do Amazonas, em 24 de abril de 2014 e retirado do site Mercado Ético.
(Mercado Ético)


LEI Nº 14.933, DE 5 DE JUNHO DE 2009
(Projeto de Lei nº 530/08, do Executivo, aprovado na forma de Substitutivo do Legislativo)
Institui a Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo.
GILBERTO KASSAB, Prefeito do Município de São Paulo, no uso das atribuições que lhe são conferidas por lei, faz saber que a Câmara Municipal, em sessão de 3 de junho de 2009, decretou e eu promulgo a seguinte lei:
TÍTULO I
PRINCÍPIOS, CONCEITOS E DIRETRIZES
Seção I
Princípios
Art. 1º. A Política Municipal de Mudança do Clima atenderá os seguintes princípios:
I - prevenção, que deve orientar as políticas públicas;
II - precaução, segundo o qual a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas de combate ao agravamento do efeito estufa;
III - poluidor-pagador, segundo o qual o poluidor deve arcar com o ônus do dano ambiental decorrente da poluição, evitando-se a transferência desse custo para a sociedade;
IV - usuário-pagador, segundo o qual o utilizador do recurso natural deve arcar com os custos de sua utilização, para que esse ônus não recaia sobre a sociedade, nem sobre o Poder Público;
V - protetor-receptor, segundo o qual são transferidos recursos ou benefícios para as pessoas, grupos ou comunidades cujo modo de vida ou ação auxilie na conservação do meio ambiente, garantindo que a natureza preste serviços ambientais à sociedade;
VI - responsabilidades comuns, porém diferenciadas, segundo o qual a contribuição de cada um para o esforço de mitigação deve ser dimensionada de acordo com sua respectiva responsabilidade pelos impactos da mudança do clima;
VII - abordagem holística, levando-se em consideração os interesses locais, regionais, nacional e global e, especialmente, os direitos das futuras gerações;
VIII - internalização no âmbito dos empreendimentos, dos seus custos sociais e ambientais;
IX - direito de acesso à informação, participação pública no processo de tomada de decisão e acesso à justiça nos temas relacionados à mudança do clima.
Seção II
Conceitos
Art. 2º. Para os fins previstos nesta lei, em conformidade com os acordos internacionais sobre o tema e os documentos científicos que os fundamentam, são adotados os seguintes conceitos:
I - adaptação: conjunto de iniciativas e estratégias que permitem a adaptação, nos sistemas naturais ou criados pelos homens, a um novo ambiente, em resposta à mudança do clima atual ou esperada;
II - adicionalidade: critério ou conjunto de critérios para que determinada atividade ou projeto de mitigação de emissões de GEE represente a redução de emissões de gases do efeito estufa ou o aumento de remoções de dióxido de carbono de forma adicional ao que ocorreria na ausência de determinada atividade;
III - análise do ciclo de vida: exame do ciclo de vida de produto, processo, sistema ou função, visando identificar seu impacto ambiental no decorrer de sua existência, incluindo desde a extração do recurso natural, seu processamento para transformação em produto, transporte, consumo/uso, reutilização, reciclagem, até a sua disposição final;
IV - Avaliação Ambiental Estratégica: conjunto de instrumentos para incorporar a dimensão ambiental, social e climática no processo de planejamento e implementação de políticas públicas;
V - biogás: mistura gasosa composta principalmente por metano (CH4) e gás carbônico (CO2), além de vapor de água e outras impurezas, que constitui efluente gasoso comum dos aterros sanitários, lixões, lagoas anaeróbias de tratamento de efluentes e reatores anaeróbios de esgotos domésticos, efluentes industriais ou resíduos rurais, com poder calorífico aproveitável, que pode ser usado energeticamente;
VI - ecoponto: área destinada a transbordo e triagem de resíduos da construção civil e resíduos volumosos;
VII - emissões: liberação de gases de efeito estufa e/ou seus precursores na atmosfera, e em área específica e período determinado;
VIII - evento climático extremo: evento raro em função de sua freqüência estatística em determinado local;
IX - fonte: processo ou atividade que libera gás de efeito estufa, aerossol ou precursor de gás de efeito estufa na atmosfera;
X - gases de efeito estufa: constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicos, que absorvem e reemitem radiação infravermelha e identificados pela sigla GEE;
XI - linha de base: cenário para atividade de redução de emissões de gases de efeito estufa, o qual representa, de forma razoável, as emissões antrópicas que ocorreriam na ausência dessa atividade;
XII - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: um dos mecanismos de flexibilização criado pelo protocolo de Quioto, com o objetivo de assistir as partes não incluídas no Anexo I da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ao cumprimento de suas obrigações constantes do Protocolo, mediante fornecimento de capital para financiamento a projetos que visem à mitigação das emissões de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento, na forma de sumidouros, investimentos em tecnologias mais limpas, eficiência energética e fontes alternativas de energia;
XIII - mitigação: ação humana para reduzir as fontes ou ampliar os sumidouros de gases de efeito estufa;
XIV - mudança do clima: mudança de clima que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altera a composição da atmosfera mundial, e se some àquela provocada pela variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis;
XV - reservatórios: componentes do sistema climático no qual fica armazenado gás de efeito estufa ou precursor de gás de efeito estufa;
XVI - serviços ambientais: serviços proporcionados pela natureza à sociedade, decorrentes da presença de vegetação, biodiversidade, permeabilidade do solo, estabilização do clima, água limpa, entre outros;
XVII - sumidouro: qualquer processo, atividade ou mecanismo, incluindo a biomassa e, em especial, florestas e oceanos, que tenha a propriedade de remover gás de efeito estufa, aerossóis ou precursores de gases de efeito estufa da atmosfera;
XVIII - vulnerabilidade: grau em que um sistema é suscetível ou incapaz de absorver os efeitos adversos da mudança do clima, incluindo a variação e os extremos climáticos; função da característica, magnitude e grau de variação climática ao qual um sistema é exposto, sua sensibilidade e capacidade de adaptação.
