quarta-feira, 3 de abril de 2013

Bangalô dá lugar a casa de contêineres para abrigar família


Bangalô dá lugar a casa de contêineres para abrigar família


03/04/2013 - 08h32 
STEVEN KURUTZ
DO "NEW YORK TIMES", EM LOS ANGELES

Vista de fora, a casa de David e Dorothy parece ter dois contêineres elegantemente dispostos Leia mais


A casa de David e Dorothy Measer em Los Angeles não é nem um bangalô e nem um ninho de homem solteiro, mas nove anos atrás, quando os dois se conheceram, essa seria uma descrição aceitável.

Em 2003, David Measer, executivo de publicidade, pagou US$ 760 mil por uma casinha em um terreno de esquina no bairro de Venice. Ele tinha 33 anos, estava solteiro e queria morar em um lugar bacana, mas se viu "na casa mais feminina de todos os tempos".
"As paredes eram rosa, púrpura, lavanda. Havia rosas e hortênsias no jardim", conta.
Mesmo quando mandou pintar os cômodos de um tom cinzento, sua casa nova não parecia disposta a se tornar máscula. O sol que batia em determinados horários revelava o rosa por sob a tinta cinzenta.
Frustrado, ele convidou uma mulher, uma "especialista em iluminação" de que seus amigos tinham lhe falado, na esperança de que ela descobrisse como dar à casa um colorido másculo.
"Eu não tinha grande expectativa", conta Measer. "E quando abri a porta, lá estava Dorothy. Minha estrutura molecular inteira reagiu com força".
Dorothy Measer tinha 34 anos, então, e era proprietária do DK Design House, um escritório de decoração. Ela sentiu a mesma conexão. O sentimento foi confirmado quando eles se encontraram por acaso na rua, no mesmo dia, e uma vez mais em seu primeiro encontro romântico, naquela noite.
Casaram-se sete meses mais tarde, e tiveram um filho, Luca, em 2006, e uma filha, Phoebe, em 2009.
Mas o lugar que não havia funcionado bem como moradia de solteiro logo se tornou pequeno demais para uma família em expansão. Os Measer começaram, sem muito ânimo, a procurar uma casa nova, mas na realidade não queriam sair do bairro. Em lugar disso, recorreram à arquiteta da família para criar uma nova casa para eles no mesmo espaço.
Não há nada de bangalô na casa de 300 metros quadrados que Dorothy Measer projetou, com custo pouco inferior a US$ 3.000 o metro quadrado. Com suas amplas janelas e revestimento metalizado, a casa parece ser formada por dois elegantes contêineres de navegação empilhados.
Cercada por um muro baixo de concreto e ocupando quase todo o terreno (na diagonal, para aproveitar luz natural e o controle passivo do calor), a casa cria uma sensação de abertura para rua.
Nas palavras de David Measer, "Venice é uma área em que as pessoas constroem grandes cercas porque os terrenos são realmente pequenos. Mas nós queríamos muito um lugar que parecesse parte da comunidade".
O casal também queria evitar barreiras interiores, deixando de lado os aposentos quadrados com funções predeterminadas e optando por um grande cômodo no térreo para abrigar a cozinha, a área de estar e a de jantar.
No centro desse espaço fica o elemento que organiza o projeto, um objeto cilíndrico com 13 metros de circunferência, se estendendo do primeiro ao segundo piso. Ainda que pareça ser uma coluna estrutural, o objeto esconde a escada e a infraestrutura da casa (incluindo o encanamento, um lavabo, um closet e uma despensa, no térreo, e um segundo closet e equipamento audiovisual, no piso superior).
A monumental coluna --e a escada metálica que a divide ao meio, pintada de laranja metálico, foi inspirada pela infância de Dorothy Measer no oeste do Michigan, onde ela via grandes tanques da janela, na fábrica de alumínio anodizado que sua família operava.
"Eu desenhei a coluna propositadamente para que fosse possível sentir o poder do objeto no espaço", diz ela. "Cresci vendo beleza e me sentindo confortável naquele ambiente industrial".
Os interiores, especialmente no piso superior, são mais suaves e refletem a inspiração original do casal para construir a casa, diz David Measer. "Nosso objetivo era criar uma fusão de design moderno e industrial em um formato que as crianças amassem e onde pudessem brincar", diz ele, acrescentando que sua filha e filho, de três e seis anos, logo estariam andado de patinete em torno da grande coluna.
Alguns elementos do bangalô foram mantidos, como as gavetas e as peças reaproveitadas de velhos armários e de um forno. Mas casado e com dois filhos pequenos, a vida de David Measer é bem diferente da que imaginava ao comprar a casinha de esquina.
Perguntado sobre quanto tempo morou no bangalô mais feminino do mundo, ele respondeu rindo. "Algumas semanas", disse. "Talvez dois meses".
E ele não parecia ter saudades daqueles dias.
Tradução de PAULO MIGLIACCI