terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sustentabilidade: O futebol que vai além dos gramados

Sustentabilidade: O futebol que vai além dos gramados

28 de dezembro de 2013 · Opinião ·

Guga Miranda (*)
A última crônica! Mais uma das muitas mensagens de ouro deixada pelo ex-futebolista e ativista social Sócrates Brasileiro Sampaio, no site Carta Capital, onde sua preocupação era o mundial de 2014, “a nossa COPA”.
Neste Artigo, o Doutor mostra a sua preocupação com os “impactos ambientais” relacionados com o evento, como transporte, abastecimento, água, consumo de energia, e a gestão dos resíduos, “o lixo”.
Leia na íntegra a crônica do ex-futebolista que marcou uma geração dentro e fora dos campos.

2014 Verde
“Um evento como a Copa do Mundo provoca inúmeros impactos ambientais que deveriam estar entre as nossas maiores preocupações para 2014. Certamente teremos um aumento do tráfego de veículos nas cidades, maior suprimento de energia e água para os estádios e centros de imprensa, aumento da quantidade de lixo e da emissão de gás carbônico na atmosfera. Em transporte temos de diminuir o número de veículos que circulam diariamente e substituí-los por autocarros, metros e comboios. Aqui temos o primeiro grande gargalo na nossa infra-estrutura, já que o tempo e os recursos de que dispomos são ínfimos e estão dirigidos para a construção dos estádios.

Apesar de as discussões acerca do tema estarem entre as prioridades das cidades-sede, percebemos que somente algumas terão alguma melhora no sistema e, ainda assim, limitadas ao extremo e, por consequência, impedidas de atingir plenamente seus objetivos. Como transportar os milhares de jornalistas e turistas que aqui estarão para acompanhar o Mundial é uma equação sem solução até este momento, mesmo em cidades que possuem mais linhas de metro e comboios, como São Paulo e Rio de Janeiro. Estas encontram-se no limite da sua capacidade e muito pouco se poderá fazer até 2014. Sobram autocarros, cujos corredores e capacidade estão aquém das necessidades para eventos desse porte, além de serem antigos e poluentes. Isso sem contar com a frota extremamente inchada de veículos de passeio, que inviabiliza facilidades de locomoção dos colectivos. Até com mini-vans e táxis teremos problemas, pois os temos em número insuficiente para a demanda. Um verdadeiro colapso é o que se apresenta e, pior, ao contrário do que se espera, com aumento de emissão de gases de efeito estufa (será que pelo menos trocarão os filtros dos autocarros?).
O abastecimento de água e de energia nos estádios e centros de imprensa tem sido motivo de poucas discussões, como se fosse tema secundário. Pelo contrário, é fundamental para se evitarem desperdícios e emissão de gás e fuligem no caso de utilização de diesel para viabilizar a transmissão do evento. Como quase todos os estádios começaram suas obras, nada mais poderemos fazer além daquilo que foi planeado. Alguns terão plataformas de captação de calor para a geração de energia, mas me parece que não houve preocupação (nem no Nordeste) com a captação de água. Para consumo humano e cuidados com a relvas dos campos e com o entorno (caso exista algum estádio sem excesso de concreto). Para esse fim, a captação da água da chuva seria bastante interessante e correcta, particularmente onde não houver lençol freático. Lixo! Será que algum dos que possuem poder de decisão para o mundial pensou em como tratar e manipular o lixo produzido? Acredito que não. Esse tipo de material, na cabeça dos que se preocupam com futebol, é apenas um detalhe insignificante, com o qual não caberia a eles se preocuparem, e sim o poder público. Assim como todos os quesitos acima. Isto é, faço um evento gigantesco e nunca terei de ficar absorvido com as suas consequências. Por exemplo, será que eles já se preocuparam com detalhes da construção do centro de imprensa, com o tipo de material que será utilizado e para onde tudo aquilo vai após a sua utilização? Inclusive os cabos? Quilómetros devem ser usados e, certamente, para algum lugar irão. Serão reutilizados? Onde? Espero que não mofem em algum lugar, como os aparelhos de ar-condicionado do Pan-Americano do Rio, em 2007, que foram comprados em excesso e abandonados em qualquer lugar, até não servirem para mais nada.
Estas acima são algumas questões que por certo estão longe da lista de prioridades do tal comité organizador, que de tão organizado teve de mudar (?) o seu comando nos últimos dias. Imaginei que ele deveria ser dirigido por gente do Estado brasileiro, que coordenasse as inúmeras funções exercidas por diferentes fontes para endereçá-las ao mesmo ponto comum às vésperas do campeonato de futebol. Mas não: seu organograma passa ao largo do poder público e trata tudo como propriedade privada, sem compromisso algum com o povo brasileiro, que, no fim, é quem está a pagar a farra toda. Farra essa que pode jogar por terra todas as conquistas da última década, por absoluto distanciamento dos interesses nacionais. Uma inconsequência sem limites das instituições que delas deveriam cuidar.”
(*) Especializado em Comunicação Eco-Friendly – em Varginha Planner da Tupã Comunicação Associado a Green Street Media, London UK e fundador da Guli Sustainable Creative, Lisbon PT.