Seção III
Diretrizes
Art. 3º. A Política Municipal sobre Mudança do Clima deve ser implementada de acordo com as seguintes diretrizes:
I - formulação, adoção e implementação de planos, programas, políticas, metas e ações restritivas ou incentivadoras, envolvendo os órgãos públicos, incluindo parcerias com a sociedade civil;
II - promoção de cooperação com todas as esferas de governo, organizações multilaterais, organizações não-governamentais, empresas, institutos de pesquisa e demais atores relevantes para a implementação desta política;
III - promoção do uso de energias renováveis e substituição gradual dos combustíveis fósseis por outros com menor potencial de emissão de gases de efeito estufa, excetuada a energia nuclear;
IV - formulação e integração de normas de planejamento urbano e uso do solo, com a finalidade de estimular a mitigação de gases de efeito estufa e promover estratégias da adaptação aos seus impactos;
V - distribuição de usos e intensificação do aproveitamento do solo de forma equilibrada em relação à infra-estrutura e equipamentos, aos transportes e ao meio ambiente, de modo a evitar sua ociosidade ou sobrecarga e a otimizar os investimentos coletivos, aplicando-se o conceito de cidade compacta;
VI - priorização da circulação do transporte coletivo sobre transporte individual na ordenação do sistema viário;
VII - promoção da Avaliação Ambiental Estratégica dos planos, programas e projetos públicos e privados no Município, com a finalidade de incorporar a dimensão climática nos mesmos;
VIII - apoio à pesquisa, ao desenvolvimento, à divulgação e à promoção do uso de tecnologias de combate à mudança do clima e das medidas de adaptação e mitigação dos respectivos impactos, com ênfase na conservação de energia;
IX - proteção e ampliação dos sumidouros e reservatórios de gases de efeito estufa;
X - adoção de procedimentos de aquisição de bens e contratação de serviços pelo Poder Público Municipal com base em critérios de sustentabilidade;
XI - estímulo à participação pública e privada nas discussões nacionais e internacionais de relevância sobre o tema das mudanças climáticas;
XII - utilização de instrumentos econômicos, tais como isenções, subsídios e incentivos tributários e financiamentos, visando à mitigação de emissões de gases de efeito estufa;
XIII - formulação, adoção, implantação de planos, programas, políticas, metas visando à promoção do uso racional, da conservação e do combate ao desperdício da água e o desenvolvimento de alternativas de captação de água e de sua reutilização para usos que não requeiram padrões de potabilidade;
XIV - estímulo à minimização da quantidade de resíduos gerados, ao reúso e à reciclagem dos resíduos urbanos, à redução da nocividade e ao tratamento e depósito ambientalmente adequado dos resíduos remanescentes;
XV - promoção da arborização das vias públicas e dos passeios públicos, com ampliação da área permeável, bem como da preservação e da recuperação das áreas com interesse para drenagem, e da divulgação à população sobre a importância, ao meio ambiente, da permeabilidade do solo e do respeito à legislação vigente sobre o assunto.
TÍTULO II
OBJETIVO
Art. 4º. A Política Municipal de Mudança do Clima tem por objetivo assegurar a contribuição do Município de São Paulo no cumprimento dos propósitos da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, de alcançar a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera em um nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático, em prazo suficiente a permitir aos ecossistemas uma adaptação natural à mudança do clima e a assegurar que a produção de alimentos não seja ameaçada e a permitir que o desenvolvimento econômico prossiga de maneira sustentável.
TÍTULO III
META
Art. 5º. Para a consecução do objetivo da política ora instituída, fica estabelecida para o ano de 2012 uma meta de redução de 30% (trinta por cento) das emissões antrópicas agregadas oriundas do Município, expressas em dióxido de carbono equivalente, dos gases de efeito estufa listados no Protocolo de Quioto (anexo A), em relação ao patamar expresso no inventário realizado pela Prefeitura Municipal de São Paulo e concluído em 2005.
Parágrafo único. As metas dos períodos subseqüentes serão definidas por lei 2 (dois) anos antes do final de cada período de compromisso.
