segunda-feira, 15 de abril de 2013

O triste fim da primeira árvore


14/04/2013 - 02h00

O triste fim da primeira árvore

CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO

http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1261548-o-triste-fim-da-primeira-arvore.shtml
"Dos filhos deste solo. És mãe gentil, pátria amada, Brasil", diz o hino de um país que eu vi nascer. Sou filha deste solo. Nasci sem ser planejada num terreno baldio que beirava a serra do Mar. Mas, hoje num terreno baldio e perigando tombar, ainda não tenho certeza de que minha pátria seja uma mãe gentil.
A começar que vi muita tristeza na minha vida -que tem mais de 200 anos mas ninguém sabe com precisão quando começou. Nasci no ponto exato onde terminava a cidade de S.Paulo e começava a estrada que levava para o interior ou para Santos.

Árvores de São Paulo

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Felipe Russo/Folhapress
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Figueira-brava (Ficus organensis) - estrada das Lágrimas, altura do número 515, Sacomã, zona sul de São Paulo
Era sob a minha sombra que soldados se despediam das esposas, mães dos filhos que iam se formar bachareis. Eram abraços, beijos e chororôs mil. Por isso me apelidaram Figueira das Lágrimas.
O viajante Emilio Zaluhar, no seu livro "Peregrinação pela Província de São Paulo", de 1862, já me pinta com palavras: "Pouco mais adiante do Ipiranga encontra-se uma belíssima figueira brava, cujos galhos bracejando em sanefas de verdura, formam um bonito dossel em toda a largura da estrada. É este o sítio das despedidas saudosas".
Mas era também o ponto dos retornos triunfais. Eu vi D. Pedro I voltando de Santos em 7 de setembro de 1822.
Só que os quase 200 anos entre a independência do país mudaram São Paulo muito. Estou bem longe de onde é o fim da cidade hoje. Fico num terreno baldio, na frente de uma oficina de motos e a poucos passos (de criança) de uma escola pública.
Ainda que cercada de casas, não recebo mais visitas. Ou quase: a motorista Yara Rodrigues Caldas, 57, passa quase todos os dias para me ver. Ela mora na mesma estrada das Lágrimas e vem me regar. "Até converso um pouco", confessa.
Outros vêm me ver. Pelas razões erradas: a placa de bronze que me identificava como parte da história nacional (e que eu considerava uma medalha de honra ao mérito) me foi roubada.
ÁRVORES DE SÃO PAULO
Veja o perfil de algumas das mais antigas
Ganhei, em compensação, uma vizinha no terreno baldio. É um pé de Ficus Benjamina,espécie de parente distante meu, que veio lá da Malásia.Só que, por estarmos perto demais, competimos por luz, água e nutrientes. Ela é jovem, deve ter uns 40 anos. E eu, no alto de dois séculos, tenho de competir para viver.
A prefeitura diz que vou bem. A quem pergunta, afirma que eu recebo "adubações orgânicas e mineral e irrigação complementar de acordo com o regime de chuvas". Para eles, tenho "bom aspecto e vigor vegetativo". Convido quem estiver lendo para ver esse viço todo, quase sem folhas e me apoiando sobre um muro que rui.
Não chorem. Ou, melhor, chorem sim, como vêm fazendo por alguns séculos, mas desta vez pela árvore em si, e não por algo embaixo dela.
Figueira-brava (Ficus organensis) - estrada das Lágrimas, altura do número 515, Sacomã, zona sul de São Paulo

Em busca do milagre energético


15/04/2013 - 03h00

Em busca do milagre energético


The New York Times
A Lockheed Martin tem um plano para transformar o sistema energético mundial: um tipo viável de fusão nuclear. Bill Gates e outro veterano da Microsoft, Nathan Myhrvold, já despejaram milhões de dólares em um reator de fissão que poderia funcionar à base de resíduos nucleares. A China aproveitou uma pesquisa descartada nos EUA para tentar desenvolver um reator mais seguro, baseado num elemento abundante chamado tório.

Muita gente inteligente está chegando à conclusão de que o problema energético será o maior desafio do século 21. Temos de fornecer energia e transporte a uma população que chegará a 10 bilhões de indivíduos, mas também precisamos limitar as emissões de dióxido de carbono (CO2) que ameaçam nosso futuro.
Muitos ambientalistas creem que as energias eólica e solar poderão ser ampliadas para atender à crescente demanda. Mas diversos analistas afirmam que as energias renováveis não poderão nos levar nem até a metade desse caminho.
Jovens brilhantes estão trabalhando para melhorar o armazenamento de eletricidade. Também já começaram a ser desenvolvidas tecnologias futuristas que possam retirar o CO2 da atmosfera de forma barata.
Mas, diante da premente necessidade de milhares de usinas geradoras de energia que funcionem noite e dia sem emitir CO2, muitos tecnólogos continuam revisitando as possibilidades de aperfeiçoamento da energia nuclear.
"Precisamos de milagres energéticos", declarou Gates três anos atrás, ao lançar sua iniciativa. Gates e Myhrvold planejam construir o chamado "reator de onda viajante". Em princípio, ele poderia operar de forma segura por meio século (ou mais) sem ser reabastecido e seria alimentado com resíduos perigosos das atuais usinas.
Esse método, como os dos reatores existentes, baseia-se na fissão, ou seja, na quebra de átomos pesados, usando a energia resultante para acionar turbinas elétricas.
A abordagem da Lockheed Martin envolve a fusão de variantes do hidrogênio em elementos mais pesados, uma reação semelhante àquela que mantém o Sol "aceso".
Em discurso neste ano, um dos líderes desse programa, Charles Chase, sugeriu que a meta é desenvolver reatores de fusão pequenos e modulares que possam ser montados em fábricas.
Entre as novas abordagens nucleares, os reatores de fissão à base de tório oferecem vantagens em termos de segurança. Os conceitos básicos foram provados em pesquisas da década de 1960 nos EUA, mas a ideia acabou abandonada.
Um engenheiro do Alabama, Kirk Sorensen, ajudou a resgatar esse trabalho e fundou uma empresa, a Flibe Energy, para levar isso adiante. Mas a China está à frente dos EUA nesse campo, com centenas de engenheiros desenvolvendo reatores de tório.
"Eles estão dando voltas na pista, e nós nem decidimos se vamos amarrar nosso tênis", afirmou Sorensen.
No entanto, mesmo que essas tecnologias funcionem, é possível que elas só sejam amplamente instaladas nas décadas de 2030 e 2040. Os climatologistas nos dizem que seria tolice esperar tanto tempo para começar a confrontar o problema das emissões.
As duas abordagens para a questão -gastar dinheiro na tecnologia atual ou investir em avanços futuros- são às vezes apresentadas como conflitantes. Mas os especialistas mais inteligentes dizem que temos de perseguir ambas, agressivamente.
Uma política climática ambiciosa por parte dos EUA, ancorada por um preço elevado sobre as emissões de CO2, atenderia simultaneamente aos dois objetivos, acelerando a tendência de substituição das usinas termoelétricas a carvão por usinas a gás natural e direcionando investimentos para as atuais tecnologias de baixa emissão de carbono, como a eólica e a solar.
Também haveria maior recompensa econômica para o desenvolvimento de novas tecnologias -reatores nucleares de nova geração, células solares melhoradas ou alguma coisa inteiramente imprevista.
Na prática, a política dos EUA é esperar por milagres energéticos, sem muito esforço para que eles aconteçam. Mas, certamente, nos sentiríamos bem melhor em relação ao futuro se o pleno poder criativo do capitalismo americano fosse liberado para o problema climático.