TÍTULO IV
ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO
Seção I
Transportes
Art. 6º. As políticas de mobilidade urbana deverão incorporar medidas para a mitigação dos gases de efeito estufa, bem como de outros poluentes e ruídos, com foco na racionalização e redistribuição da demanda pelo espaço viário, na melhoria da fluidez do tráfego e diminuição dos picos de congestionamento, no uso de combustíveis renováveis, promovendo, nessas áreas, as seguintes medidas:
I - de gestão e planejamento:
a) internalização da dimensão climática no planejamento da malha viária e da oferta dos diferentes modais de transportes;
b) instalação de sistemas inteligentes de tráfego para veículos e rodovias, objetivando reduzir congestionamentos e consumo de combustíveis;
c) promoção de medidas estruturais e operacionais para melhoria das condições de mobilidade nas áreas afetadas por pólos geradores de tráfego;
d) estímulo à implantação de entrepostos e terminais multimodais de carga preferencialmente nos limites dos principais entroncamentos rodoferroviários da cidade, instituindo-se redes de distribuição capilar de bens e produtos diversos;
e) monitoramento e regulamentação da movimentação e armazenamento de cargas, privilegiando o horário noturno, com restrições e controle do acesso ao centro expandido da cidade;
f) restrição gradativa e progressiva do acesso de veículos de transporte individual ao centro, excluída a adoção de sistema de tráfego tarifado, considerando a oferta de outros modais de viagens;
g) restrição à circulação de veículos automotores pelos períodos necessários a se evitar a ocorrência de episódios críticos de poluição do ar, visando também à redução da emissão de gases de efeito estufa;
II - dos modais:
a) ampliação da oferta de transporte público e estímulo ao uso de meios de transporte com menor potencial poluidor e emissor de gases de efeito estufa, com ênfase na rede ferroviária, metroviária, do trólebus, e outros meios de transporte utilizadores de combustíveis renováveis;
b) estímulo ao transporte não-motorizado, com ênfase na implementação de infra-estrutura e medidas operacionais para o uso da bicicleta, valorizando a articulação entre modais de transporte;
c) implantar medidas de atração do usuário de automóveis para a utilização de transporte coletivo;
d) implantar corredores segregados e faixas exclusivas de ônibus coletivos e trólebus e, na impossibilidade desta implantação por falta de espaço, medidas operacionais que priorizem a circulação dos ônibus, nos horários de pico, nos corredores do viário estrutural;
e) regulamentar a circulação, parada e estacionamento de ônibus fretados, bem como criar bolsões de estacionamento para este modal a fim de incentivar a utilização desse transporte coletivo em detrimento ao transporte individual;
III - do tráfego:
a) planejamento e implantação de faixas exclusivas para veículos, com taxa de ocupação igual ou superior a 2 (dois) passageiros, nas rodovias e vias principais ou expressas;
b) estabelecimento de programas e incentivos para caronas solidárias ou transporte compartilhado;
c) reordenamento e escalonamento de horários e períodos de atividades públicas e privadas;
IV - das emissões:
a) determinação de critérios de sustentabilidade ambiental e de estímulo à mitigação de gases de efeito estufa na aquisição de veículos e motocicletas da frota do Poder Público Municipal e na contratação de serviços de transporte, promovendo o uso de tecnologias que possibilitam o uso de combustíveis renováveis;
b) promoção de conservação e uso eficiente de energia nos sistemas de trânsito;
c) implementação de Programa de Inspeção e Manutenção Veicular para toda a frota de veículos automotores, inclusive motocicletas;
d) estabelecimento de limites e metas de redução progressiva e promoção de monitoramento de emissão de gases de efeito estufa para o sistema de transporte do Município;
e) interação com a União e entendimento com as autoridades competentes para o estabelecimento de padrões e limites para emissão de gases de efeito estufa proveniente de atividades de transporte aéreo no Município, de acordo com os padrões internacionais, bem como a implementação de medidas operacionais, compensadoras e mitigadoras.
Seção II
Energia
Art. 7º. Serão objeto de execução coordenada entre os órgãos do Poder Público Municipal as seguintes medidas:
I - criação de incentivos, por lei, para a geração de energia descentralizada no Município, a partir de fontes renováveis;
II - promoção de esforços em todas as esferas de governo para a eliminação dos subsídios nos combustíveis fósseis e a criação de incentivos à geração e ao uso de energia renovável;
III - promoção e adoção de programas de eficiência energética e energias renováveis em edificações, indústrias e transportes;
IV - promoção e adoção de programa de rotulagem de produtos e processos eficientes, sob o ponto de vista energético e de mudança do clima;
V - criação de incentivos fiscais e financeiros, por lei, para pesquisas relacionadas à eficiência energética e ao uso de energias renováveis em sistemas de conversão de energia;
VI - promoção do uso dos melhores padrões de eficiência energética e do uso de energias renováveis na iluminação pública.
Seção III
Gerenciamento de Resíduos
Art. 8º. Serão objeto de execução conjunta entre órgãos do Poder Público Municipal a promoção de medidas e o estímulo a:
I - minimização da geração de resíduos urbanos, esgotos domésticos e efluentes industriais;
II - reciclagem ou reúso de resíduos urbanos, inclusive do material de entulho proveniente da construção civil e da poda de árvores, de esgotos domésticos e de efluentes industriais;
III - tratamento e disposição final de resíduos, preservando as condições sanitárias e promovendo a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Art. 9º. Os empreendimentos de alta concentração ou circulação de pessoas, como grandes condomínios comerciais ou residenciais, shopping centers, centros varejistas, dentre outros conglomerados, deverão instalar equipamentos e manter programas de coleta seletiva de resíduos sólidos, para a obtenção do certificado de conclusão, licença de funcionamento ou alvará de funcionamento, cabendo aos órgãos públicos o acompanhamento do desempenho desses programas.
Parágrafo único. As Secretarias Municipais do Verde e do Meio Ambiente e de Serviços definirão os parâmetros técnicos a serem observados para os equipamentos e programas de coleta seletiva.
Art. 10. O Município de São Paulo deverá adotar medidas de controle e redução progressiva das emissões de gases de efeito estufa provenientes de suas estações de tratamento na gestão dos esgotos sanitários e dos resíduos sólidos.
Art. 11. O Poder Público Municipal e o setor privado devem desestimular o uso de sacolas plásticas ou não-biodegradáveis, bem como de embalagens excessivas ou desnecessárias, no âmbito do Município.
Seção IV
Saúde
Art. 12. O Poder Executivo deverá investigar e monitorar os fatores de risco à vida e à saúde decorrentes da mudança do clima e implementar as medidas necessárias de prevenção e tratamento, de modo a evitar ou minimizar seus impactos sobre a saúde pública.
Art. 13. Cabe ao Poder Executivo, sob a coordenação da Secretaria Municipal da Saúde, sem prejuízo de outras medidas:
I - realizar campanhas de esclarecimento sobre as causas, efeitos e formas de se evitar e tratar as doenças relacionadas à mudança do clima e à poluição veicular;
II - promover, incentivar e divulgar pesquisas relacionadas aos efeitos da mudança do clima e poluição do ar sobre a saúde e o meio ambiente;
III - adotar procedimentos direcionados de vigilância ambiental, epidemiológica e entomológica em locais e em situações selecionadas, com vistas à detecção rápida de sinais de efeitos biológicos de mudança do clima;
IV - aperfeiçoar programas de controle de doenças infecciosas de ampla dispersão, com altos níveis de endemicidade e sensíveis ao clima, especialmente a malária e a dengue;
V - treinar a defesa civil e criar sistemas de alerta rápido para o gerenciamento dos impactos sobre a saúde decorrentes da mudança do clima.
Seção V
Construção
Art. 14. As edificações novas a serem construídas no Município deverão obedecer critérios de eficiência energética, sustentabilidade ambiental, qualidade e eficiência de materiais, conforme definição em regulamentos específicos.
Art. 15. As construções existentes, quando submetidas a projetos de reforma e ampliação, deverão obedecer critérios de eficiência energética, arquitetura sustentável e sustentabilidade de materiais, conforme definições em regulamentos específicos.
Art. 16. O Poder Público Municipal deverá introduzir os conceitos de eficiência energética e ampliação de áreas verdes nas edificações de habitação popular por ele desenvolvidas.
Art. 17. O projeto básico de obras e serviços de engenharia contratados pelo Município que envolvam o uso de produtos e subprodutos de madeira somente poderá ser aprovado pela autoridade competente caso contemple, de forma expressa, a obrigatoriedade do emprego de produtos e subprodutos de madeira de origem exótica, ou de origem nativa que tenha procedência legal.
§ 1º. A exigência prevista no "caput" deste artigo deverá constar de forma obrigatória como requisito para a elaboração do projeto executivo.
§ 2º. Nos editais de licitação de obras e serviços de engenharia que utilizem produtos e subprodutos de madeira contratados pelo Município de São Paulo, deverá constar da especificação do objeto o emprego de produtos e subprodutos de madeira de origem exótica, ou de origem nativa que tenha procedência legal.
§ 3º. Para efeito da fiscalização a ser efetuada pelo Poder Público Municipal, quanto à utilização de madeira de origem exótica, ou de origem nativa que tenha procedência legal, o contratado deverá manter em seu poder os respectivos documentos comprobatórios.
§ 4º. Os órgãos municipais competentes deverão exigir, no momento da assinatura dos contratos de que trata este artigo, a apresentação, pelos contratantes, de declaração firmada sob as penas da lei, do compromisso de utilização de produtos e subprodutos de madeira de origem exótica, ou de origem nativa que tenha procedência legal.
Seção VI
Uso do Solo
Art. 18. A sustentabilidade da aglomeração urbana deverá ser estimulada pelo Poder Público Municipal e norteada pelo princípio da cidade compacta, fundamental para o cumprimento dos objetivos desta lei, bem como pautada pelas seguintes metas:
I - redução dos deslocamentos por meio da melhor distribuição da oferta de emprego e trabalho na cidade;
II - promoção da distribuição de usos e da intensidade de aproveitamento do solo de forma equilibrada em relação à infra-estrutura, aos transportes e ao meio ambiente, de modo a evitar sua ociosidade ou sobrecarga e otimizar os investimentos públicos, fazendo uso do estoque de área construída por uso estabelecido no Quadro 8 anexo à Parte III da Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004, com alterações subseqüentes;
III - estímulo à ocupação de área já urbanizada, dotada de serviços, infra-estrutura e equipamentos, de forma a otimizar o aproveitamento da capacidade instalada com redução de custos;
IV - estímulo à reestruturação e requalificação urbanística e ambiental para melhor aproveitamento de áreas dotadas de infra-estrutura em processo de esvaziamento populacional, com potencialidade para atrair novos investimentos.
Art. 19. O Poder Público deverá, com auxílio do setor privado e da sociedade, promover a requalificação de áreas habitacionais insalubres e de risco, visando oferecer condições de habitabilidade para a população moradora e evitar ou minimizar os riscos decorrentes de eventos climáticos extremos.
Art. 20. O Poder Público deverá, com auxílio do setor privado e da sociedade, promover a recuperação de áreas de preservação permanente, especialmente as de várzeas, visando evitar ou minimizar os riscos decorrentes de eventos climáticos extremos.
Art. 21. No licenciamento de empreendimentos, observada a legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, deverá ser reservada área permeável sobre terreno natural, visando à absorção de emissões de carbono, à constituição de zona de absorção de águas, à redução de zonas de calor, à qualidade de vida e à melhoria da paisagem.
Parágrafo único. A área de permeabilidade deverá, observada a legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, ter tamanho mínimo equivalente ao estabelecido para a zona de uso em que se localiza o lote, podendo o que exceder o mínimo da área permeável ser aplicado em reflorestamento de espaço de igual tamanho, em parques públicos, praças, áreas de preservação permanente ou áreas degradadas, dando-se preferência aos bairros com baixo índice de arborização, mediante acordo a ser firmado e fiscalizado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
Art. 22. O Poder Público Municipal implantará programa de recuperação de áreas degradadas em áreas de proteção aos mananciais, em áreas de preservação permanente e na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, com o fim de criação de sumidouros de carbono, garantia da produção de recursos hídricos e proteção da biodiversidade.
Art. 23. O Poder Público Municipal promoverá a arborização das vias públicas e a requalificação dos passeios públicos com vistas a ampliar sua área permeável, para a consecução dos objetivos desta lei.
TÍTULO V
INSTRUMENTOS
Seção I
Instrumentos de Informação e Gestão
Art. 24. O Poder Executivo publicará, a cada 5 (cinco) anos, um documento de comunicação contendo inventários de emissões antrópicas por fontes e de remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa em seu território, bem como informações sobre as medidas executadas para mitigar e permitir adaptação à mudança do clima, utilizando metodologias internacionalmente aceitas.
§ 1º. Os estudos necessários para a publicação do documento de comunicação deverão ser financiados com o apoio do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - FEMA.
§ 2º. O Poder Público Municipal, com o apoio dos órgãos especializados, deverá implementar banco de dados para o acompanhamento e controle das emissões de gases de efeito estufa.
Art. 25. O Poder Público Municipal estimulará o setor privado na elaboração de inventários de emissões antrópicas por fontes e de remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa, bem como a comunicação e publicação de relatórios sobre medidas executadas para mitigar e permitir a adaptação adequada à mudança do clima, com base em metodologias internacionais aceitas.
Art. 26. O Poder Executivo divulgará anualmente dados relativos ao impacto das mudanças climáticas sobre a saúde pública e as ações promovidas na área da saúde, no âmbito do Município.
Art. 27. O Poder Executivo disponibilizará banco de informações sobre projetos de mitigação de emissões de gases de efeito estufa passíveis de implementação no Município e de habilitação ao utilizar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a fim de serem beneficiados no Mercado de Carbono decorrente do Protocolo de Quioto e de outros mercados similares.
Seção II
Instrumentos de Comando e Controle
Art. 28. As licenças ambientais de empreendimentos com significativa emissão de gases de efeito estufa serão condicionadas à apresentação de um plano de mitigação de emissões e medidas de compensação, devendo, para tanto, os órgãos competentes estabelecer os respectivos padrões.
Parágrafo único. O Poder Executivo promoverá a necessária articulação com os órgãos de controle ambiental estadual e federal para aplicação desse critério nas licenças de sua competência.
Art. 29. O Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos, previsto na legislação nacional e estadual de trânsito, constitui instrumento da política ora instituída e deverá garantir a conformidade da frota veicular registrada no Município de São Paulo aos padrões de emissão de poluentes e gases de efeito estufa adequados aos objetivos desta lei.
Parágrafo único. Em conformidade com a legislação nacional de trânsito e a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, com alterações subseqüentes, o Poder Público Municipal estabelecerá formas de integração com os órgãos competentes das outras esferas da União para comunicação e penalização pelo descumprimento dos padrões nacionais de emissões veiculares por veículos provenientes de outros municípios.
Seção III
Instrumentos Econômicos
Art. 30. O Poder Executivo poderá reduzir alíquotas de tributos ou promover renúncia fiscal para a consecução dos objetivos desta lei, mediante aprovação de lei específica.
Art. 31. O Poder Executivo definirá fatores de redução de Outorga Onerosa de Potencial Construtivo Adicional para empreendimentos que promovam o uso de energias renováveis, utilizem equipamentos, tecnologias ou medidas que resultem em redução significativa das emissões de gases de efeito estufa ou ampliem a capacidade de sua absorção ou armazenamento, a ser inserida no fator social constante da equação prevista no art. 213 do Plano Diretor Estratégico, com as alterações subseqüentes.
Art. 32. O Poder Executivo promoverá renegociação das dívidas tributárias de empreendimentos e ações que resultem em redução significativa das emissões de gases de efeito estufa ou ampliem a capacidade de sua absorção ou armazenamento conforme critérios e procedimentos a serem definidos em lei específica.
Art. 33. O Poder Executivo definirá fatores de redução dos impostos municipais incidentes sobre projetos de mitigação de emissões de gases de efeito estufa, em particular daqueles que utilizem o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), a fim de serem beneficiados pelo Mercado de Carbono decorrente do Protocolo de Quioto e de outros mercados similares, conforme critérios e procedimentos a serem definidos em lei específica.
Art. 34. O Poder Público estabelecerá compensação econômica, com vistas a desestimular as atividades com significativo potencial de emissão de gases de efeito estufa, cuja receita será destinada ao Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - FEMA, vinculada à execução de projetos de redução de emissão desses gases, sua absorção ou armazenamento, ou investimentos em novas tecnologias, educação, capacitação e pesquisa, conforme critérios e procedimentos a serem definidos em lei específica.
Art. 35. O Poder Público Municipal estabelecerá critérios e procedimentos para a elaboração de projetos de neutralização e compensação de carbono no território do Município.
Art. 36. O Poder Público Municipal estabelecerá, por lei específica, mecanismo de pagamento por serviços ambientais para proprietários de imóveis que promoverem a recuperação, manutenção, preservação ou conservação ambiental em suas propriedades, mediante a criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN ou atribuição de caráter de preservação permanente em parte da propriedade, destinadas à promoção dos objetivos desta lei.
§ 1º. A propriedade declarada, no todo ou em parte, de preservação ambiental ou Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN poderá receber incentivo da Administração Municipal, passível de utilização para pagamento de tributos municipais, lances em leilões de bens públicos municipais ou serviços prestados pela Prefeitura Municipal de São Paulo em sua propriedade.
§ 2º. O pagamento por serviços ambientais somente será disponibilizado ao proprietário ou legítimo possuidor após o primeiro ano em que a área tiver sido declarada como de preservação ambiental ou RPPN.
§ 3º. A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e outros órgãos municipais prestarão orientação técnica gratuita aos proprietários interessados em declarar terrenos localizados no Município de São Paulo como de preservação ambiental ou RPPN.
§ 4º. O proprietário ou legítimo possuidor que declarar terreno localizado no Município de São Paulo como de preservação ambiental ou RPPN terá prioridade na apreciação de projetos de restauro ou recuperação ambiental do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - FEMA.
Seção IV
Contratações Sustentáveis
Art. 37. As licitações e os contratos administrativos celebrados pelo Município de São Paulo deverão incorporar critérios ambientais nas especificações dos produtos e serviços, com ênfase particular aos objetivos desta lei.
Art. 38. O Poder Executivo, em articulação com entidades de pesquisa, divulgará critérios de avaliação da sustentabilidade de produtos e serviços.
Seção V
Educação, Comunicação e Disseminação
Art. 39. Cabe ao Poder Público Municipal, com a participação e colaboração da sociedade civil organizada, realizar programas e ações de educação ambiental, em linguagem acessível e compatível com diferentes públicos, com o fim de conscientizar a população sobre as causas e os impactos decorrentes da mudança do clima, enfocando, no mínimo, os seguintes aspectos:
I - causas e impactos da mudança do clima;
II - vulnerabilidades do Município e de sua população;
III - medidas de mitigação do efeito estufa;
IV - mercado de carbono.
Seção VI
Defesa Civil
Art. 40. O Poder Público Municipal adotará programa permanente de defesa civil e auxílio à população voltado à prevenção de danos, ajuda aos necessitados e reconstrução de áreas atingidas por eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas.
Art. 41. O Poder Público Municipal instalará sistema de previsão de eventos climáticos extremos e alerta rápido para atendimento das necessidades da população, em virtude das mudanças climáticas.
TÍTULO VI
ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Art. 42. Fica instituído o Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia, órgão colegiado e consultivo, com o objetivo de apoiar a implementação da política ora instituída, contando com a representação do Poder Público Municipal e Estadual, da sociedade civil, especialmente das entidades populares que atuam nas políticas ambientais e urbanas, do trabalhador, do setor empresarial e acadêmico.
TÍTULO VII
FUNDO ESPECIAL DO MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - FEMA
Art. 43. Os recursos do Fundo Especial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - FEMA, previsto na Lei nº 13.155, de 29 de junho de 2001, deverão ser empregados na implementação dos objetivos da política ora instituída, sem prejuízo das funções já estabelecidas pela referida lei.
TÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 44. Os projetos que proporcionem reduções de emissões líquidas e sujeitos ao licenciamento ambiental terão prioridade de apreciação, no âmbito do respectivo processo administrativo, pelo órgão ambiental competente.
Art. 45. O Poder Público Municipal deverá publicar o segundo inventário de emissões por fontes e de remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito estufa em seu território até o ano de 2010.
Art. 46. O inventário, inspeção, manutenção e controle das emissões de gases de efeito estufa e poluentes de motocicletas serão objeto de programa específico, a ser implementado a partir de 2009, para adequação da frota de motocicletas aos princípios e diretrizes desta lei, observada a legislação federal vigente.
Art. 47. O Poder Público Municipal estabelecerá, por lei específica, no prazo de 60 dias, as regras gerais de circulação, parada e estacionamento de ônibus fretados, bem como a definição de bolsões de estacionamento para este modal.
Parágrafo único. O Poder Executivo implementará as medidas de sua competência até a edição da lei específica de que trata o "caput" deste artigo.
Art. 48. Em consonância com as normas federais sobre a matéria, constitui diretriz ambiental do Município de São Paulo a utilização de óleo diesel com teor máximo de enxofre inferior a 50 ppm (cinqüenta partes por milhão), a partir de 2009, com vistas ao alcance da meta de redução para o nível de 10 ppm (dez partes por milhão), a partir de 2012.
Art. 49. O Poder Público Municipal implementará programa obrigatório de coleta seletiva de resíduos no Município, bem como promoverá a instalação de ecopontos, em cada um dos distritos da Cidade, no prazo de 2 (dois) anos a contar da entrada em vigor desta lei.
Art. 50. Os programas, contratos e autorizações municipais de transportes públicos devem considerar redução progressiva do uso de combustíveis fósseis, ficando adotada a meta progressiva de redução de, pelo menos, 10% (dez por cento) a cada ano, a partir de 2009 e a utilização, em 2018, de combustível renovável não-fóssil por todos os ônibus do sistema de transporte público do Município.
Parágrafo único. A meta e a prioridade previstas no "caput" deste artigo aplicam-se nas hipóteses de aquisição e locação de veículos utilizados no transporte e serviços do Poder Público Municipal, bem como na expansão e renovação de sua frota, ressalvados os casos de impossibilidade técnica, devidamente justificados.
Art. 51. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 5 de junho de 2009, 456º da fundação de São Paulo.
GILBERTO KASSAB, PREFEITO
Publicada na Secretaria do Governo Municipal, em 5 de junho de 2009.
CLOVIS DE BARROS CARVALHO, Secretário do Governo Municipal

IPCC

28/4/2014 - 11h23

O futuro de nosso planeta depende de 58 pessoas



por Roberto Savio, da IPS
RSavio0976 O futuro de nosso planeta depende de 58 pessoas
Roma, Itália, abril/2014 – Embora para muitos tenha passado inadvertidamente, o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) publicou, no dia 13 de abril, a terceira e última parte de um informe no qual adverte sem rodeios que temos apenas 15 anos para evitar ultrapassar a barreira de um aquecimento global de dois graus. Além disso, as consequências serão dramáticas.
Somente os mais míopes não tomam consciência do que se trata: aumento do nível do mar, furacões e tempestades mais frequentes e um impacto adverso na produção de alimentos.
Em um mundo normal e participativo, no qual 83% das pessoas que vivem hoje ainda existirão dentro de 15 anos, esse informe teria provocado uma reação dramática.
Entretanto, não houve um único comentário dos líderes dos 196 países nos quais habitam os 7,5 bilhões de “consumidores” do planeta.
Os antropólogos que estudam as semelhanças e diferenças entre os seres humanos e outros animais há um bom tempo chegaram à conclusão de que a humanidade não é superior em todos os aspectos.
Por exemplo, o ser humano é menos adaptável à sobrevivência do que muitos animais em casos de terremotos, furacões e outros desastres naturais. A esta altura, eles devem manifestar sintomas de alerta e mal-estar.
O primeiro volume desse informe do IPCC, divulgado em setembro de 2013 em Estocolmo, estabelece que os humanos são a causa principal do aquecimento global, enquanto a segunda parte, apresentada em Yokohama no dia 31 de março, afirma que “nas últimas décadas as mudanças climáticas causaram impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e em todos os oceanos”.
O IPCC é formado por mais de dois mil cientistas de todo o mundo e essa é a primeira vez que chega a firmes conclusões finais desde sua criação pelas Nações Unidas, em 1988. A principal conclusão é que, para deter a corrida rumo a um ponto sem volta, as emissões globais devem cair entre 40% e 70% antes de 2050.
O informe adverte que “só as grandes mudanças institucionais e tecnológicas darão uma oportunidade superior a 50%” para o aquecimento global não ultrapassar o limite de segurança, e acrescenta que as medidas devem começar, no mais tardar, em 15 anos, completando-se em 35.
Vale a pena assinalar que dois terços da humanidade têm menos de 21 anos e em grande parte são eles que terão que suportar os enormes custos da luta contra a mudança climática.
A principal recomendação do IPCC é muito simples: as principais economias devem fixar um imposto sobre a contaminação com dióxido de carbono, elevando o custo dos combustíveis fósseis, para impulsionar o mercado de fontes de energias limpas, como a eólica, solar ou nuclear.
Dez países são causadores de 70% do total da contaminação mundial de gases-estufa, sendo que Estados Unidos e China respondem por 55% desse total.
Ambos estão tomando medidas sérias para combater a contaminação.
O presidente norte-americano, Barack Obama, tentou em vão obter o beneplácito do Senado e teve que exercer sua autoridade sob a Lei de Ar Limpo de 1970 para reduzir a contaminação de carbono dos veículos e instalações industriais, estimulando as tecnologias limpas. Mas não pode fazer mais nada sem apoio do Senado.
O todo poderoso presidente da China, Xi Jinping, considera prioritário o ambiente, em parte porque fontes oficiais estimam em cinco milhões anuais o número de mortes nesse país em razão da contaminação.
Mas a China precisa de carvão para seu crescimento, e a postura de Xi é: “por que deveríamos frear nosso desenvolvimento, quando os países ricos que criaram o problema atual querem que tomemos medidas que atrasam nosso crescimento?”.
Dessa forma, cria-se um círculo vicioso. Os países do Sul querem que as nações ricas financiem seus custos de redução da contaminação e os do Norte querem que esses deixem de contaminar e assumam seus próprios custos.
Como resultado, o resumo do informe, que destina-se aos governantes, foi despojado das premissas que poderiam dar a entender a necessidade de o Sul fazer mais, enquanto os países ricos pressionaram para evitar uma linguagem que pudesse ser interpretada como a necessidade de eles assumirem as obrigações financeiras.
Isso deveria facilitar um compromisso brando na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Lima, onde se deveria alcançar um novo acordo global (lembremos o desastre da conferência de Copenhague, em 2009).
A chave de qualquer acordo está nas mãos dos Estados Unidos. O Congresso desse país bloqueia toda iniciativa sobre o controle climático, proporcionando uma saída fácil para China, Índia e o resto dos contaminadores: “por que devemos assumir compromissos e sacrifícios se os Estados Unidos não participam?”.
O problema é que os republicanos converteram a mudança climática em uma de suas bandeiras de identidade. A última vez que se propôs um imposto sobre o carbono, em 2009, depois de um voto positivo na Câmara de Representantes, controlada pelos democratas, o Senado, dominado pelos republicanos, o rejeitou.
Nas eleições de 2010, uma série de políticos que votaram a favor do imposto sobre carbono perderam suas cadeiras, o que contribuiu para que os republicanos assumissem o controle da Câmara.
Agora, a única esperança para os que querem uma mudança é aguardar as eleições de 2016 e esperar que o novo presidente norte-americano seja capaz de mudar a situação. Esse é um bom exemplo do que os gregos antigos diziam: que a esperança é a última deusa…
O quadro é muito simples. O Senado dos Estados Unidos tem cem integrantes, o que significa que bastam 51 votos para liquidar qualquer projeto de lei de imposto sobre os combustíveis fosseis.
Na China, a situação é diferente. Na melhor das hipóteses, as decisões são tomadas pelo Comitê Permanente do Comitê Central, formado por sete membros, que são o verdadeiro poder no Partido Comunista.
Em outras palavras, o futuro de nosso planeta é decidido por 58 pessoas de uma população de quase 7,7 bilhões de habitantes. Envolverde/IPS
Roberto Savio é fundador e presidente emérito da agência de notícias Inter Press Service (IPS) e editor do Other News.
(IPS) 

Bancos no futuro...

Economia
22/4/2014 - 10h10

E se os bancos entrarem em extinção?




por Kavin Maney*
economia1 E se os bancos entrarem em extinção?
Internet e novas tecnologias começam a abalar formas tradicionais de empréstimo e poupança. Haverá espaço para sistema financeiro alternativo?

A atividade bancária, na forma em que a conhecemos, está começando a parecer mais ultrapassada que uma impressora matricial.
Na China, os consumidores estão depositando suas poupanças em empresas de Internet, ao invés de bancos. Nas Filipinas, uma classe média emergente paga suas despesas utilizando-se de uma nova cepa de financiadores, baseados em redes sociais. Nos Estados Unidos, um terço dos integrantes da geração nascida a partir de 1980 dizem que esperam usar serviços financeiros baseados em tecnologia, ao invés de bancos. Ao mesmo tempo, 71% afirmam que “prefeririam ir ao dentista, ao que os bancos dizem”.
Greg McBride, analista sênior no Bankrate.com, teria dito, recentemente: “Podem me chamar de ultrapassado, mas para construir riquezas, poupar e investir, você precisará ser parte do sistema financeiro tradicional”. À luz dos fatos mais recentes, esta sentença soa como a de um pai dizendo aos filhos para evitar sexo antes do casamento.
Os bancos são, em essência, dados – montanhas de dados financeiros. Eles trabalharam intensamente, nas últimas décadas, para esvaziar suas próprias agências, por meio da tecnologia. Por isso, para muitos de seus clientes, eles não são mais uma entidade física. O dinheiro converteu-se em códigos trafegando em redes. A principal vantagem comparativa dos bancos são, hoje, as regulações que mantêm eventuais concorrentes afastados.
Mas mesmo estas regras não poderão proteger os banqueiros por muito tempo. O velho conceito de atividade bancária está sendo atacado por todos os lados, por instituições de novo tipo, que são mais hábeis no manejo de dados e os utilizam de forma mais imaginativa. Há anos, os bancos têm sido vistos, em teoria, como organizações prestes a ser superadas. Mas agora, parece claro como isso pode acontecer.
A superação pode ser disparada pela evolução tecnológica. Fenômenos assim ocorrem, às vezes, na forma de um colapso catastrófico provocado pela internet – como se deu com os CDs, após o advento da música digital. Mas os bancos podem viver uma experiência diferente – semelhante à lenta corrosão de uma casa infestada por cupins, que em certo ponto atingem, simultaneamente, diversas vigas de sustentação.
Um destes cupins pode ser o Lenddo. É uma empresa norte-americana que opera na Ásia, utilizando dados, para a atividade bancária, de uma forma que os bancos nunca considerariam. O insight da Lenddo é: os dados sobre quem você conhece, nas redes sociais, e sobre o que estas pessoas dizem de você, são mais precisos que a pontuação estabelecida pelos bancos para calcular se você pagará um empréstimo ou não.
“Por séculos, os empréstimos foram baseados em reputação”, diz Jeff Steward, o executivo-chefe da Lenddo. “As redes sociais permitem retornar a este princípio, agora em escala global”. Por enquanto, a Lenddo opera apenas nas Filipinas, México e Colômbia. Nestes países, surgiu uma classe média emergente que, no entanto, não tem acesso a empréstimos bancários. A Lenddo está oferecendo tais financiamentos com base em reputação social, desviando dos bancos uma geração de clientes.
A Lenddo não empresta nos EUA devido às regulações que favorecem o sistema bancário. “Atuamos nas Filipinas e fazemos empréstimos gastando menos do que custaria obter uma cotação de crédito no estado de Nova York”, diz Steward. Mas num mundo hiperconectado, as finanças são globais. Se a Lenddo e inciativas similares forem bem-sucedidas no mundo em desenvolvimento, isso não repercutirá nos próprios EUA e Europa, por exemplo?
Na China, empresas tecnológicas estão estabelecendo outro precedente. Há menos de um ano, a Alibaba, [maior empresa de comércio eletrônico do mundo], que tem centenas de milhões de usuários, começou a captar suas poupanças, oferecendo taxas de juros mais altas que as dos bancos chineses. Até fevereiro, 81 milhões de pessoas haviam aderido. Há pouco, o Baidu [um similar do Google, chinês], solicitou do governo licença para praticar atividades bancárias.
Por que uma empresa de internet entraria na atividade bancária? A resposta são dados! Nos bastidores, os executivos do Google e Facebook certamente estão observando Alibaba e Baidu, e sonhando em seguir seus exemplos. Nos EUA, apesar das regulações em favor dos bancos, estes estão sendo obrigados a enfrentar novas iniciativas, que os fustigam nas margens. Seis anos após a crise das hipotecas subprime, os grandes bancos ainda temem emprestar para pequenas empresas, o que cria um enorme contingente de sem-crédito. Isso abriu brecha para um novo tipo de emprestador, como o Dealstruck. Ele usa a internet para conectar gente com poupança disponível a donos de pequenos negócios que precisam de dinheiro. Estes emprestadores alternativos, baseados em tecnologia, estão crescendo muito rapidamente.
Há também as moedas virtuais. Ou o Bitcoin, ou outro sistema de transações digitais, irá explodir, em poucos anos. Exercerá, sobre as bandeiras de cartão de crédito, a mesma pressão que o Skype exerceu entre as empresas de telefonia de longa distância. Ao criar um modo mais simples e mais barato de pagamento, as transações digitais atrairão usuários dos cartões bancários e corroerão rendas vitais para o sistema.
À medida em que novas iniciativas oferecerem maneiras inovadoras de lidar com dinheiro, os bancos não poderão ser resgatados por suas relações com o público. A maior parte das pessoas não conhece melhor os caixas ou gerentes de banco do que conhece os operadores de pedágio. Ao operarem online, os bancos oferecem produtos não-diferenciados, cobram juros, impõem tarifas e fazem o favor de não deixar que nosso dinheiro seja roubado ou perdido.
A nova geração não despejará uma lágrima pelos bancos. Uma pesquisa de três anos, da Scratch – a mesma que comparou ir ao dentista com ouvir as instituições financeiras – concluiu que os nascidos entre 1981 e 2000 provocarão mudanças “sísmicas” na atividade bancária.
Mesmo a consultoria Accenture afirma que o futuro não parece luminoso para os bancos: “35% do mercado bancário nos EUA poderia ser abocanhado por outras iniciativas até 2020”, diz um relatório da empresa. Segundo ele, 15% do faturamento dos bancos tradicionais poderia migrar para empreendimentos baseados em tecnologia. Os grandes bancos, com todos os seus custos operacionais, pode não suportar os efeitos. Grandes estruturas precisam perder apenas uma ou duas vigas, antes de tremer e entrar em colapso.
Kevin Maney é jornalista e escritor norte-americano. Colabora com publicações como The Atlantic, Newsweek, Fortune e ABC News./ Tradução: Antonio Martins.
** Publicado originalmente no site Outras Palavras.